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Especialistas aprovam as hidrelétricas com ressalvas
Dois cientistas vêem vitória de Marina Silva, outro aponta riscos de desequilíbrios
Os defensores também dizem que fiscalização deve continuar e que não se tem total certeza se propostas resolverão os problemas
FERNANDO BARROS DE MELLO
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A autorização prévia para
que o projeto das duas hidrelétricas do rio Madeira possa
continuar não deve ser encarada como uma derrota para a
área ambiental, disserem especialistas ouvidos pela Folha.
"Eu defendo a hidrelétrica,
mas com condições ambientais
impostas", afirmou Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da
Eletrobrás e coordenador da
Coppe. Para ele, as alternativas
a essas hidrelétricas seriam
piores. "A carvão, óleo diesel é
um absurdo, e nuclear, além
dos problemas, é caríssima."
Pinguelli defende que o Brasil precisa crescer e que "não é
possível evitar a energia elétrica". "Acho que a vitoriosa nesse
caso é a ministra Marina [Silva], que impôs as regras."
Tese similar é defendida pelo
pesquisador Ronaldo Barthem,
do Museu Paraense Emilio
Goeldi, que esteve ontem na
reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Belém.
"Foi a área ambiental [do governo] que segurou o projeto
anterior. Ele teve que ser revisto. Essas coisas tem que ser na
pressão mesmo, não tem jeito".
Bagres
Especialista em peixes, Barthem assinou o documento inicial feito a pedido do Ministério
Público de Rondônia que apontava falhas no projeto.
Um dos pontos criticados era
o de que as usinas podem afetar
espécies de bagre da região. Segundo Barthem, não há certeza
sobre o sucesso da construção
dos corredores para os peixes
contornarem a barragem, compromisso assumido pelo consórcio que construirá as usinas.
Essa exigência é uma das 33
condicionantes apresentadas
ontem. "Nós temos mais incertezas do que certezas. Precisa
de mais pesquisa. Não é certeza
que esses corredores vão resolver, mas eles podem resolver."
O mais importante agora, para o pesquisador, é manter a vigilância, até que o projeto seja
totalmente instalado. "O empreendedor só vai ter a licença
de operação se forem feitas todas as condicionantes. Precisamos prestar atenção se isso vai
realmente ser feito", disse.
Segundo o cientista, se as alterações forem levadas a sério,
o impacto das usinas sobre o rio
Madeira será minimizado.
"Veja o caso dos sedimentos.
O projeto anterior previa que
os mais grossos deveriam ficar
presos na barragem. Isso mudou, e agora tudo vai passar",
disse Barthem. A conseqüência
prática é que será preciso gastar mais. "As hélices [das turbinas] terão que ser mais reforçadas", diz o pesquisador.
Sedimentos
Philip Fearnside, do Inpa
(Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia), continua sendo crítico do projeto, mesmo
após as mudanças. Segundo ele,
não está claro como resolver
problemas que podem afetar a
própria vida útil da usina.
"O rio madeira é um dos que
tem mais carga de sedimento
do mundo, e isso envolve atrito
nas turbinas, problemas para
manutenção etc.", diz. "Outro
problema grave de sedimentação é na parte superior do lago,
onde o rio "entra", e eles nunca
responderam nada sobre isso."
Segundo Fearnside, os sedimentos podem comprometer a
vazão rio acima. "A água sobe e
inunda a área, podendo atingir
até mesmo um lado da Bolívia."
O governo pretende licitar a
usina hidrelétrica de Santo Antônio no final de setembro ou
começo de outubro.
Segundo o ministro interino
de Minas e Energia, Nelson
Hubner, a usina deverá começar a entrar em funcionamento
em meados de 2012, mas levará
aproximadamente três anos
para conseguir gerar todos os
3.168 MW previstos.
Hubner reforçou que o governo não vê risco de falta de
energia. "Não vejo risco de apagão. A situação hoje é completamente diferente da do final
dos anos 90, quando o Brasil
havia abandonado o planejamento do setor", afirmou.
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