São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Segundo a Polícia Federal, dois deles confirmaram ter gravado vídeo que mostra o pagamento de R$ 3.000 a Maurício Marinho

PF prende suspeitos de gravar fita da propina

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA


A Polícia Federal prendeu ontem quatro pessoas suspeitas de serem mandantes e autoras da gravação em vídeo que revelou a existência de um suposto esquema de corrupção nos Correios. A operação da PF ocorreu 26 dias depois que as suspeitas sobre corrupção na estatal foram reveladas.
O capitão da reserva da Polícia Militar José Fortuna Neves foi preso em Brasília. No Rio, a PF prendeu Arlindo Molina. Joel Santos Filho e João Carlos Mancuso Vilela estavam em Curitiba (PR). Os dois últimos confirmaram à PF que são os autores da gravação na qual o servidor Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, foi flagrado recebendo uma suposta propina de R$ 3.000.
Na gravação, revelada pela revista "Veja" em 14 de maio, Marinho diz que o padrinho político do suposto esquema de corrupção é o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Jefferson afirma que foi procurado por Arlindo Molina no dia 3 de maio, que queria "fazer negócio com uma fita". Jefferson teria expulsado Molina do gabinete.
Ao mesmo tempo em que prendia os quatro investigados, a PF cumpriu, em suas residências e escritórios em Curitiba, Brasília e Rio, 19 mandados de busca e apreensão. No entendimento da PF e do Ministério Público Federal, chegar aos responsáveis pela gravação é o caminho mais rápido para decifrar os interesses políticos e empresariais que influíam na administração dos Correios.
"Não se está prendendo porque gravaram. Se a pessoa tem conexão com uma rede de desvio de verba em licitações, com empresas, tudo isso tem que ser apurado", disse a procuradora Raquel Branquinho, dando sua justificativa para o pedido de prisão.
Também pedida à Justiça, a prisão de Marinho foi negada. Ele foi indiciado pela PF por corrupção passiva e fraude a licitações.

Fortuna e Molina
Preso em sua casa, em Brasília, Fortuna negou, em depoimento à PF, qualquer envolvimento com a gravação. "O deputado Roberto Jefferson vem acusando a tudo e a todos. Talvez a tática seja essa: confundir a mídia, as autoridades que investigam e os próprios aliados para que não se chegue a lugar nenhum", disse Reginaldo Bacci, advogado de Fortuna.
O nome do capitão surgiu na investigação porque Jefferson disse ter sido vítima de tentativa de extorsão de Molina, que dizia falar em nome de Fortuna. Em entrevista, Bacci afirmou que, no depoimento à PF, seu cliente disse crer que foi envolvido no caso porque superestimaram sua influência nos Correios -ele representa empresas interessadas em fornecer para a estatal. Segundo ele, Fortuna não quer o relaxamento da prisão temporária, para colaborar com as investigações.
No Rio, além da prisão de Molina, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da empresa e em escritórios dele e no apartamento do dono da corretora Assurê, Henrique Brandão, citado em casos que envolvem outras estatais. Molina foi levado, com o material apreendido, para a PF em Brasília. Teve a prisão temporária decretada por cinco dias, renovável por mais cinco.
Na casa de Brandão, os investigadores apreenderam seu computador, um computador portátil de sua filha e fitas de vídeo. Na Assurê, foram apreendidos três computadores, documentos. Os discos rígidos foram copiados.
Édson Ribeiro, advogado de Brandão, disse que a operação na Assurê foi ilegal. Disse que não há nenhum inquérito contra seu cliente, que ele está à disposição para esclarecimentos e aceita abrir mão de seu sigilo bancário.
A Polícia Federal chegou aos dois supostos empresários -Joel Santos Filho e Vilela- por meio de imagens no sistema de segurança dos Correios.
Segundo o delegado da PF Luis Fernando Zampronha, Marinho não informou os dias certos em que recebeu os supostos empresários, que se apresentaram como Goldman e Vítor. Os policiais não permitiram o acesso da imprensa aos presos, e os delegados se recusaram a dar entrevistas. A PF não informou se tinham advogado.
A Folha tentou entrar em contato com familiares de Vilela, mas ninguém ligou de volta. A reportagem tentou localizar o telefone do escritório de advocacia de Joel Santos Filho, em Curitiba, mas foi informada de que ele teve sua licença suspensa, fato confirmado pelo Tribunal de Ética da OAB.
(ANDRÉA MICHAEL, JOSÉ MESSIAS XAVIER E DIMITRI DO VALLE)

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