São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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CAMPANHA

Lideranças vêem presidente do BC como peça chave na transição, mas sua manutenção no cargo é improvável

PT quer ajuda de Armínio em governo Lula

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Integrantes do alto escalão da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva defendem a colaboração do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em um eventual governo do PT, no mínimo como um consultor informal.
Petistas com voz ativa na campanha consultados pela Folha vêem o presidente do BC como peça importante para o período de transição e para a fase subsequente à hipotética posse de Lula.
Há quem sugira até a criação de uma espécie de "conselho" para assessorar o governo, do qual Armínio poderia constar. Não há ainda posicionamento formal do partido quanto a isso, entretanto.
Já a manutenção de Armínio no cargo pelo PT é definida por um líder partidário como "difícil".
O presidente do BC, cuja indicação, em 1999, foi recebida com críticas ácidas por lideranças petistas, hoje é respeitado dentro do núcleo moderado do partido.
É tido, inclusive por Lula, como técnico competente, que se preocupa mais com a economia do que com posicionamentos partidários. Acima de tudo, é considerado bom negociador, mantendo relação estreita com um dos porta-vozes econômicos do PT, Aloizio Mercadante (SP).
Tais características destoam radicalmente, segundo o PT, da personalidade de figuras como o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o ex-presidente do BC Gustavo Franco, vistos como arrogantes e com tendência a politizar demais suas ações.
Segundo a Folha apurou junto ao alto escalão petista, existe pontualmente no partido o desejo de que Armínio permaneça à frente do BC pelo menos no início do governo Lula, para emprestar credibilidade ao governo e sinalizar ao mercado que mudanças de rota bruscas não serão feitas.

Simbolismo
As mesmas lideranças que admiram Armínio se dizem conscientes, contudo, de que mantê-lo no BC seria simbolicamente negativo para um partido que faz campanha com o discurso de mudança na política econômica.
Teme-se inclusive comparação com o ex-presidente argentino Fernando de la Rúa, que se elegeu prometendo reformas e acabou trazendo para o governo um dos artífices do modelo então vigente, o ministro Domingo Cavallo.
As chances de o PT manter o presidente do BC no cargo são pequenas, mas não podem ser descartadas totalmente, porque o assunto ainda não foi discutido formalmente pelo partido. "Manter ou não Armínio, bem como definir o grau de autonomia do BC, são temas que rondam a campanha em conversas informais, mas ainda ninguém as colocou na mesa", disse um líder petista.
Lula e o presidente do PT, José Dirceu, afirmam internamente no partido que o presidente do BC será trocado, porque acham Armínio muito identificado com a atual política econômica. Mas eles têm sinalizado que seu auxílio, mesmo informal, num eventual governo seria positivo.

Múltiplas frentes
O PT enxerga em Armínio qualidades que o colocariam em condição de atuar em várias frentes. Além de ajudar no dia-a-dia da operação do BC no início do governo, poderia atuar como uma espécie de embaixador econômico informal do Brasil, por ter vasta rede de contatos com a diretoria de organismos multilaterais -FMI, BID e Banco Mundial- e de bancos estrangeiros.
Dificilmente o PT o colocaria em um cargo formal num governo Lula, do tipo negociador junto ao FMI. Esta é vista como uma função exclusiva do governo.
O PT ainda não tirou posição oficial sobre Armínio nem o sondou, até porque o partido de Lula não sabe quais serão os planos do presidente do BC após deixar o governo. Ele já sinalizou publicamente que está disposto a colaborar com o futuro presidente.
O que o PT já tem claro é que quer continuar contando com quadros do atual governo, de segundo e terceiro escalões. Funcionários graduados de instituições como Itamaraty e Banco Central -mesmo alguns diretores de perfil técnico- deverão ser mantidos, o que seria uma forma de dar tranquilidade à transição. Uma renovação total na administração está descartada.
Outra idéia para acalmar o mercado que já foi aventada, a de antecipar nomes da equipe econômica ainda durante a campanha presidencial, tem chance remota de vingar.


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