São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2001

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Resultado faz governador cancelar encontro de hoje com Leonel Brizola, que tenta levá-lo para o PDT

Itamar sinaliza que deve ficar no PMDB

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Mesmo com a derrota de seu grupo na convenção, o governador de Minas, Itamar Franco, deu sinais de que poderá permanecer no PMDB para disputar a prévia que indicará o candidato do partido à sucessão presidencial.
Os indícios foram dados pelos itamaristas mais próximos do governador mineiro, já que ele não deu declarações durante a uma hora e três minutos em que permaneceu no local da disputa.
A maior demonstração disso veio depois da chegada de Itamar a Minas, quando o governador cancelou encontro que teria hoje com Leonel Brizola, presidente nacional do PDT. Brizola tenta levá-lo para o seu partido.
Mas os itamaristas não se arriscaram a dizer quando seria o dia do "fico". "Se não ganharmos aqui, vamos às prévias", disse antes do resultado da convenção o deputado federal Hélio Costa.
À tarde, Costa e o vice-governador de Minas, Newton Cardoso, contabilizavam no mínimo 35% de votos para a chapa do senador Maguito Vilela. Era com base nesse número que os dois cogitavam a permanência de Itamar. O secretário de Governo de Minas, Henrique Hargreaves, um dos principais articuladores de Itamar, não quis antecipar a decisão do governador, mas afirmou que Itamar ficou "satisfeito com a receptividade" que teve.
Para quem temia ser hostilizado, como aconteceu em 1998, o fato de o governador mineiro quase não ter sido vaiado em sua chegada simbolizou uma espécie de vitória na derrota. A claque itamarista o recebeu com gritos de "Itamar, guerreiro do povo brasileiro". Poucas vaias foram ouvidas.
Quando Itamar chegou à convenção, discursava o candidato situacionista. Temer interrompeu sua fala para recepcionar o governador. Quando voltou a falar, foi logo defendendo a prévia e o seu apoio ao vencedor. Dirigindo-se a Itamar, Temer disse: "O PMDB terá candidato a presidente da República. Pode ser o senhor ou o senador Pedro Simon. Aquele que vencer terá o nosso apoio".
A fala foi, para Hargreaves, um comprometimento público. "Temer se comprometeu, ficou difícil para ele. Como vai voltar atrás?"
Itamar entrou e saiu mudo. Emitiu apenas duas frases já no aeroporto, quando voltava para Minas, depois de votar. "No furor dos acontecimentos, nem sequer general em guerra fala", disse. Questionado se ficaria no partido, declarou: "Calma, calma, calma!".
A estratégia de Itamar de não discursar na convenção foi para evitar bater de frente com os governistas, já que o que ele teria a dizer não agradaria aos defensores de Temer.
Mas o vice de Itamar não poupou os governistas. Disse que o partido estava "dividido entre os que querem Itamar presidente e os que querem ser capachos do Palácio do Planalto". Invocando a imagem da Santa Ceia, Newton disse: "Não dá para olhar para aquela imagem e ver o Judas com dinheiro na mão".

Encontro
O resultado da convenção e, principalmente, a aprovação de uma moção recomendando o rompimento com o governo e chamando FHC de "traidor do PMDB", deixaram itamaristas satisfeitos e levaram o governador a cancelar o encontro com Brizola.
Segundo Alexandre Dupeyrat, assessor político de Itamar, a moção é "mais importante do que o resultado" e marca a postura do partido. Diante disso, Dupeyrat afirmou que a tendência de Itamar é permanecer no PMDB até as prévias.
O resultado levou o assessor a dizer que o encontro de hoje com Brizola "nunca foi marcado", apesar de o próprio Itamar tê-lo citado e de a reunião estar em sua agenda oficial.
Ao chegar a Minas, Hargreaves declarou que a disputa nas prévias será mais fácil porque "todos os convencionais votaram pela candidatura própria e, além disso, nem todos que votaram em Michel Temer são contra Itamar".


Colaborou RANIER BRAGON, da Agência Folha, em Belo Horizonte


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