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Entrevista da 2ª
Educador responsabiliza pais e escolas por delinquência
Política de juventude não é um "pot-
pourri' de atividades na agenda dos
jovens, que é a estratégia da classe média
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
O combate à violência juvenil e à
violência na escola depende da
mudança da visão que os pais, a escola e o governo têm do adolescente e da maneira como se relacionam com ele. Em vez de ser tratado
como um objeto de ações e políticas, o adolescente tem de ser incorporado como um agente delas, de
modo que possa praticar valores
de cidadania.
Assim, para o educador Antonio
Carlos Gomes da Costa, a atual onda de violência nas escolas brasileira, sobretudo paulistas, está relacionada à falta de uma política para a juventude.
Especializado em pedagogia terapêutica, Costa considera que são
necessários três tipos de ações para
atender às necessidades do adolescente contemporâneo. Elas envolvem os pais, as escolas e políticas e
programas para ocupar o tempo livre dos jovens.
O educador diz que não basta
preencher a agenda das crianças e
adolescentes, como costumam fazer os pais de classe média, para
que os filhos se mantenham ocupados. O fundamental, diz ele, é
que nas atividades o jovem possa
atuar como protagonista em atividades que lhe permitam desenvolver uma identidade e um projeto
de vida.
Leia, abaixo, a entrevista que ele
concedeu à Folha.
Folha - Nos últimos dois meses,
houve uma série de casos de violência nas escolas paulistas. É um
problema que está se intensificando ou sempre foi assim e só agora
estamos nos dando conta?
Antonio Carlos Gomes da Costa
-O quadro de violência nas escolas
brasileiras vem evoluindo e se
agravando, mas dizer que agora
estamos vivendo uma explosão
seria, a meu ver, errôneo. Porque,
de repente, o que está acontecendo é que a mídia está dando mais
visibilidade a esse assunto depois
da tragédia que aconteceu nos Estados Unidos. Ou seja, estamos
vendo a violência de nossos jovens de maneira reflexa.
Folha - O sr. considera que a
ocorrência de violência entre jovens está ligada à ausência de políticas para a juventude?
Costa - O Brasil desenvolveu
ações setoriais ao longo do século,
como o sistema de ensino, o sistema de profissionalização, mas não
desenvolveu políticas de tempo livre para a juventude. Principalmente os jovens das classes pobres
ficaram entregues a si mesmos.
Se você olha a agenda de um jovem da classe média, ele tem oportunidade de aprender línguas, fazer judô, natação, aprender informática. A juventude popular urbana, protagonista nessa questão, recebeu poucas oportunidades educacionais, poucas oportunidades
de profissionalização e nenhuma
oportunidade de ocupação construtiva do tempo livre.
Folha - Mas ocorrem casos de violência nas escolas de classe média,
inclusive nas particulares. Há casos
de alunos que se reúnem em gangues para se proteger das pessoas
que consideram inimigas. Será que
o problema está só na ocupação
do tempo livre?
Costa - Eu falei em ocupação
construtiva do tempo livre. O que
acontece com esses jovens que formam gangues? Eles formaram
uma cultura. Os jovens estão organizados dentro de certos imaginários a respeito de si mesmos porque a tarefa socioexistencial da
adolescência é construir a sua
identidade e o seu projeto de vida.
Normalmente, quando os jovens
ainda não estão preparados para
essa tarefa, eles entram nas culturas juvenis, que propiciam a eles
uma identidade provisória.
Talvez o ponto central é, quando
se fala em política de juventude,
que não seja só um "pot-pourri" de
atividades na agenda do jovens,
que é a estratégia da classe média.
Ela cria um monte de coisas que é
uma estratégia um pouco desfocada das questões centrais.
Como seria a ocupação criativa
do tempo do jovem nesse contexto? Uma primeira coisa seria a educação para valores. Outro dado
fundamental é que os adultos estão
querendo dar habilidades para os
jovens ingressarem no mundo do
trabalho, mas o que os jovens estão
precisando é de uma nova "cultura
da trabalhabilidade".
O que é isso? É o jovem saber enxergar esse mundo para conseguir
se inserir nele de variadas maneiras. O emprego é apenas uma delas. Existe o trabalho associativo,
cooperativo, o auto-emprego.
Existem muitas formas de entrar
no mercado de trabalho que não o
emprego.
O terceiro componente dessa política é o tempo que o jovem tem
para si. O tempo livre tem de ser
ocupado pela educação para valores que, na prática do jovem, se traduzem pelo protagonismo juvenil,
educação para cidadania na prática. Isso significa ver o jovem como
solução e não como um problema.
A grande dificuldade desse momento é que estamos vendo os jovens como problema e não como
solução. E uma sociedade que encara sua juventude como um peso,
um problema e não como solução
tem alguma coisa errada.
Folha - De que forma a escola e a
família podem solucionar isso?
Costa - Para dar uma resposta ao
jovem, a gente precisa de três educadores, e cada um tem de assumir
a sua incompletude. É um tripé
formado pela família, escola e uma
educação social. Esta última é muito importante porque ela vai trabalhar o tempo livre. Tanto a família
quanto a escola e os programas sociais têm de apresentar novas pautas para o jovem. O modelo que
nós temos está ficando caduco.
A educação social, a educação familiar e a educação social da etapa
anterior não servem mais. Os educadores estão muito preocupados
com a questão dos limites. Os jovens não só necessitam como reivindicam limites, mas eles não podem mais ser estabelecidos sem a
participação dos jovens. Antes, você pré-estruturava e enquadrava
os jovens nos limites. Agora não.
Toda vez que se vê uma escola
que conseguiu romper com o problema da violência, você vai lá e o
que vê? Eles abriram espaço para
os alunos usarem. Por exemplo,
deixam os estudantes pintarem
um muro como bem entendem.
Um segundo ponto é a capacidade
de relação com a comunidade e
com as famílias. Quando uma escola consegue se relacionar com a
comunidade, com as famílias e
quando estabelece outra relação
com eles resulta em experiências
que dão certo. É um padrão que se
repete em casos de escolas degradadas que são transformadas em
comunidades educativas.
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