São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O PRESIDENTE

Petista admite ter passado por "dores e angústias", mas diz não ter perdido o entusiasmo e que seu governo prioriza os pobres

Lula diz em carta à CNBB que crise não o fez abandonar ideais

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA

Em uma referência às denúncias de corrupção envolvendo o governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em carta enviada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que "nenhuma crise política" fez com que abandonasse os ideais de cumprir "compromissos que historicamente orientaram minha vida e que assumimos com o povo brasileiro".
O presidente disse também que não perdeu o "ânimo e o entusiasmo de trabalhar por esses ideais" e que tem "certeza" de que a política de seu governo faz a opção pelo "povo mais pobre".
O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, 71, classificou a carta como "gentil e positiva", mas disse que o partido do presidente (PT), "que se dizia defensor da ética", se envolveu em uma "série de desvios, que mostraram caso de corrupção".
"A igreja se preocupou muito com as denúncias de corrupção que atingiram o governo e também com o povo, que foi atingido nas suas esperanças. O povo tinha esperança e confiança e acreditava que isso não pudesse ocorrer. Foi a última coisa que o povo esperava que pudesse ocorrer."
Dom Cláudio disse ainda que, apesar da "decepção", o povo é maior que estes "episódios brutais" de corrupção.
"Isso não significa que a corrupção tenha ocorrido só neste governo. Mas desta vez veio num volume muito grande e o povo ficou decepcionado. Não podemos desistir e dizer que não vale a pena porque tudo isso é podridão. O povo brasileiro é muito maior do que estes episódios brutais."
A carta do presidente tem duas páginas e chegou via fax na manhã de ontem durante a cerimônia de abertura da 44ª Assembléia Geral da CNBB, no bairro de Itaici, em Indaiatuba (SP). A assembléia termina no próximo dia 17.

"Dores e alegrias"
A carta tem a data de anteontem. Em um dos trechos, Lula diz, ao se dirigir ao presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, que "se muitas foram as angústias e dores [em seu governo], quero lhes assegurar que tem sido muitas as alegrias e satisfações".
"A principal satisfação é justamente a certeza de que nosso povo mais pobre começa a experimentar os resultados de uma política que faz uma opção definida por essa maioria de brasileiros. O senhor pode ter a certeza, dom Geraldo, que estes princípios e este ânimo estarão presentes, com a graça de Deus, até o último dia deste mandato", diz a carta.
O arcebispo de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi, disse suspeitar que as CPIs estejam se "tornando uma farsa". "Para mim, essas CPIs estão se tornando uma farsa porque parece que só querem aparecer e se repetir."
Para ele, "muita gente não aceita que um homem do povo tenha se tornado presidente e tenha índices de aprovação maior do que os anteriores". O arcebispo de Blumenau (SC), dom Angélico Bernardino, disse que há no país "muito mais corrupção do que se imagina". "Existem muitos interesses econômicos e políticos por trás das denúncias", afirmou.


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