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Sarney nega elo com museu, mas usou cargo para ajudá-lo
Em 2005, senador pediu ao Senado para contestar lei que despejava Fundação Sarney
Um mês depois de o Senado entrar com a ação, o STF deu uma liminar que garantiu a permanência da fundação no Convento das Mercês
Alan Marques/Folha Imagem
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O presidente do Senado, José Sarney(AP), ao deixar o Senado
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de afirmar em nota
que "não tem responsabilidade" sobre a fundação que leva
seu nome no Maranhão, o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), pediu em 2005
para a advocacia da Casa contestar no Supremo Tribunal
Federal uma lei estadual que
contrariava seus interesses.
Lei estadual de 2005 determinou a reintegração do Convento das Mercês ao governo
do Maranhão. No local funciona a Fundação José Sarney, um
museu com o acervo do período
em que ele foi presidente.
Ontem, para contestar reportagem do jornal "O Estado
de S. Paulo", Sarney disse em
nota que é apenas "presidente
de honra" da fundação e que
"não participa" nem tem "responsabilidade" sobre ela. Segundo o jornal, foram desviados recursos destinados pela
Petrobras para a fundação.
A Petrobras repassou R$ 1,3
milhão à fundação pela Lei
Rouanet, com projeto aprovado pelo Ministério da Cultura.
Em bilhete enviado ao ministério, em 2005, Sarney pede agilização na tramitação do projeto
de recuperação dos acervos.
Em um documento assinado
pelo próprio Sarney em 21 de
novembro de 2005, ele solicita
à Mesa Diretora do Senado que
ingresse "o mais breve possível" com uma Adin (ação direta
de inconstitucionalidade) no
STF contra lei aprovada no Maranhão que devolvia o prédio ao
Estado. Pela lei, a fundação deveria deixar o local em 30 dias.
"Diante da flagrante inconstitucionalidade da norma estadual recém-aprovada pela Assembleia Legislativa, não resta
outra alternativa senão a propositura de ação direta de inconstitucionalidade perante o
Supremo, com o objetivo de
impedir a prática de ato totalmente contrário à ordem constitucional vigente no país", escreveu Sarney. Procurado, ele
não respondeu à reportagem.
A legislação garante à Mesa
Diretora do Senado a prerrogativa de ingressar no Supremo
com ações deste tipo. Mas, segundo a Folha apurou, essa foi
a primeira e única vez em que o
Senado contestou na mais alta
Corte do país uma lei estadual.
Na época da Adin, em 2005,
o Senado era presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL),
que assina a ação ao lado do então advogado-geral, Alberto
Cascais. Renan é um dos principais aliados de Sarney.
A Folha apurou que Renan
fez consulta informal aos
membros da Mesa sobre o pedido e considerou que, embora
o assunto não tivesse relação
com o Senado, atender seria
uma forma de prestigiar o ex-presidente da Casa. Ele não comentou o assunto ontem.
O atual advogado-geral do
Senado, Luiz Fernando Bandeira, disse que "a lei legitima a
Mesa a ingressar com Adin".
Sem a ajuda da Mesa Diretora, Sarney teria que ingressar
com ação na Justiça de primeira instância, onde cabe recurso
e o processo poderia se prolongar por anos. Um mês depois de
o Senado entrar com a ação, o
STF deu uma liminar que suspendeu a eficácia da lei maranhense e garantiu a permanência da fundação no prédio.
A Adin ainda não foi julgada
no plenário do STF. Recentemente, a Procuradoria considerou a lei maranhense inconstitucional. Na época, o governador do Estado era José Reinaldo Tavares (PSB), que rompeu com Sarney.
Presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)
do Senado, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) diz
que "o assunto não era de interesse do Senado".
No plenário do Senado, Sarney voltou a negar ligação com
a entidade e disse que a prestação de contas já foi encaminhada e "compete ao Tribunal de
Contas, em qualquer irregularidade, a atribuição de julgar".
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