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IMPRENSA
"Hábitos sociais" do presidente não diferem dos da média dos brasileiros, diz nota
Planalto diz que "NYT" calunia Lula e faz "jornalismo marrom"
EDUARDO SCOLESE
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma reportagem publicada ontem pelo jornal norte-americano
"The New York Times" sobre supostos excessos alcoólicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
foi classificada pelo Palácio do
Planalto como "caluniosa", "da
pior espécie de jornalismo, o marrom" e que apenas o "preconceito
e a falta de ética" explicam a tentativa de colocar em dúvida a credibilidade do presidente.
De acordo com nota assinada
pelo porta-voz da Presidência,
André Singer, "o governo brasileiro recebeu com profunda indignação a reportagem caluniosa
sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicada pelo jornal
norte-americano "The New York
Times". O correspondente dessa
conceituada publicação no Brasil
simplesmente inventou uma suposta "preocupação nacional"
com hábitos do presidente da República para dar vazão a um
amontoado de afirmações ofensivas e preconceituosas contra o
chefe do Estado brasileiro, boa
parte delas pinçadas em fontes
obscuras e de nenhuma confiabilidade", diz a nota (leia íntegra).
Em sua edição de ontem, o
"New York Times", o principal
jornal dos Estados Unidos e um
dos mais influentes do mundo,
publicou reportagem com o título
"Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional". O texto é acompanhado por
uma foto de Lula, do ano passado,
bebendo cerveja na Oktoberfest.
"Os hábitos sociais do presidente são moderados e em nada diferem da média dos cidadãos brasileiros. Apenas o preconceito e a
falta de ética podem explicar essa
tentativa esdrúxula de colocar em
dúvida o profundo compromisso
com as instituições e a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva", diz a nota de Singer.
Em princípio, o governo brasileiro buscará uma solução diplomática para o caso. Segundo a
Presidência, o embaixador do
Brasil em Washington, Roberto
Abdenur, já foi "orientado" a entrar em contato com a direção do
jornal a fim de "transmitir a indignação e a surpresa do governo
brasileiro pela veiculação de insultos gratuitos" ao presidente.
Uma ação judicial contra o jornal e o repórter Larry Rohter (um
dos correspondentes do jornal no
Brasil) não está descartada, mas
só será considerada após o esgotamento da via diplomática.
Em seu texto, Rohter compara o
suposto hábito de "tomar bebidas
fortes" de Lula ao de Jânio Quadros (1917-1991) e diz que o presidente freqüentemente aparece
em fotos com um copo na mão,
com os olhos e as bochechas vermelhas, mas que poucas pessoas
ousam expressar suas opiniões
sobre esse assunto em público.
Ontem, o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação)
disse, por meio de sua assessoria,
que a reportagem poderia estar "a
serviço de posturas de governos
centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em
questões internas e tentam impor
visão unilateral sobre questões
que, num mundo cada vez mais
complexo, exige outra ótica de solução para os conflitos."
Para Gushiken, o repórter, por
estar sediado no Rio de Janeiro,
está "privado de uma observação
pessoal e direta" acerca dos temas
de Brasília. "Talvez, como é comum autoridades norte-americanas cometerem erros quanto à capital do Brasil, o jornal ainda não
tenha dado conta de que desde
1960 a cidade do Rio de Janeiro
deixou de ser a capital do país e
seu principal centro irradiador da
política brasileira", diz o ministro.
Segundo o presidente do PT, José Genoino, o governo deveria
processar o jornal e o repórter.
"Foi uma reportagem inventada
da cabeça do repórter. Eu, que
convivo há muitos anos com Lula,
nunca vi nada que sustentasse essa reportagem", afirmou.
A Folha procurou o repórter
Larry Rohter por email e telefone
celular, mas não obteve resposta
até o fechamento desta edição.
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