São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NA MIRA DA CPI

Deputado também envia representação contra Mabel; ex-ministro foi consultado previamente

Severino recua e encaminha processo para cassar Dirceu

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), voltou atrás e ontem à tarde encaminhou ao Conselho de Ética representação contra quatro deputados, incluindo o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) e do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel. Além dos dois, também serão analisados pelo conselho os processos contra Romeu Queiroz (PTB-MG) e Francisco Gonçalves (PTB-MG).
Hoje, o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), vai abrir formalmente os processos de cassação dos quatro deputados, nomeando os relatores para cada caso. Após a abertura do processo, a renúncia não livra o deputado da perda dos direitos políticos por oito anos, se ocorrer a cassação.
Antes de encaminhar o processo, Severino ligou para Dirceu, o que foi confirmado pela própria assessoria do petista. Severino teria informado a ele que pretendia enviar seu processo para o conselho e queria saber sua opinião.
Dirceu, segundo a assessoria, teria dito que não havia problema de sua parte, mas pedia que fosse respeitado o regimento e a ordem de chegada dos pedidos de cassação à Mesa Diretora.
Embora Dirceu diga que não era deputado, mas ministro, é acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o mentor do esquema do "mensalão". O petista nega. Jefferson também acusou Mabel de receber dinheiro para aprovar projetos de interesse do governo.
Contra o líder do PL pesa ainda a acusação da deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO), que disse que ele lhe propôs trocar de partido e, para tanto, estaria disposto a lhe pagar R$ 1 milhão, mais R$ 30 mil mensais. Mabel nega.
Romeu Queiroz admitiu que recebeu repasse de dinheiro da Usiminas, por intermédio da SMPB, de Marcos Valério, e que a verba foi contabilizada como caixa dois. Francisco Gonçalves havia dito que presenciou uma mala de dinheiro em plenário, mas, na época, não denunciou ninguém.

"Não volto atrás"
Irritado, Severino negou que tivesse voltado atrás ao enviar ao conselho as representações contra Dirceu e Mabel. "Eu não volto atrás", afirmou. "Eu sou um homem que não tem idéia fixa. Quem tem idéia fixa é doido."
Severino usou como argumento para sua decisão um projeto de resolução apresentado por Ney Lopes (PFL-RN), procurador da Casa, que altera o Código de Ética para permitir a prorrogação por 60 dias, pelo plenário, do prazo para o conselho votar o parecer em casos de perda de mandato.
"Tomei as medidas necessárias já em função do projeto apresentado pelo procurador e vamos prosseguir tudo. O que tiver vai ser apurado." Para que entre em vigor, o projeto ainda tem de ser aprovado pelo plenário da Casa.
Pelo código atual, o conselho tem 90 dias para fazê-lo. Anteontem, Severino disse, entre outras coisas, que a grande quantidade de representações em tramitação poderia inviabilizar a conclusão dos processos, podendo, em tese, favorecer o investigado por decurso de prazo. Ricardo Izar, porém, afirmava que o conselho iria trabalhar dobrado para dar conta dos processos.
Pela manhã, Mabel convocara uma entrevista para anunciar que iria encaminhar um ofício a Severino pedindo para o presidente enviar ao conselho a representação contra o líder do PL.
A estratégia de Mabel deixava Dirceu em situação desconfortável, uma vez que quase o obrigava a agir do mesmo modo. "Quem não deve não teme", disse Mabel, afirmando que não renunciará.
Questionado se o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, temia alguma coisa, uma vez que renunciou ao mandato, o líder do partido poupou Costa Neto de críticas. "Ele admitiu um erro."


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