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Crise tende a fazer classe C voltar à pobreza, diz FHC
Tucano está nos EUA para evento sobre Ruth Cardoso
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) afirmou ontem que haverá um retrocesso na tendência de migração da chamada
classe D/E para a C no Brasil
por conta da crise econômica.
Em sua opinião, quanto mais
longeva a crise, mais forte será
o retorno para a classe D/E de
parte dos 41 milhões de brasileiros que fizeram a travessia
para uma vida mais confortável
durante o governo Lula.
"Vai haver um retrocesso em
termos. Entre o pessoal atendido pelo Bolsa Família, não. Pois
continuará recebendo. As pessoas ligadas ao mercado é que
são o problema", disse em entrevista a jornalistas.
FHC está em Nova York participando de seminário na Universidade de Columbia em homenagem a sua mulher, Ruth
Cardoso (1930-2008). Um dos
temas centrais do encontro foram os trabalhos e pesquisas
conduzidos pela ex-primeira-dama em favelas e comunidades pobres brasileiras.
O seminário foi idealizado
pelo brasilianista e professor da
Columbia Albert Fishlow, e
pretende rever a obra acadêmica e política de Ruth Cardoso. A
homenagem reúne até hoje
cientistas sociais, ex-alunos da
antropóloga, políticos e membros da sociedade civil.
"Ruth sempre foi muito próxima desses estudos, dos movimentos sociais. Ela sempre foi
muito criativa e inovadora na
definição e no modo de abordar
esses temas, sobretudo nos
anos 1970 e 1980", disse FHC.
Ele afirmou que, até antes de
morrer, a mulher estava fazendo pesquisas em Cidade Tiradentes, distrito pobre paulistano. "Ruth dizia que a quantidade de "lan houses" que havia por
lá é incrível. Isso muda a política e deixa os partidos em posição complicada. Os partidos
eram a expressão de um grupo
social organizado. Hoje, como a
mobilidade social é enorme, as
classes não são estáveis. Os
eleitores agora se identificam
muito mais com o candidato,
não com o partido. É tendência
da sociedade contemporânea."
Em sua homenagem à mulher, FHC afirmou que ontem
foi a primeira vez que falou sobre Ruth com "calma". "Talvez
porque esteja falando em inglês. Pois o maior problema é a
sua ausência", disse.
No seminário, o governador
de São Paulo, José Serra , amigo
de longa data do casal Cardoso,
enfatizou que Ruth conseguiu,
por meio do conselho Comunidade Solidária, apaziguar o
conflito que existia entre o Estado e a sociedade civil. "Havia
a ideia de que o Estado estava
sempre errado e a sociedade civil, sempre certa." Para Serra,
Ruth conseguiu criar políticas
sociais, onde tanto iniciativas
de cima para baixo quanto de
baixo para cima conviveram e
tornaram-se efetivas.
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