São Paulo, sexta-feira, 10 de julho de 2009

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Pressionado, Sarney manda instalar CPI

Gesto visa atender pedido da oposição e tentar conter seu crescente desgaste político após denúncia envolvendo sua fundação

Comissão que vai investigar a Petrobras, porém, só deve começar a funcionar de fato em agosto e ainda depende de acordo com a oposição

VALDO CRUZ
ADRIANO CEOLIN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado por nova acusação, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiu ontem determinar a instalação da CPI da Petrobras, na próxima terça-feira, às 15h, num gesto destinado a atender pedido dos partidos de oposição e tentar conter seu crescente desgaste político.
Foi elogiado tanto por tucanos como democratas pela decisão, mas não escapou de novos discursos no plenário pedindo seu afastamento e defendendo que seja investigada a informação publicada pelo "O Estado de S.Paulo" de que a Fundação Sarney desviou recursos de um patrocínio da Petrobras -algo negado por ele.
Logo depois que ele deixou o plenário, começaram os discursos pedindo o seu afastamento. O primeiro veio do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que anunciou que encaminhará ao Ministério Público a nova acusação. Depois foi a vez de Sérgio Guerra (PSDB-PE), Agripino Maia (DEM-RN) e Cristovam Buarque (PDT-DF) pedirem seu afastamento. Guerra reconheceu que a pressão não deve surtir efeito. "Não é mais o Senado o árbitro da saída do Sarney, mas o presidente Lula", afirmou. A amigos, o presidente do Senado disse ontem que, "se acham que vão me tirar daqui com essa campanha, estão enganados, vou resistir até o fim".
Entre petistas e peemedebistas, a ordem também é resistir e proteger Sarney em nome da aliança dos dois partidos visando a eleição de 2010. Desde anteontem Sarney estava inclinado a determinar a instalação da CPI diante da informação de que o STF (Supremo Tribunal Federal) iria acatar pedido da oposição nesse sentido, seguindo decisão semelhante adotada no episódio da CPI dos Bingos.
Ontem pela manhã, depois da publicação do novo caso, decidiu que precisava fazer um gesto de boa vontade na direção da oposição. Com isso, a reunião dos líderes governistas, convocada na véspera para decidir se a CPI seria ou não instalada, foi esvaziada. Quando chegaram para o encontro, eles foram informados da decisão.
Ficou acertado, contudo, que os partidos governistas vão trabalhar unidos para blindar o presidente Sarney e controlar a futura CPI da Petrobras.
Os líderes decidiram, porém, que por enquanto a CPI será apenas instalada. O início dos trabalhos, com eleição do presidente e relator, acontecerá apenas se a oposição topar acordo que devolva aos governistas a relatoria da CPI dos Bingos, seja arquivada a CPI do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias seja aprovada pelo Congresso.
A oposição já disse que aceita. O Senado poderá entrar em recesso após a aprovação da LDO. E a CPI começará a funcionar de fato só em agosto. Os líderes fecharam ainda o discurso de que o caso envolvendo a fundação não tem de ser investigado pela CPI.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse ontem que a "demonização" de Sarney é uma tática para que os escândalos da Casa terminem em "pizza". Em Teresina, a ministra disse que o governo é a favor de "apurar", e não de "demonizar". Segundo ela, "há interesses políticos" na queda do presidente do Senado e que os adversários podem estar querendo dar "um golpe".
Com YALA SENA colaboração para a Agência Folha, em Teresina



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