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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Segundo a Polícia Federal, dois deles confirmaram ter gravado vídeo que mostra o pagamento de R$ 3.000 a Maurício Marinho
PF prende suspeitos de gravar fita da propina
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal prendeu ontem quatro pessoas suspeitas de
serem mandantes e autoras da
gravação em vídeo que revelou a
existência de um suposto esquema de corrupção nos Correios. A
operação da PF ocorreu 26 dias
depois que as suspeitas sobre corrupção na estatal foram reveladas.
O capitão da reserva da Polícia
Militar José Fortuna Neves foi
preso em Brasília. No Rio, a PF
prendeu Arlindo Molina. Joel
Santos Filho e João Carlos Mancuso Vilela estavam em Curitiba
(PR). Os dois últimos confirmaram à PF que são os autores da
gravação na qual o servidor Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, foi flagrado recebendo uma
suposta propina de R$ 3.000.
Na gravação, revelada pela revista "Veja" em 14 de maio, Marinho diz que o padrinho político
do suposto esquema de corrupção é o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Jefferson afirma que foi procurado
por Arlindo Molina no dia 3 de
maio, que queria "fazer negócio
com uma fita". Jefferson teria expulsado Molina do gabinete.
Ao mesmo tempo em que prendia os quatro investigados, a PF
cumpriu, em suas residências e
escritórios em Curitiba, Brasília e
Rio, 19 mandados de busca e
apreensão. No entendimento da
PF e do Ministério Público Federal, chegar aos responsáveis pela
gravação é o caminho mais rápido para decifrar os interesses políticos e empresariais que influíam
na administração dos Correios.
"Não se está prendendo porque
gravaram. Se a pessoa tem conexão com uma rede de desvio de
verba em licitações, com empresas, tudo isso tem que ser apurado", disse a procuradora Raquel
Branquinho, dando sua justificativa para o pedido de prisão.
Também pedida à Justiça, a prisão de Marinho foi negada. Ele foi
indiciado pela PF por corrupção
passiva e fraude a licitações.
Fortuna e Molina
Preso em sua casa, em Brasília,
Fortuna negou, em depoimento à
PF, qualquer envolvimento com a
gravação. "O deputado Roberto
Jefferson vem acusando a tudo e a
todos. Talvez a tática seja essa:
confundir a mídia, as autoridades
que investigam e os próprios aliados para que não se chegue a lugar nenhum", disse Reginaldo
Bacci, advogado de Fortuna.
O nome do capitão surgiu na investigação porque Jefferson disse
ter sido vítima de tentativa de extorsão de Molina, que dizia falar
em nome de Fortuna. Em entrevista, Bacci afirmou que, no depoimento à PF, seu cliente disse
crer que foi envolvido no caso
porque superestimaram sua influência nos Correios -ele representa empresas interessadas em
fornecer para a estatal. Segundo
ele, Fortuna não quer o relaxamento da prisão temporária, para
colaborar com as investigações.
No Rio, além da prisão de Molina, a PF cumpriu mandados de
busca e apreensão na sede da empresa e em escritórios dele e no
apartamento do dono da corretora Assurê, Henrique Brandão, citado em casos que envolvem outras estatais. Molina foi levado,
com o material apreendido, para
a PF em Brasília. Teve a prisão
temporária decretada por cinco
dias, renovável por mais cinco.
Na casa de Brandão, os investigadores apreenderam seu computador, um computador portátil
de sua filha e fitas de vídeo. Na Assurê, foram apreendidos três
computadores, documentos. Os
discos rígidos foram copiados.
Édson Ribeiro, advogado de
Brandão, disse que a operação na
Assurê foi ilegal. Disse que não há
nenhum inquérito contra seu
cliente, que ele está à disposição
para esclarecimentos e aceita
abrir mão de seu sigilo bancário.
A Polícia Federal chegou aos
dois supostos empresários -Joel
Santos Filho e Vilela- por meio
de imagens no sistema de segurança dos Correios.
Segundo o delegado da PF Luis
Fernando Zampronha, Marinho
não informou os dias certos em
que recebeu os supostos empresários, que se apresentaram como
Goldman e Vítor. Os policiais não
permitiram o acesso da imprensa
aos presos, e os delegados se recusaram a dar entrevistas. A PF não
informou se tinham advogado.
A Folha tentou entrar em contato com familiares de Vilela, mas
ninguém ligou de volta. A reportagem tentou localizar o telefone
do escritório de advocacia de Joel
Santos Filho, em Curitiba, mas foi
informada de que ele teve sua licença suspensa, fato confirmado
pelo Tribunal de Ética da OAB.
(ANDRÉA MICHAEL, JOSÉ MESSIAS XAVIER E DIMITRI DO VALLE)
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