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Fundação repassou verba ao contador da família
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Fundação Sarney repassou
R$ 40 mil destinados a um projeto cultural para a empresa de
um contador que presta serviços para a família Sarney há pelo menos dez anos. Localizado
pela Folha, ele não soube explicar que trabalho executou.
Os recursos são provenientes da Petrobras, que repassou
R$ 1,3 milhão para a Fundação
Sarney preservar o seu acervo.
Parte desse bolo foi destinado à MC Consultoria Empresarial Ltda. A empresa pertence a
Marco Aurélio Bastos Cavalcanti, contador e advogado que
trabalha para a TV Mirante,
afiliada da "Rede Globo" em
São Luís (MA), dos Sarney.
No ano de 2000, Cavalcanti
assinou um documento da
Junta Comercial do Maranhão
como testemunha da alteração
do capital social da TV Mirante, que passou a R$ 8,1 milhões,
divididos em partes iguais pelos três filhos de José Sarney:
Fernando Sarney, Roseana
Sarney e Sarney Filho.
Por telefone, o contador confirmou ter sido contratado pela
fundação, mas não conseguiu
explicar para quê. "Foi serviço
de assessoria para fazer um
projeto. Fiz o serviço, está lá."
Questionado sobre que tipo de
assessoria, disse: "Assessoria
para fazer o projeto, só isso".
A Folha insistiu. Quis saber
para que projeto Cavalcanti
prestou assessoria: "Foi um
projeto lá da Fundação com a
Petrobras (...) Assim de cabeça
eu não vou me lembrar. Eu não
posso me lembrar de tudo".
Depois de obter o documento mostrando que ele foi testemunha da TV Mirante, a Folha
tentou novo contato com o
contador, mas ele não estava.
Sua mulher, Lucileide, confirmou que ele presta até hoje
serviços para a emissora. "[Ele
presta serviço] quando precisa
assim de uma consulta, para resolver tributação, negócio de
despesa. Tipo uma consultoria
mesmo para a empresa, onde
pode melhorar, essas coisas."
A MC Consultoria não funciona no endereço informado à
Receita. Mudou-se duas vezes,
mas não atualizou os dados.
Agora, está instalada em um escritório no bairro Calhau. Reportagem de "O Estado de S.
Paulo" diz que a empresa é fantasma. O contador nega: "Sou
conhecido em São Luís. Minha
empresa existe. A prova é que
você está falando comigo".
Em nota, a Fundação Sarney
disse que a empresa está em
"pleno funcionamento" e atende a diversas empresas de São
Luís. Sobre os serviços prestados pela MC Consultoria, afirma que eles "foram realizados
conforme as cláusulas estabelecidas no contrato".
A fundação também nega a
afirmação de que essa e outras
empresas que receberam recursos provenientes da Petrobras são fantasmas. Diz a entidade que elas têm endereço fixo e outros clientes.
A assessoria da Petrobras
disse que sua responsabilidade
no patrocínio era só comprovar
se o nome da estatal era divulgado pela fundação na mídia ou
em catálogos. Isso, segundo a
companhia, foi cumprido.
Responsável pela prestação
de contas do dinheiro repassado, o Ministério da Cultura
afirmou que a fundação tem
até o fim do mês para apresentar relatório final da aplicação
do dinheiro e não comentará o
caso até o julgamento do processo. A Controladoria Geral
da União poderá abrir auditoria para verificar a aplicação
dos recursos pela fundação.
Ontem, o ministro Jorge Hage
pediu informações preliminares sobre o patrocínio ao colega
da Cultura, Juca Ferreira.
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