|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CPTM faz contrato com Alstom sem licitação
Estatal usa certidão de sindicato, cujo integrante é dirigente da Alstom, para contratar a própria empresa francesa por R$ 6,9 mi
TCE questiona dispensa de licitação no negócio, no valor de R$ 6,94 milhão; diretor do sindicato afirma que a entidade é isenta
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A CPTM, empresa do governo de São Paulo, aceitou uma
certidão emitida por um sindicato patronal que tem como vice-presidente um diretor da
Alstom para contratar a própria empresa em dezembro do
ano passado. O valor do negócio
é de R$ 6.948.549.
A certidão atestou que somente a Alstom poderia fornecer um equipamento de controle automático de velocidade
de trens. Ela foi fornecida à
CPTM (Companhia Paulista de
Transportes Metropolitanos)
pelo Sindicato Interestadual da
Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários, cujo vice-presidente é
Luiz Fernando Ferrari, diretor
da área comercial da multinacional francesa.
Ferrari aparece nos dois lados do negócio: além de dirigir
o sindicato, ele também assina
o contrato com a CPTM como
representante da Alstom Brasil
Energia e Transportes, com a
presidente da empresa, Rosangela de Sousa Tsuruda.
A dispensa de licitação foi
questionada no último dia 3
por um dos conselheiros do
TCE (Tribunal de Contas do
Estado), Fulvio Julião Biazzi.
Com base em parecer da Secretaria de Diretoria Geral do
TCE, Biazzi questiona a CTPM
sobre a contratação direta por
considerar que a estatal poderia fazer licitação internacional, caso não houvesse fornecedor brasileiro. A CPTM tem 30
dias para apresentar alegações.
O sindicato que deu o atestado utilizado pela CPTM reúne
as maiores fornecedoras de
equipamentos para trens e ônibus do país.
O diretor-executivo da entidade, Francisco Petrini, diz que
o sindicato é isento para fazer
atestado de exclusividade.
Os 30 equipamentos de controle de velocidade foram encomendados para os trens do tipo
Cofesbra 2, fornecido por um
consórcio formado pela Alstom, a Bombardier, outra empresa francesa, e a CAF (Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles S.A.), da Espanha.
O fato de a CPTM aceitar a
certidão de uma entidade patronal não constitui nenhuma
ilegalidade, segundo o promotor Silvio Marques. "Não há
uma proibição para o sindicato
dar esse tipo de atestado."
O advogado Toshio Mukai,
especialista em licitações, diz
que o problema é de outra ordem. Há "imoralidade" no processo, segundo ele, pelo fato de
Ferrari ser um dos dirigentes
do sindicato e, ao mesmo tempo, representar a empresa no
contrato. "Me parece que seja
um caso de autofavorecimento,
uma questão para o Ministério
Público apurar", diz Mukai.
O Ministério Público incluirá
a compra sem licitação entre os
negócios suspeitos que estão
sob investigação no órgão.
Entre outros contratos, os
promotores investigam por
que o Metrô e a CPTM fizeram
compras de R$ 723,5 milhões
da Alstom sem nova licitação. O
Metrô usou contrato de 1992
para fazer a compra de R$ 500
milhões em 2007, na gestão José Serra (PSDB). No caso da
CPTM, o contrato original era
de 1995.
Texto Anterior: PSDB diz confiar na governadora; DEM repensa a expulsão do vice Próximo Texto: Estatal defende a dispensa de concorrência Índice
|