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IGREJA
Entidade envia carta aos 513 deputados federais dizendo que união de homossexuais é "antinatural"
CNBB faz lobby contra parceria gay
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Igreja Católica decidiu intensificar a campanha contra a aprovação do projeto de lei de parceria
civil entre homossexuais.
O projeto, que garante direitos
de herança e previdência a casais
do mesmo sexo, foi incluído no
mês passado na pauta da Câmara
dos Deputados pelo presidente da
Casa, Aécio Neves (PSDB-MG), e
está pronto para ir a votação.
Em reação, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)
enviou a todos os 513 deputados
uma carta em que fala do "perigo"
de uniões "antinaturais".
A carta, de 9 de maio, é assinada
pelo secretário-geral da CNBB, d.
Raymundo Damasceno Assis, e
pelo bispo responsável pelo setor
Família e Vida da entidade, d.
Aloysio José Leal Penna. "O que o
projeto pretende é dar legitimidade a uniões antinaturais, de pessoas do mesmo sexo", diz a carta.
O projeto de parceria civil entre
homossexuais, número 1.151/95, é
de autoria da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), que o
apresentou quando deputada, em
1995. O projeto recebeu substitutivo do deputado federal Roberto
Jefferson (PTB-RJ).
Chamado pejorativamente de
"casamento gay" por seus opositores, o projeto prevê a possibilidade de recebimento de herança,
pensão e direitos previdenciários
por um homossexual no caso de
morte de seu companheiro.
Ele não contempla a oficialização de "casamento" nem a possibilidade de um casal homossexual
adotar filhos. A CNBB, no entanto, não acredita nas ressalvas.
"É ilusório arguir que tal parceria não teria o mesmo status do
casamento, que os parceiros não
teriam direito à adoção e que apenas estaria protegido o seu patrimônio comum", diz a carta.
Em outro trecho, a entidade
eclesiástica diz que o assunto é
"grave".
"A indiferença nesse aspecto se
assemelha a uma apatia perante a
vida ou a morte da sociedade."
Um dos mais atuantes opositores do projeto, o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, presidente do
grupo Pró-Vida, de Anápolis
(GO), afirma que a Igreja está apenas "defendendo a Constituição".
"A Constituição prevê a defesa
da família. Com essa carta, estamos reiterando nossa posição pela defesa da inviolabilidade da vida e da família", diz ele.
O projeto já esteve pronto para
ser votado outras vezes, mas seus
proponentes acabaram recuando
por avaliar que o risco de derrota
era muito grande.
Agora, Jefferson está confiante
de que poderá levá-lo a votação
até o fim do mês.
"Claro que a pressão da Igreja
Católica tem impacto sobre deputados indecisos, mas creio que o
ambiente atualmente na Casa é
favorável ao projeto, que trata
unicamente de direitos humanos", diz o deputado.
É preciso conseguir maioria
simples na Câmara e em seguida
no Senado para assegurar a aprovação do projeto.
"O Brasil não pode tratar os homossexuais como cidadãos de segunda classe", declara o deputado
Jefferson.
O presidente da Associação da
Parada do Orgulho Gay de São
Paulo, Roberto de Jesus, diz que a
carta da Igreja "acaba alimentando um sentimento hostil contra
os homossexuais".
"A Igreja, sempre que se intromete em áreas que não de sua especialidade, acaba tendo comportamento desastroso", diz.
Os homossexuais prometem
responder à ofensiva da CNBB na
Marcha do Orgulho Gay, programada para 17 de junho em São
Paulo, em que o tema será exaustivamente abordado.
"Vamos reagir à altura", declara
Roberto de Jesus.
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