São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Juíza manda liberar 540 presos durante invasão da Câmara

Outros 42 integrantes do MLST continuarão presos, entre eles, o principal líder do movimento, Bruno Maranhão

Procurador da República faz pedido de soltura, alegando que prisão de maioria de militantes é "insustentável", pois não há formalização


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A juíza Maria de Fátima Costa, da 10ª Vara Criminal da Justiça Federal em Brasília, acolheu ontem solicitação do Ministério Público Federal e decretou que 540 militantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), detidos na última terça-feira durante a invasão e depredação da Câmara dos Deputados, fossem soltos.
Somente 42 manifestantes que participaram dos atos de vandalismo continuarão presos no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
Às 17h30, a Polícia Federal, que assumiu as investigações sobre o caso, encaminhou um ofício com a ordem de soltura à Papuda. A expectativa era de que os militantes fossem liberados ontem à noite, o que não havia acontecido até a conclusão desta edição.
Entre os que continuarão detidos estão Bruno Maranhão, principal líder do MLST, Arildo Joel da Silva, identificado como tendo atirado uma pedra em um segurança da Câmara, e Francielle Denizia Asencio, a jovem que depredou terminais de computadores do Congresso durante a invasão.
O procurador da República Valtan Furtado chamou a invasão de terça de "manifestação multitudinária violenta". Ele argumentou à Justiça Federal que a manutenção da maior parte dos militantes na prisão era "insustentável", já que a formalização das prisões ainda não havia sido feita, mais de 48 horas depois do ocorrido.
Também disse que, fora os 42 sem-terra indicados pela PF, não havia contra os outros "maiores elementos indicativos que possam apontar a prática de um ou mais crimes". Furtado ressaltou que a partir da qualificação e registro fotográfico desses presos que seriam liberados, é possível futuramente esclarecer seus níveis de envolvimento no episódio.
Os 42 militantes que continuarão presos são acusados de crimes como lesão corporal grave, formação de quadrilha, crime contra o patrimônio público e corrupção de menores. A prisão em flagrante foi efetuada pela Polícia Judiciária da Câmara dos Deputados, mas o caso passou nesta semana à PF.
Até ontem, o número de presos é divergente. A Polícia Militar dizia que 582 pessoas foram levadas ao presídio.
No entanto, a Justiça Federal só recebeu uma relação em que constam nomes de 501 presos durante o episódio na terça.

Ônibus
Ontem à tarde chegaram dois ônibus para buscar os manifestantes no complexo da Papuda. Um deles, com placa de Goiânia, tem um adesivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no canto direito do vidro da frente. O presidente da CUT de Goiás, José Antônio de OLiveira Lobo, negou que a entidade tenha sido responsável pela contratação do veículo. "Não há decisão da executiva sobre isso", afirmou. Os dois ônibus iriam para Itaberaí, em Goiás.
À noite eram nove os ônibus esperando pelos detentos na Papuda. Um deles, que iria para Imperatriz, no Maranhão, foi alugado por R$ 1.200, segundo um recibo.
O valor foi pago, diz a nota, pela Anara (Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária). A entidade, ligada ao MLST, teria recebido, segundo o site Contas Abertas, cerca de R$ 5,6 milhões dos cofres públicos durante a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Boris Trindade, advogado de Bruno Maranhão, o líder do MLST informou que o movimento irá pagar os prejuízos com a invasão. A Câmara estima os estragos em R$ 102 mil. Também foi depredado um Fiat Uno Mille. (LETÍCIA SANDER, ADRIANO CEOLIN E RANIER BRAGON)

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