São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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Garoto de milagre vira celebridade instantânea

Enzo, 7, nasceu após mãe tomar pílulas de frei Galvão

FÁBIO VICTOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se anjos existem e são como os pintaram os renascentistas, o menino Enzo de Almeida Gallafassi, 7 anos, bem poderia passar por um. Tem bochechas rosadas, cabelos claros (mas sem cachos) e olhos verdes.
A reforçar a imagem ainda há uma ocorrência tida como divina: ele é o fruto do segundo milagre atribuído ao frei Galvão, aquele que consumou a canonização do santo brasileiro.
A mãe de Enzo, Sandra Grossi de Almeida, 37, tem má-formação do útero e, antes de dar à luz, sofreu dois abortos espontâneos, um deles de gêmeos.
Tomou pílulas do frei Galvão durante a terceira gravidez, novamente atribulada e de alto risco. Enzo nasceu prematuro e com problemas pulmonares.
Hoje é saudável. Bastam alguns minutos de contato para, da aura sagrada, escapulir um garoto próximo do que mesmo católicos praticantes chamam candidamente de diabinho -irrequieto, esperto e sempre com respostas desconcertantes.
Alvo certo da mídia nesses dias carregados de religiosidade, o menino-milagre tem tido uma agenda cheia. Veículos de várias partes do mundo querem contar a sua história.
Para a mãe, essas aparições todas são como uma missão irrevogável: "Sei que minha família foi escolhida para representar um povo inteiro. Então, tenho o compromisso comigo mesma de mostrar meu caso".
Para o garoto, é um saco. Indagado sobre o que tem achado de tantas entrevistas, diz somente "chato", e logo sorri.
Quando o tema é futebol, Enzo conta que, além do Palmeiras, torce para a Itália, terra dos ancestrais dos pais. E por quê? "Porque o Brasil é ruim."
Está adiantado na escola. Cursa o terceiro ano do ensino fundamental (antiga segunda série) num colégio de classe média em Brasília, onde a família, paulistana, vive há quatro anos e meio. Ele se destaca numa turma de 25 alunos.
"O Enzo é superinteligente. Em matéria de domínio de assunto, é o primeiro de sua classe", comenta a professora Kênia Cristina de Queiroz.
O desafio é tentar tratar normalmente uma criança que, de repente, foi cercada de mesuras e holofotes. Após uma das primeiras aparições na TV, a classe o aplaudiu quando ele entrou no dia seguinte. Na última segunda, muitos o cumprimentaram pela reportagem exibida no "Fantástico" da véspera.
A professora diz que ele fica tímido. "Preparo a turma [para encarar com normalidade], e tento explicar, sem entrar em detalhes, por que é famoso."
Num terreno intangível mesmo para adultos, não é fácil. "No início, [os colegas] diziam coisas como "Enzo, que legal, você nasceu'", relembra Kênia.
A reportagem conversou com um aluno de turma de Enzo, que disse saber da maratona de entrevistas do colega, mas não soube responder o motivo. Informado pelo repórter, exclamou: "Sério? Que doido".
Todo o resto é normal. Enzo largou o piano e o judô; faz aulas de basquete e de futsal. Adora videogame, especialmente os jogos Need For Speed Underground 2 e Fifa-2007.
Ainda não fez a primeira comunhão. Os pais esperam que ele receba a hóstia inaugural de Bento 16 na missa de amanhã no Campo de Marte, quando frei Galvão será canonizado. "Vamos ver se vai dar certo", diz Sandra. De um coisa Enzo está convicto, caso fique cara a cara com o pontífice: o que gostaria de pedir a ele. "Um Hot Wheels", diz, citando a marca dos minicarrinhos de ferro. Aliás, mais um para sua coleção, que, diz ele, soma 132.


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