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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NA MIRA DA CPI
Deputado também envia representação contra Mabel; ex-ministro foi consultado previamente
Severino recua e encaminha processo para cassar Dirceu
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), voltou
atrás e ontem à tarde encaminhou
ao Conselho de Ética representação contra quatro deputados, incluindo o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) e do líder
do PL na Câmara, Sandro Mabel.
Além dos dois, também serão
analisados pelo conselho os processos contra Romeu Queiroz
(PTB-MG) e Francisco Gonçalves
(PTB-MG).
Hoje, o presidente do conselho,
Ricardo Izar (PTB-SP), vai abrir
formalmente os processos de cassação dos quatro deputados, nomeando os relatores para cada caso. Após a abertura do processo, a
renúncia não livra o deputado da
perda dos direitos políticos por
oito anos, se ocorrer a cassação.
Antes de encaminhar o processo, Severino ligou para Dirceu, o
que foi confirmado pela própria
assessoria do petista. Severino teria informado a ele que pretendia
enviar seu processo para o conselho e queria saber sua opinião.
Dirceu, segundo a assessoria, teria dito que não havia problema
de sua parte, mas pedia que fosse
respeitado o regimento e a ordem
de chegada dos pedidos de cassação à Mesa Diretora.
Embora Dirceu diga que não era
deputado, mas ministro, é acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o mentor do esquema
do "mensalão". O petista nega.
Jefferson também acusou Mabel
de receber dinheiro para aprovar
projetos de interesse do governo.
Contra o líder do PL pesa ainda
a acusação da deputada Raquel
Teixeira (PSDB-GO), que disse
que ele lhe propôs trocar de partido e, para tanto, estaria disposto a
lhe pagar R$ 1 milhão, mais R$ 30
mil mensais. Mabel nega.
Romeu Queiroz admitiu que recebeu repasse de dinheiro da Usiminas, por intermédio da SMPB,
de Marcos Valério, e que a verba
foi contabilizada como caixa dois.
Francisco Gonçalves havia dito
que presenciou uma mala de dinheiro em plenário, mas, na época, não denunciou ninguém.
"Não volto atrás"
Irritado, Severino negou que tivesse voltado atrás ao enviar ao
conselho as representações contra Dirceu e Mabel. "Eu não volto
atrás", afirmou. "Eu sou um homem que não tem idéia fixa.
Quem tem idéia fixa é doido."
Severino usou como argumento
para sua decisão um projeto de
resolução apresentado por Ney
Lopes (PFL-RN), procurador da
Casa, que altera o Código de Ética
para permitir a prorrogação por
60 dias, pelo plenário, do prazo
para o conselho votar o parecer
em casos de perda de mandato.
"Tomei as medidas necessárias
já em função do projeto apresentado pelo procurador e vamos
prosseguir tudo. O que tiver vai
ser apurado." Para que entre em
vigor, o projeto ainda tem de ser
aprovado pelo plenário da Casa.
Pelo código atual, o conselho
tem 90 dias para fazê-lo. Anteontem, Severino disse, entre outras
coisas, que a grande quantidade
de representações em tramitação
poderia inviabilizar a conclusão
dos processos, podendo, em tese,
favorecer o investigado por decurso de prazo. Ricardo Izar, porém, afirmava que o conselho iria
trabalhar dobrado para dar conta
dos processos.
Pela manhã, Mabel convocara
uma entrevista para anunciar que
iria encaminhar um ofício a Severino pedindo para o presidente
enviar ao conselho a representação contra o líder do PL.
A estratégia de Mabel deixava
Dirceu em situação desconfortável, uma vez que quase o obrigava
a agir do mesmo modo. "Quem
não deve não teme", disse Mabel,
afirmando que não renunciará.
Questionado se o presidente do
PL, Valdemar Costa Neto, temia
alguma coisa, uma vez que renunciou ao mandato, o líder do partido poupou Costa Neto de críticas.
"Ele admitiu um erro."
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