São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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Fundo do BC perde com Opportunity

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Centrus (fundação de previdência dos funcionários do Banco Central) aplicou no Opportunity R$ 7 milhões em julho de 2004 num fundo de investimento que registrava, naquela ocasião, prejuízo de R$ 22 milhões.
Pela posição de junho deste ano, as perdas do fundo gerido pelo Opportunity somavam R$ 27 milhões para a Centrus.
Em relatório de 2001, a Secretaria de Previdência Complementar já condenava os investimentos da Centrus no CVC/Opportunity, afirmando que a aplicação teria sido "mal direcionada". Ou seja, apesar das perdas e da avaliação da SPC, a atual gestão da Centrus decidiu aumentar o capital no fundo.
O Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, controla as empresas Telemig Celular e Amazônia Celular, suspeitas de alimentar o caixa dois das agências de propaganda de Marcos Valério. No mesmo mês de julho de 2004, as duas operadoras de telefonia celular depositaram R$ 1,9 milhão nas contas da SMPB, segundo levantamento da CPI dos Correios obtido pela Folha.
A SMPB é uma das empresas que o publicitário Marcos Valério usou para repassar dinheiro de caixa dois para políticos de diversos partidos, sobretudo petistas.
A Centrus está entre os dez maiores fundos de pensão do país, que serão investigados pela CPI dos Correios por suposta participação no esquema comandado por Valério.

"Estranheza"
Segundo relatório investigativo da SPC sobre as operações da Centrus, datado de fevereiro de 2001, a fundação aplicou R$ 50 milhões no CVC/Opportunity entre julho e outubro de 1998, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Pela gestão dos recursos aplicados, o Opportunity receberia 2% ao ano sobre o patrimônio líquido do fundo, além de honorários de 20% sobre os ganhos que excedessem o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) no período, mais 6% ao ano a título de "custo de oportunidade".
No dia 30 de junho do ano seguinte, a diretoria e o Conselho Deliberativo da Centrus realizaram reunião extraordinária para debater os investimentos da fundação, entre os quais a aplicação no CVC/Opportunity.
Na ocasião, o conselheiro Ernesto Albrecht demonstrou "estranheza" em relação aos investimentos que o CVC/Opportunity teria feito. O CVC/Opportunity foi criado para investir nos leilões de desestatização do sistema Telebrás. Ou seja, por meio desse fundo, as fundações compraram participação nas empresas de telefonia privatizadas.
No relatório, a SPC considerou que a aplicação da Centrus no CVC/Opportunity foi "mal direcionada", por considerar que a fundação não deveria pagar taxa de administração de 2% ao ano nem taxa de performance.
Segundo a SPC, outros fundos destinados à privatização das teles cobravam taxas muito menores. O fundo do Bozzano Simonsen cobrava então "única e exclusivamente" taxa de 0,05% ao ano.
Mesmo diante das considerações do conselheiro Ernesto Albrecht e do relatório da SPC, em julho do ano passado a Centrus decidiu aplicar mais R$ 28 milhões no CVC/Opportunity, em quatro parcelas de R$ 7 milhões.
A primeira foi realizada, mas as demais foram suspensas no mês passado, depois de as perdas no fundo terem aumentado. Em junho deste ano, as perdas registradas eram de R$ 27 milhões -mais da metade do aporte inicial que havia sido feito.


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