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"PF cometeu abusos na minha investigação", afirma Tuma Jr.
Secretário nacional de Justiça é acusado de ligação com a máfia chinesa em São Paulo
Tuma Jr. diz que objetivo não é investigá-lo, mas sim desmoralizá-lo e que é vítima do crime organizado
e de grande armação política
Fotos Eduardo Knapp/Folha Imagem
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O secretário Romeu Tuma Jr., durante a
entrevista à Folha, em que disse ser vítima de armação política e do crime organizado
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário nacional do Ministério da Justiça, Romeu Tuma Jr., diz que a investigação da
Polícia Federal que vinculou
seu nome ao de um suposto integrante da máfia chinesa cometeu abusos. "Não da PF, mas
de pessoas da PF. Fui investigado e chegou-se à conclusão que
eu não deveria ser denunciado.
O caso foi "arquivado", afirma.
Na investigação, a PF diz que
há suspeitas de que Tuma Jr.
ajudou o chinês naturalizado
brasileiro Paulo Li a regularizar
a situação de imigrantes ilegais
e interveio para liberar mercadoria apreendida.
Li, que foi assessor de Tuma
Jr. quando ele era deputado estadual, está preso desde setembro do ano passado. O secretário não foi acusado formalmente à época porque o Ministério
Público entendeu que não havia provas contra ele.
Em entrevista, Tuma Jr. diz
que o caso foi encerrado no ano
passado e voltou à tona por causa de seus ataques ao crime organizado. "O objetivo não é me
investigar, é me desmoralizar".
FOLHA - O sr. já comprou celular e
videogame contrabandeado, como
sugerem as conversas gravadas?
ROMEU TUMA JR. - Eu estava em
Viena e minha filha pediu para
eu comprar um Wii para minha
neta. Liguei para ela e disse que
o Wii custava caro, 350, quase
R$ 1.200. Ela me perguntou se
não seria melhor comprar no
Brasil. Liguei para o Paulinho.
Uma coisa que tem de ficar
clara é que eu tenho um amigo
que é chinês. Não sou amigo de
contrabandista. Se cometeu
crime, deixa de ser meu amigo.
Falei para o Paulinho: "Vê
quando custa um Wii na Paulista". Ele liga de volta: "Custa
R$ 950". Minha filha liga de
novo e diz que o namorado da
minha outra filha estava nos
EUA, onde o Wii custa US$
250. O jogo veio dos EUA.
FOLHA - E o celular?
TUMA JR. - Tenho esse celular
há três anos, quando fui para a
China. Só tem em Hong Kong.
Tem um amigo meu, diretor do
Corinthians, que ficou doente
com o telefone. O Paulinho me
liga: "Tá vindo um primo meu
de Hong Kong". Pedi para ele
comprar um telefone igualzinho ao meu. O cara trouxe o
preto, não dourado. O meu
amigo não quis e eu não comprei. Não é pirata. É um Motorola que só tem em Hong Kong.
FOLHA - Paulo Li é conhecido como
contrabandista há alguns anos. O
sr., que é delegado, não sabia disso?
TUMA JR. - Se for verdade, para
mim é uma decepção. Sou policial há mais de 30 anos e tenho
obrigação de conhecer quem
faz coisa errada. Nunca desconfiei, até porque ele vivia numa
situação difícil. Tinha um filho
que estava sem emprego e eu
arrumei emprego para ele no
Corinthians. Ele estava tirando
outro filho da escola porque estava sem dinheiro. Esse é o
grande líder do contrabando?
FOLHA - A polícia diz que o sr. ajudava Li a regularizar a situação de
chineses ilegais no Brasil.
TUMA JR. - Conheço o Paulinho
há 20 anos e tem uns quatro e-mails em que ele pede informação sobre estrangeiros. É minha obrigação como servidor
atender qualquer pessoa de
uma área sob minha responsabilidade. Ele, eventualmente,
pode ter pedido alguma coisa.
