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APURAÇÃO E CIRCO
Entre gritos, piadas e arroubos emocionados, deputados e senadores travam luta de egos
Congresso vira palco de "espetáculos"
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob a pressão da crise e da
transmissão ao vivo, deputados
e senadores têm travado na CPI
dos Correios uma verdadeira
guerra de egos, muitas vezes deixando de lado as próprias investigações. Entre gritos roucos,
piadas fora de hora, confrontos
ofensivos e dedos em riste, as caricaturas de cada parlamentar se
definem, dentro do que já foi
apelidado de "aula de antropologia" e "show de horrores".
Nas últimas sessões, não faltaram alusões ao "público brasileiro", "telespectadores" e "cidadãos que nos assistem" -de fato, as fileiras de câmeras se erguem como um pelotão de fuzilamento quando os microfones
são desligados e a campainha de
ordem soa ruidosamente.
A previsão era de que a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL)
seria a musa da CPI, com arroubos de indignação. Num dos primeiros depoimentos, avisou que
chegava à CPI de "coturnos".
Depois de uma briga com o deputado Maurício Rands (PT-PE)
estampada nas capas de jornais,
optou por protestos com toques
mais dóceis. "Não vou ficar
miando diante de Roberto Jefferson. Quando eu quiser miar
vai ser para um homem que conquiste meu coração. Mas eu vou
urrar feito uma onça selvagem
para ele, José Dirceu e Lula."
O senador Heráclito Fortes
(PFL-PI), quando pode, solta
uma piada: "Gente, buraco de
político tem mola no fundo!"
Os mais aguerridos são os deputados das "tropas de choque
jovem". Na oposição, lideram os
deputados Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Onyx
Lorenzoni (PFL-SC) e Eduardo
Paes (PSDB-RJ). No governo, os
deputados Rands, Jorge Bittar
(PT-RJ) e Henrique Fontana
(PT-RS). Tudo acaba em camaradagem. Acham graça nos revides, adoram invocar o "artigo
14" -que garante o direito de
reposta. Depois das entrevistas
trocam palmadas nas costas.
Não faltam bordões. Jorge Bittar passou várias sessões denunciando a "tática do gambá"
-que espalha o mau cheiro pra
todo lado. Já Onyx Lorenzoni insistia em batizar o publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza de "lavanderia ambulante", se referindo ao suposto desvio de verbas públicas.
Quando a retórica vira ofensa,
entra em cena a deputada Juíza
Denise Frossard (PPS-RJ). Com
as golas engomadas, ela protege
os depoentes de excessos parlamentares. No depoimento da secretária Fernanda Karina Somaggio censurou um colega: "O
senhor não é o juiz dela!".
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) começou na CPI repetindo
como mantra: "Vamos manter a
lógica das investigações", código
para focar apenas os Correios.
Caiu nas provocações de Roberto Jefferson e se descompôs. Na
quinta, foi à frente da sala berrar,
vermelha: "Não vou ser chamada de pagadora de mensalão!".
Outro senador, o suplente Sibá
Machado (PT-AC), surpreendeu
ao articular uma manobra para
poupar os caciques do PT. Rouco, conclamava a retirada da
bancada petista, que ignorou o
apelo. Saiu da sala sozinho.
Constatado o exagero, voltou
em alguns segundos.
O senador Ney Suassuna
(PMDB-PB), passa a impressão
de buscar na CPI um salvo-conduto. Citado por ter se encontrado com um dos envolvidos na
gravação dos Correios, fez perguntas para registro taquigráfico: "O senhor me conhece?
Quantas vezes me encontrou?".
Muitas desculpas foram pedidas "ao público brasileiro" depois das piores cenas da semana,
mas resta saber se o aviso do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), vai surtir efeito na CPI:
"Acabou a fase de guerrilha e começou a fase de qualificação".
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