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A visita do papa/análise
Sucessor de Pedro Apóstolo
Papa Bento 16 ressalta seu papel como guardião da unidade da Igreja Católica
PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA
EM TRAJES imaculadamente brancos, à exceção dos sapatos vermelhos tradicionalmente utilizados pelo papa, Bento 16 recordou por duas vezes em seu primeiro pronunciamento, e em
outra posteriormente, no mosteiro de São Bento, que veio como "sucessor do apóstolo Pedro", o primeiro papa, indicado
por Jesus Cristo como o líder
da igreja, sua rocha de base e
sustentáculo.
Para os católicos, o papa é o
sucessor de São Pedro, o primeiro bispo de Roma, no governo da Igreja Católica Romana.
Destarte, é o guardião da unidade da Igreja Católica e exerce
autoridade sobre os fiéis; sua
palavra deve ser respeitada.
O anel do papa traz a imagem
do "pescador de homens": Pedro Apóstolo, Príncipe dos
Apóstolos (o papa, como indicam as iniciais). Considerado
pela Igreja Católica como o representante de Jesus Cristo na
terra (o que corrobora sua infalibilidade em questões vinculadas à fé), "o chefe (ou a cabeça)
visível de toda a igreja", Bento
16 fez um discurso marcado pelos advérbios que reforçam a
exortação da identidade católica e o papel do país como modelo para toda a região.
Saudou "fraternalmente os
irmãos de fé ("irmãos no senhor"), exortou o testemunho
de uma vida "autenticamente
cristã", anunciou uma conferência "essencialmente missionária" e afirmou sua convicção
de que os "valores radicalmente cristãos" da América Latina
não serão eliminados. Clara é a
ênfase na relevância da região.
Teólogo acostumado a atuar
nos bastidores, ao assumir o
papel de Santo Padre e de homem público não repetiu gestos que marcaram o pontificado anterior. Bento 16 não seguiu o costume de João Paulo
2º de beijar o solo da terra que
visitava (antes de a fragilidade
física o obrigar a abandonar o
gesto que marcou a maioria de
suas viagens e crianças passarem a levar-lhe a terra local numa bandeja). O papa atual não o
fez ontem e tampouco o fez em
outras ocasiões, mesmo em sua
terra natal, na Alemanha, durante a Jornada Mundial da Juventude, em Colônia.
Bento 16 conservou como papa os símbolos que utilizava enquanto cardeal, com algumas
poucas alterações.
Ao que parece a altura da barra de suas vestes foi levemente
erguida (cerca de três polegadas acima do tradicional, de
acordo com alguns observadores no Vaticano), o que possibilita uma visão clara de seus sapatos vermelhos.
Na tradição cristã, o vermelho representa o sangue derramado do sacrifício de Cristo e
dos mártires, além de amor fervoroso e vitorioso. O vermelho
nos sapatos do papa e nas vestes dos cardeais sugere disposição em morrer pela igreja. Pela
associação com a paixão de
Cristo, essa cor também marca
a Sexta-Feira Santa.
Com seus cabelos brancos
cobertos parcialmente pelo solidéu ("somente a Deus", em latim), o barrete portado em respeito e reconhecimento à superioridade de Deus, e os trajes
em branco (uma das cores mais
vinculadas ao sagrado) para
simbolizar a pureza e a perfeição, Joseph Ratzinger condenou qualquer ameaça à vida, de
sua concepção ao término natural (a rejeição se refere ao
aborto, à eutanásia e às pesquisas com embriões).
Seu brasão pessoal traz uma
grande concha que recorda a
lenda atribuída a Santo Agostinho, que, ao encontrar uma
criança na praia que tentava colocar toda a água do mar em um
buraco na areia com uma concha, compreendeu ser impossível entender o mistério de
Deus. Ademais, a concha é usada há séculos para representar
o peregrino. Os dois símbolos
laterais são da tradição bávara.
As chaves no brasão, uma de
ouro e a outra de prata, associam-se a São Pedro e simbolizam o poder espiritual e o poder temporal.
A heráldica eclesiástica reproduz as regras da civil para a
composição e a definição do escudo, embora posicione no entorno símbolos de insígnias de
caráter eclesiástico e religioso,
de acordo com os graus da ordem sacra, da jurisdição e da
dignidade. Como indica o núncio apostólico Andrea Cordero
di Montezemolo, nos últimos
oito séculos, os papas possuem
seu brasão pessoal, além dos
simbolismos próprios da Sé
Apostólica. Brasões papais aparecem, além da faixa, em publicações e decretos vários.
PAULO DANIEL FARAH é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo
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