Mas se houve atendimento é
porque estava dentro da lei.
FOLHA - Mas Li é acusado de cobrar
comissão para fazer isso.
TUMA JR. - Houve uma disputa
muito grande sobre a data para
anistia dos imigrantes. Decidimos que seria 1º de novembro
de 2008. No Congresso, um deputado fez uma emenda colocando a data para 1º de fevereiro de 2009. Isso é um absurdo.
As pessoas iriam se aproveitar para colocar imigrantes no
Brasil. É criminoso. Um deputado havia montado um esquema com policiais federais na Liberdade e cobravam por atestado. Foi o Paulinho que denunciou esse esquema.
FOLHA - O sr. avisou a polícia?
TUMA JR. - Pedi um inquérito.
Foi um mês antes de o Paulinho
ser preso. É por isso que ele me
liga no dia da prisão. Tinha medo de que não fossem policiais,
mas pessoas dessa máfia.
FOLHA - Numa gravação, um assessor do sr. tenta liberar aparentemente uma carga apreendida.
TUMA JR. - É outro absurdo. Se
divulgassem a conversa inteira,
veriam que não é mercadoria.
São livros contábeis. Um empresário me liga e diz: "Veio um
fiscal na minha loja e pegou os
livros. Para devolver, ele quer
R$ 30 mil." Falei: "Vamos prender o cara". Pedi para um assessor descobrir quem era o delegado da Receita na região. O
empresário foi lá e denunciou.
Não cometi nenhum crime.
FOLHA - O sr. também é acusado
de tentar ajudar a família da deputada Haifa Madi, presa com US$ 123
mil no aeroporto de Cumbica.
TUMA JR. - Recebi dezenas de
telefonemas nesse caso, inclusive de pessoas do Judiciário.
Me perguntavam se podia sair
do Brasil com US$ 10 mil ou R$
10 mil. Eu não lembrava. Era
domingo. Liguei para um assessor e contei o caso. Quando
soube que eles tinham sido presos na sexta à noite, dois dias
antes, falei: "Então tá morto, tá
putrefato". O que eu queria dizer é: por que me ligam se as
pessoas já estão presas?
Como fazem divulgação seletiva e criminosa dos diálogos,
acham que estou dizendo que já
não dá para ganhar uma nota.
FOLHA - É normal um secretário da
Justiça ter esse tipo de conversa?
TUMA JR. - Sou servidor público
e tenho obrigação de atender as
pessoas. É natural que uma deputada ligue quando tem parentes presos. Isso não é crime.
FOLHA - Um assessor seu, Paulo
Guilherme Mello, é investigado sob
suspeita de ajudar a máfia chinesa.
Por que o sr. não o afastou do cargo?
TUMA JR. - Ele é um policial federal e não posso prejulgar uma
pessoa por uma investigação a
que eu não tive acesso.
FOLHA - O sr. sabe por que seu depoimento não está no inquérito?
TUMA JR. - Isso é muito grave.
Fui delegado de polícia e, se ouvisse uma pessoa num inquérito e não juntasse o depoimento,
estaria na rua. Isso é crime. Não
tive direito a defesa.
FOLHA - O sr. acha que essa investigação da PF cometeu abusos?
TUMA JR. - Do jeito que essa investigação está sendo tratada, é
um abuso. Não da PF, mas de
algumas pessoas da PF. Fui investigado e chegou-se à conclusão que não deveria ser denunciado. O caso foi arquivado.
FOLHA - Por que uma investigação
de setembro veio à tona agora?
TUMA JR. - Estou sendo vítima
do crime organizado e de uma
armação política muito grande.
Com a política que implantamos no ministério, virei símbolo do combate à lavagem de dinheiro, da cooperação internacional. Quando fui para a Comissão de Pirataria, é evidente
que isso criou um desconforto.
O objetivo não é me investigar, é desmoralizar. O crime organizado age assim: mata testemunhas e desmoraliza os chefes da investigação.
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