São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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Alencar desiste de concorrer ao Senado

Tratamento contra câncer pesou na decisão; PT, que vive impasse em Minas com PMDB, pressionava pela desistência

Com anúncio, o vice, e não mais Sarney, irá assumir interinamente a Presidência na próxima semana, quando o presidente estará nos EUA


Sérgio Marques/Agência O Globo
O vice-presidente, José Alencar, ao anunciar que desistiu de concorrer à vaga no Senado em outubro e que irá cumprir o mandato

GABRIELA GUERREIRO
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente José Alencar (PRB) anunciou ontem sua decisão de não disputar as eleições de outubro para concluir o mandato ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A decisão agradou ao petista por dois motivos: abre espaço para uma composição entre PT e PMDB nas eleições em Minas Gerais e evita eventual desgaste para o governo porque o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), assumiria o cargo interinamente com a viagem de Lula aos EUA amanhã.
Alencar alegou que, por estar em tratamento de quimioterapia contra o câncer que enfrenta há mais de dez anos, não tem condições físicas de encarar uma campanha.
"Decidi não me candidatar a nada. Eu vou cumprir o meu mandato até o último dia, se Deus quiser, e descer a rampa da mesma forma que subi. Subi a rampa com ele [Lula], vou descer com ele. Ele também não se afastou, vamos juntos."
Antes de decidir que ficaria no governo, Alencar se reuniu com Lula, mas negou que ele tenha influenciado sua posição. O presidente, contudo, desejava que o vice desistisse de disputar as eleições e buscava uma forma de convencê-lo. Esbarrava na resistência de Alencar, que vinha manifestando seu desejo de concorrer ao Senado.
Lula trabalha para que o PT e o PMDB mineiro fechem um acordo. Ele prefere que o candidato ao governo do Estado seja o ex-ministro Hélio Costa (PMDB), com um petista disputando a eleição para o Senado. Essa estratégia não poderia ser colocada em prática se Alencar fosse candidato.
Com sua decisão de desistir da candidatura, José Alencar vai assumir o cargo de presidente interinamente amanhã, com a viagem de Lula. Se fosse candidato, ele não poderia ficar no lugar do presidente, pois ficaria inelegível.
Ao explicar sua desistência, o vice afirmou que não seria "honesto colocar o nome como candidato" em meio ao tratamento para não deixar os eleitores com dúvidas sobre sua saúde. Apesar de se sentir curado, disse que o tumor está em "processo de definhamento", mas ainda não desapareceu. Os apelos da família para deixar a vida política, segundo o vice, também pesaram na decisão.
Ele chegou a ser cotado para disputar o governo de Minas, mas queria disputar o Senado.

Base
O PT mineiro enfrenta disputa interna entre o ex-ministro Patrus Ananias e o ex-prefeito Fernando Pimentel, os dois pré-candidatos ao comando do Estado. Além da briga no PT, a base governista ainda tem a pré-candidatura do ex-ministro Hélio Costa (PMDB).
Agora, PT e PMDB devem fechar um acordo que consiste em escolher, no final de maio, quem será o cabeça de chapa e o candidato ao Senado. A proposta é fazer uma pesquisa de intenção de voto e definir como candidato a governador o que estiver mais bem colocado.
Alencar ironizou o movimento "Dilmasia", que prega a união da pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, com o governador mineiro Antônio Anastasia (PSDB), candidato tucano ao governo do Estado.
Alencar disse não acreditar que propostas "antagônicas historicamente" se unam numa disputa eleitoral. "Isso é nome de alguma doença?", ironizou. "Não tenho mais idade para estar pelejando com doença nova. Eu já tenho essas doenças antigas que estou brigando contra elas há quanto tempo?"
Alencar admitiu que, mesmo com a sua saída de cena, a base governista terá "dificuldades" para superar o impasse em Minas. Para ele, PT e PMDB têm que chegar a uma candidatura única para ganhar a disputa.


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