São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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ESTRATÉGIA

Tucanos tentam auxílio do partido de Lula para combater adversário

Em crise, campanha de Serra busca ajuda do PT contra Ciro

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em crise, a campanha do presidenciável José Serra (PSDB) tenta acordo com o PT para combater o candidato Ciro Gomes (PPS). Motivo: a repercussão da pesquisa Ibope divulgada anteontem, na qual Serra se igualou a Anthony Garotinho (PSB) na terceira posição foi devastadora na campanha e no ânimo do presidente Fernando Henrique Cardoso, dos tucanos e dos aliados peemedebistas.
A Folha apurou que Nizan Guanaes, marqueteiro de Serra, enviou mensagens a Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, "alertando sobre o risco Ciro". Segundo Nizan, se o PT não combater o candidato do PPS, perderá a eleição no segundo turno.
Duda, porém, não deverá embarcar no ataque feroz a Ciro porque Lula está em situação bem mais confortável do que Serra. Se o PT deseja avariar Ciro, também deseja evitar uma recuperação espetacular do tucano.
A Folha apurou que o PT, que jogou afinado com FHC no episódio do acordo de US$ 30 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional), deve dar uma ajuda a Serra, mas não com o nível de virulência em preparação pela campanha de TV do PSDB.
As peças que Nizan prepara para o horário eleitoral gratuito, que começa no dia 20, deverão entrar para a história das eleições brasileiras como exemplo de campanha negativa -aquela em que importa mais destruir o adversário do que vender seu candidato. Duda também deverá lançar umas vacinas contra o candidato do PPS, mas sempre pensando em acumular forças para um eventual segundo turno, seja contra Ciro ou Serra.
Exemplo de como PT e PSDB devem atuar juntos contra Ciro: o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP), teve a idéia de solicitar uma sessão solene do Congresso em homenagem aos dez anos do impeachment de Fernando Collor de Mello.
João Paulo pediu apoio do líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA), que aceitou na hora. O petista não admite, mas o evento objetiva relacionar Ciro a Collor e deve se realizar em 19 de setembro, a três semanas da eleição.

Percepção e ataque
FHC tem feito o que pode para segurar Serra. Agora, está tentando contornar uma crise no PMDB, buscando recuperar aliados perdidos e evitar o desânimo daqueles que têm palanque duplo nos Estados com Serra e Ciro.
A pesquisa Ibope, porém, agrava a crise de abandono de Serra. Ele está com 11%, 16 pontos percentuais atrás de Ciro. O próprio FHC, como já revelou a Folha, acha difícil reverter vantagem tão grande no horário eleitoral.
Na visão do presidente e dos tucanos, o levantamento gera a percepção de que o candidato do PPS, apesar dos fortes ataques sofridos na última semana, continuou a subir e o tucano caiu.
Na verdade, Ciro oscilou positivamente na semana em que foi carimbado de mentiroso por Serra em um debate de presidenciáveis na TV. Passou de 25% para 27%. Já Serra caiu mais do que a margem de erro da pesquisa -que é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O tucano tinha 14% e agora está empatado com Anthony Garotinho repetiu. O líder Lula oscilou negativamente. Foi de 34% para 33%.
A campanha de Serra não esperava a subida dele, mas não contava com a queda do candidato e a oscilação positiva de Ciro. Para um coordenador, a repercussão da pesquisa no noticiário pode anular o estrago que o PSDB pensa ter feito em Ciro ao mostrar que ele diz coisas que não têm amparo nos fatos.


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