São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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IMPRENSA

"Hábitos sociais" do presidente não diferem dos da média dos brasileiros, diz nota

Planalto diz que "NYT" calunia Lula e faz "jornalismo marrom"

EDUARDO SCOLESE
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma reportagem publicada ontem pelo jornal norte-americano "The New York Times" sobre supostos excessos alcoólicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi classificada pelo Palácio do Planalto como "caluniosa", "da pior espécie de jornalismo, o marrom" e que apenas o "preconceito e a falta de ética" explicam a tentativa de colocar em dúvida a credibilidade do presidente.
De acordo com nota assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer, "o governo brasileiro recebeu com profunda indignação a reportagem caluniosa sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicada pelo jornal norte-americano "The New York Times". O correspondente dessa conceituada publicação no Brasil simplesmente inventou uma suposta "preocupação nacional" com hábitos do presidente da República para dar vazão a um amontoado de afirmações ofensivas e preconceituosas contra o chefe do Estado brasileiro, boa parte delas pinçadas em fontes obscuras e de nenhuma confiabilidade", diz a nota (leia íntegra).
Em sua edição de ontem, o "New York Times", o principal jornal dos Estados Unidos e um dos mais influentes do mundo, publicou reportagem com o título "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional". O texto é acompanhado por uma foto de Lula, do ano passado, bebendo cerveja na Oktoberfest.
"Os hábitos sociais do presidente são moderados e em nada diferem da média dos cidadãos brasileiros. Apenas o preconceito e a falta de ética podem explicar essa tentativa esdrúxula de colocar em dúvida o profundo compromisso com as instituições e a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", diz a nota de Singer.
Em princípio, o governo brasileiro buscará uma solução diplomática para o caso. Segundo a Presidência, o embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, já foi "orientado" a entrar em contato com a direção do jornal a fim de "transmitir a indignação e a surpresa do governo brasileiro pela veiculação de insultos gratuitos" ao presidente.
Uma ação judicial contra o jornal e o repórter Larry Rohter (um dos correspondentes do jornal no Brasil) não está descartada, mas só será considerada após o esgotamento da via diplomática.
Em seu texto, Rohter compara o suposto hábito de "tomar bebidas fortes" de Lula ao de Jânio Quadros (1917-1991) e diz que o presidente freqüentemente aparece em fotos com um copo na mão, com os olhos e as bochechas vermelhas, mas que poucas pessoas ousam expressar suas opiniões sobre esse assunto em público.
Ontem, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) disse, por meio de sua assessoria, que a reportagem poderia estar "a serviço de posturas de governos centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em questões internas e tentam impor visão unilateral sobre questões que, num mundo cada vez mais complexo, exige outra ótica de solução para os conflitos."
Para Gushiken, o repórter, por estar sediado no Rio de Janeiro, está "privado de uma observação pessoal e direta" acerca dos temas de Brasília. "Talvez, como é comum autoridades norte-americanas cometerem erros quanto à capital do Brasil, o jornal ainda não tenha dado conta de que desde 1960 a cidade do Rio de Janeiro deixou de ser a capital do país e seu principal centro irradiador da política brasileira", diz o ministro.
Segundo o presidente do PT, José Genoino, o governo deveria processar o jornal e o repórter. "Foi uma reportagem inventada da cabeça do repórter. Eu, que convivo há muitos anos com Lula, nunca vi nada que sustentasse essa reportagem", afirmou.
A Folha procurou o repórter Larry Rohter por email e telefone celular, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.



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