São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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APURAÇÃO E CIRCO

Entre gritos, piadas e arroubos emocionados, deputados e senadores travam luta de egos

Congresso vira palco de "espetáculos"

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sob a pressão da crise e da transmissão ao vivo, deputados e senadores têm travado na CPI dos Correios uma verdadeira guerra de egos, muitas vezes deixando de lado as próprias investigações. Entre gritos roucos, piadas fora de hora, confrontos ofensivos e dedos em riste, as caricaturas de cada parlamentar se definem, dentro do que já foi apelidado de "aula de antropologia" e "show de horrores".
Nas últimas sessões, não faltaram alusões ao "público brasileiro", "telespectadores" e "cidadãos que nos assistem" -de fato, as fileiras de câmeras se erguem como um pelotão de fuzilamento quando os microfones são desligados e a campainha de ordem soa ruidosamente.
A previsão era de que a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) seria a musa da CPI, com arroubos de indignação. Num dos primeiros depoimentos, avisou que chegava à CPI de "coturnos". Depois de uma briga com o deputado Maurício Rands (PT-PE) estampada nas capas de jornais, optou por protestos com toques mais dóceis. "Não vou ficar miando diante de Roberto Jefferson. Quando eu quiser miar vai ser para um homem que conquiste meu coração. Mas eu vou urrar feito uma onça selvagem para ele, José Dirceu e Lula."
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), quando pode, solta uma piada: "Gente, buraco de político tem mola no fundo!"
Os mais aguerridos são os deputados das "tropas de choque jovem". Na oposição, lideram os deputados Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Onyx Lorenzoni (PFL-SC) e Eduardo Paes (PSDB-RJ). No governo, os deputados Rands, Jorge Bittar (PT-RJ) e Henrique Fontana (PT-RS). Tudo acaba em camaradagem. Acham graça nos revides, adoram invocar o "artigo 14" -que garante o direito de reposta. Depois das entrevistas trocam palmadas nas costas.
Não faltam bordões. Jorge Bittar passou várias sessões denunciando a "tática do gambá" -que espalha o mau cheiro pra todo lado. Já Onyx Lorenzoni insistia em batizar o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza de "lavanderia ambulante", se referindo ao suposto desvio de verbas públicas.
Quando a retórica vira ofensa, entra em cena a deputada Juíza Denise Frossard (PPS-RJ). Com as golas engomadas, ela protege os depoentes de excessos parlamentares. No depoimento da secretária Fernanda Karina Somaggio censurou um colega: "O senhor não é o juiz dela!".
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) começou na CPI repetindo como mantra: "Vamos manter a lógica das investigações", código para focar apenas os Correios. Caiu nas provocações de Roberto Jefferson e se descompôs. Na quinta, foi à frente da sala berrar, vermelha: "Não vou ser chamada de pagadora de mensalão!".
Outro senador, o suplente Sibá Machado (PT-AC), surpreendeu ao articular uma manobra para poupar os caciques do PT. Rouco, conclamava a retirada da bancada petista, que ignorou o apelo. Saiu da sala sozinho. Constatado o exagero, voltou em alguns segundos.
O senador Ney Suassuna (PMDB-PB), passa a impressão de buscar na CPI um salvo-conduto. Citado por ter se encontrado com um dos envolvidos na gravação dos Correios, fez perguntas para registro taquigráfico: "O senhor me conhece? Quantas vezes me encontrou?".
Muitas desculpas foram pedidas "ao público brasileiro" depois das piores cenas da semana, mas resta saber se o aviso do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), vai surtir efeito na CPI: "Acabou a fase de guerrilha e começou a fase de qualificação".

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