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CAMPANHA
Lideranças vêem presidente do BC como peça chave na transição, mas sua manutenção no cargo é improvável
PT quer ajuda de Armínio em governo Lula
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Integrantes do alto escalão da
campanha de Luiz Inácio Lula da
Silva defendem a colaboração do
presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em um eventual governo do PT, no mínimo como
um consultor informal.
Petistas com voz ativa na campanha consultados pela Folha
vêem o presidente do BC como
peça importante para o período
de transição e para a fase subsequente à hipotética posse de Lula.
Há quem sugira até a criação de
uma espécie de "conselho" para
assessorar o governo, do qual Armínio poderia constar. Não há
ainda posicionamento formal do
partido quanto a isso, entretanto.
Já a manutenção de Armínio no
cargo pelo PT é definida por um
líder partidário como "difícil".
O presidente do BC, cuja indicação, em 1999, foi recebida com
críticas ácidas por lideranças petistas, hoje é respeitado dentro do
núcleo moderado do partido.
É tido, inclusive por Lula, como
técnico competente, que se preocupa mais com a economia do
que com posicionamentos partidários. Acima de tudo, é considerado bom negociador, mantendo
relação estreita com um dos porta-vozes econômicos do PT, Aloizio Mercadante (SP).
Tais características destoam radicalmente, segundo o PT, da personalidade de figuras como o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e
o ex-presidente do BC Gustavo
Franco, vistos como arrogantes e
com tendência a politizar demais
suas ações.
Segundo a Folha apurou junto
ao alto escalão petista, existe pontualmente no partido o desejo de
que Armínio permaneça à frente
do BC pelo menos no início do
governo Lula, para emprestar credibilidade ao governo e sinalizar
ao mercado que mudanças de rota bruscas não serão feitas.
Simbolismo
As mesmas lideranças que admiram Armínio se dizem conscientes, contudo, de que mantê-lo
no BC seria simbolicamente negativo para um partido que faz
campanha com o discurso de mudança na política econômica.
Teme-se inclusive comparação
com o ex-presidente argentino
Fernando de la Rúa, que se elegeu
prometendo reformas e acabou
trazendo para o governo um dos
artífices do modelo então vigente,
o ministro Domingo Cavallo.
As chances de o PT manter o
presidente do BC no cargo são pequenas, mas não podem ser descartadas totalmente, porque o assunto ainda não foi discutido formalmente pelo partido. "Manter
ou não Armínio, bem como definir o grau de autonomia do BC,
são temas que rondam a campanha em conversas informais, mas
ainda ninguém as colocou na mesa", disse um líder petista.
Lula e o presidente do PT, José
Dirceu, afirmam internamente no
partido que o presidente do BC
será trocado, porque acham Armínio muito identificado com a
atual política econômica. Mas eles
têm sinalizado que seu auxílio,
mesmo informal, num eventual
governo seria positivo.
Múltiplas frentes
O PT enxerga em Armínio qualidades que o colocariam em condição de atuar em várias frentes.
Além de ajudar no dia-a-dia da
operação do BC no início do governo, poderia atuar como uma
espécie de embaixador econômico informal do Brasil, por ter vasta rede de contatos com a diretoria de organismos multilaterais
-FMI, BID e Banco Mundial- e
de bancos estrangeiros.
Dificilmente o PT o colocaria
em um cargo formal num governo Lula, do tipo negociador junto
ao FMI. Esta é vista como uma
função exclusiva do governo.
O PT ainda não tirou posição
oficial sobre Armínio nem o sondou, até porque o partido de Lula
não sabe quais serão os planos do
presidente do BC após deixar o
governo. Ele já sinalizou publicamente que está disposto a colaborar com o futuro presidente.
O que o PT já tem claro é que
quer continuar contando com
quadros do atual governo, de segundo e terceiro escalões. Funcionários graduados de instituições
como Itamaraty e Banco Central
-mesmo alguns diretores de
perfil técnico- deverão ser mantidos, o que seria uma forma de
dar tranquilidade à transição.
Uma renovação total na administração está descartada.
Outra idéia para acalmar o mercado que já foi aventada, a de antecipar nomes da equipe econômica ainda durante a campanha
presidencial, tem chance remota
de vingar.
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