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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O PRESIDENTE
Petista admite ter passado por "dores e angústias", mas diz não ter perdido o entusiasmo e que seu governo prioriza os pobres
Lula diz em carta à CNBB que crise não o fez abandonar ideais
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA
Em uma referência às denúncias
de corrupção envolvendo o governo federal, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse ontem,
em carta enviada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), que "nenhuma crise política" fez com que abandonasse os
ideais de cumprir "compromissos que historicamente orientaram minha vida e que assumimos
com o povo brasileiro".
O presidente disse também que
não perdeu o "ânimo e o entusiasmo de trabalhar por esses ideais"
e que tem "certeza" de que a política de seu governo faz a opção
pelo "povo mais pobre".
O cardeal-arcebispo de São
Paulo, dom Cláudio Hummes, 71,
classificou a carta como "gentil e
positiva", mas disse que o partido
do presidente (PT), "que se dizia
defensor da ética", se envolveu
em uma "série de desvios, que
mostraram caso de corrupção".
"A igreja se preocupou muito
com as denúncias de corrupção
que atingiram o governo e também com o povo, que foi atingido
nas suas esperanças. O povo tinha
esperança e confiança e acreditava que isso não pudesse ocorrer.
Foi a última coisa que o povo esperava que pudesse ocorrer."
Dom Cláudio disse ainda que,
apesar da "decepção", o povo é
maior que estes "episódios brutais" de corrupção.
"Isso não significa que a corrupção tenha ocorrido só neste governo. Mas desta vez veio num
volume muito grande e o povo ficou decepcionado. Não podemos
desistir e dizer que não vale a pena
porque tudo isso é podridão. O
povo brasileiro é muito maior do
que estes episódios brutais."
A carta do presidente tem duas
páginas e chegou via fax na manhã de ontem durante a cerimônia de abertura da 44ª Assembléia
Geral da CNBB, no bairro de Itaici, em Indaiatuba (SP). A assembléia termina no próximo dia 17.
"Dores e alegrias"
A carta tem a data de anteontem. Em um dos trechos, Lula diz,
ao se dirigir ao presidente da
CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, que "se muitas foram as angústias e dores [em seu governo],
quero lhes assegurar que tem sido
muitas as alegrias e satisfações".
"A principal satisfação é justamente a certeza de que nosso povo mais pobre começa a experimentar os resultados de uma política que faz uma opção definida
por essa maioria de brasileiros. O
senhor pode ter a certeza, dom
Geraldo, que estes princípios e este ânimo estarão presentes, com a
graça de Deus, até o último dia
deste mandato", diz a carta.
O arcebispo de Porto Velho
(RO), dom Moacyr Grechi, disse
suspeitar que as CPIs estejam se
"tornando uma farsa". "Para
mim, essas CPIs estão se tornando uma farsa porque parece que
só querem aparecer e se repetir."
Para ele, "muita gente não aceita
que um homem do povo tenha se
tornado presidente e tenha índices de aprovação maior do que os
anteriores". O arcebispo de Blumenau (SC), dom Angélico Bernardino, disse que há no país
"muito mais corrupção do que se
imagina". "Existem muitos interesses econômicos e políticos por
trás das denúncias", afirmou.
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