São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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CRISE NO RIO
Partidos da base de Garotinho não aceitam ex-collorido na direção da companhia de habitação
PT e PDT querem demissão de Cunha

da Sucursal do Rio


Depois da demissão, sábado, do secretário de Justiça Antônio Oliboni, dirigentes do PDT e do PT do Rio pressionaram ontem pela saída de Eduardo Cunha, presidente da Cehab (Companhia Estadual da Habitação), do governo de Anthony Garotinho (PDT).
Cunha, que pertenceu ao PRN do ex-presidente Fernando Collor de Mello, foi indicado para a Cehab pelo deputado federal Francisco Silva (PST), dono da rádio evangélica Melodia.
Ele é acusado de favorecer a empresa paranaense Grande Piso, do também ex-collorido Roberto Sass, em quatro licitações do conjunto Nova Sepetiba, o maior projeto habitacional do Estado. As obras do conjunto foram paralisadas pela Justiça depois que a Folha revelou, no mês passado, que não tinham licença ambiental.
No fim da tarde, o prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde (PFL), disse que Garotinho já estaria "tomando providências" e iria demitir Cunha. Mas a notícia não foi confirmada pela assessoria do governador.
O presidente da Cehab disse à Folha que não pretende pedir demissão. "Não está em meus planos", afirmou. "Mas o cargo pertence ao governador. Só ele é o juiz da minha permanência ou não." Cunha considera que está sendo alvo de "patrulhamento ideológico" e afirma ter provado, em relatório enviado a Garotinho, que todas as denúncias contra ele "são inconsistentes".
"O governador Anthony Garotinho errou quando chamou o presidente da Cehab para trabalhar com ele. Cunha tem um currículo incompatível com o governo pedetista. Uma pessoa que já trabalhou para Collor não poderia estar no PDT", disse o deputado federal pedetista Vivaldo Barbosa, ligado ao presidente nacional do partido, Leonel Brizola.
A mesma posição foi defendida por Carlos Lupi (PDT), secretário de Governo. "Ele (Cunha) deve sair para acabar com o constrangimento que está causando para o governo. Se Cunha não tomar a iniciativa de pedir para sair, Garotinho pode e deve demiti-lo, sob pena de ficar numa situação muito difícil", afirmou.
O deputado estadual Carlos Minc (PT) e William Campos, vice-presidente do diretório municipal petista -ambos da corrente Articulação, que ocupa três secretarias no governo estadual- também pediram a saída do presidente da Cehab.
"O governador deverá fazer uma faxina geral no governo para acabar com a corrupção, começando com a saída de Eduardo Cunha e Rafik Louzada (chefe da Polícia Civil)", disse Minc.
Outro ponto que vai contra o presidente da Cehab são suas relações com Jorge la Salvia, ex-procurador de Paulo César Farias. Como representante da empresa Caci, La Salvia ganhou duas licitações para prestar serviços de informática à Cehab -uma delas está agora sendo questionada judicialmente.
A saída de Antônio Oliboni, anunciada no início da noite de sábado, foi a primeira consequência concreta das denúncias que envolvem o primeiro escalão do governo do Rio. O ex-secretário de Justiça foi acusado de favorecer a empresa Brasal, única fornecedora de refeições aos presídios e delegacias do Estado.
Oliboni foi advogado da Brasal e, como subsecretário de Justiça, prorrogou duas vezes, ano passado, sem licitação, o contrato da empresa com o governo.
Como mostrou a Folha, a Brasal cobra R$ 8,90 por duas refeições servidas diariamente aos 15 mil presos do Estado, preço superior ao pago em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.
O Conselho Político do PDT se reúne hoje de manhã para discutir a questão. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) afirmou ontem que, se o governador não aceitar as propostas do partido, o PDT vai pedir desculpas à população e sair do governo.


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