São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

Publicitário deixa campanha de Alckmin e ataca serristas

Lucas Pacheco culpa tucanos ligados ao governador por problemas no programa

Marqueteiro diz que "lobos em pele de cordeiro" fizeram orquestração para espremer Alckmin; "não dá para fazer campanha autista", afirma


Marlene Bergamo - 15.ago.08/Folha Imagem
FORA
Lucas Pacheco, ex-marqueteiro de Alckmin, que está em empate técnico com Kassab no Datafolha


RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL

O marqueteiro Lucas Pacheco está fora da campanha de Geraldo Alckmin, que disputa a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB. Em entrevista à Folha, ele culpou os tucanos ligados a José Serra pelas dificuldades enfrentadas pela campanha.
Pacheco, que será substituído por Raul Cruz Lima, critica sobretudo os "lobos em pele de cordeiro" -referência velada a José Henrique Reis Lobo, presidente do PSDB municipal e secretário do governador.

 

FOLHA - O que deu errado?
LUCAS PACHECO
- Desde o princípio entendi que o Geraldo corria em faixa própria. Costumava dizer que estávamos na Castelo Branco. À direita, o prefeito, contando com a simpatia da máquina estadual. À esquerda, a candidata do PT, também numa faixa muito bem pavimentada. Para nós sobrou o canteiro central: a grama. Eu dizia que o Geraldo era o candidato off-road.

FOLHA - E por que não funcionou?
PACHECO
- Nossa estratégia se baseava em quatro pontos. Primeiro: o Geraldo colocar o dedo na ferida, apontar os graves problemas que a cidade tem. Porque isso aqui não é "Alice no País das Maravilhas". Segundo: apresentar propostas viáveis, criativas. Terceiro: resgatar a obra do Geraldo. Afinal, ele estava um pouco esquecido. Mostrar o que ele já fez, aliado a todos os atributos positivos e à baixa rejeição que ele tem. Quarto -e mais importante: resolver a equação política.

FOLHA - Que equação?
PACHECO
- Essa situação de você ter duas candidaturas disputando a mesma fatia do mercado eleitoral. O PSDB alckmista e o PSDB kassabista.

FOLHA - Mas isso não é um dado de realidade, uma vez que o partido está na prefeitura e, ao mesmo tempo, Alckmin resolveu disputar a eleição?
PACHECO
- O que sustenta uma campanha é o pilar político. Há um segundo pilar, que envolve mobilização, organização, recursos, e um terceiro, que é a comunicação. Mas o fundamental é o pilar político.

FOLHA - Qual foi a linha decidida antes de o programa de TV estrear?
PACHECO
- O primeiro programa foi para o ar em 20 de agosto. Reapresentava o Geraldo ao eleitor. No segundo programa, dois dias depois, começamos a executar a estratégia de colocar o dedo na ferida. Dos problemas da saúde, da educação. O Tobias da Vai-Vai cantava um samba quase fúnebre que dizia que faltam mais de cem mil vagas nas escolas e nas creches. No dia seguinte, um sábado, o mundo tucano-kassabista, ligado ao governo do Estado, caiu sobre a cabeça do candidato. Começou uma pressão insuportável. Diziam que estávamos batendo na gestão do Serra na prefeitura. Estávamos mostrando os problemas. Não dá para fazer campanha autista.

FOLHA - Quem fazia a pressão?
PACHECO
- Os lobos em pele de cordeiro. Que se diziam porta-vozes da insatisfação do Serra. Fizeram uma orquestração para acuar o candidato. Tentar espremê-lo. Assim como tentaram, primeiro, inviabilizar a candidatura, trabalharam depois para tornar seu discurso inviável. Se ele não puder apontar os problemas, vai dizer o quê? Não é o prefeito. Não foi prefeito. É um ex-governador que acredita ter uma missão. E eu acredito que ele tem. Mas não deixaram ele falar. Quero deixar registrado que, no meio de todo esse processo, ele teve dois leões ao lado dele: o Edson Aparecido [coordenador-geral da campanha] e o Julio Semeguini [deputado federal muito próximo a Alckmin].

FOLHA - "Lobos em pele de cordeiro" é referência a José Henrique Reis Lobo, secretário do governo Serra e presidente do PSDB municipal?
PACHECO
- É uma referência a todos os que diziam ao candidato que ele deveria esquecer o Kassab e falar apenas da Marta, que ele podia acreditar que estava muito próximo o dia em que o PSDB ia chegar junto. O PSDB que ele não tem. Foram muitos acenos. Diziam que ele teria apoio explícito, e não apenas gravado em fita. Mas diziam apenas para acalmá-lo e para convencê-lo a não falar da gestão Kassab.

FOLHA - O sr. se refere ao vídeo com declaração de José Serra que lhe foi entregue para ser incluído no primeiro programa de TV?
PACHECO
- O que eu posso dizer é que essas pessoas falavam em nome dele.

FOLHA - O que o sr. achou da declaração gravada por Serra?
PACHECO
- Correta. De homem de partido. Nada além disso.

FOLHA - O candidato cedeu?
PACHECO
- Ele foi convencido de que a mudança poderia contribuir para unir o partido em torno dele. Mas isso nunca aconteceu. Não era isso o que queriam. Eles queriam que o Geraldo fosse desidratado.

FOLHA - Como ficou o programa?
PACHECO
- Tivemos que fazê-lo apenas em cima de atributos e propostas. Isso, numa cidade que se divide entre o voto no PT e o voto anti-PT, é mortal. A classe média que vota no PSDB e que vive na Manhattan paulistana, que nunca foi à Brasilândia, a Itaquera, nunca viu uma AMA nem uma UBS, começou a assistir àquele festival de maravilhas [no programa de Kassab] e a achar que está tudo ótimo. Mudar pra quê? É mudança ou continuidade? Eu acho que o Geraldo tem de ser o candidato da mudança. E ficou impossível dizer isso na TV.

FOLHA - Como o sr. responde ao que dizem que a propaganda de Alckmin é tecnicamente ruim?
PACHECO
- Não temos os recursos das outras duas campanhas, feitas, aliás, por dois profissionais por quem tenho o maior respeito [João Santana, de Marta Suplicy, e Luiz Gonzalez, de Kassab]. E temos menos tempo. Tinha de adotar uma estética mais próxima da vida das pessoas que sofrem. Mas os lobos em pele de cordeiro conseguiram contaminar o noticiário com a versão de que havia crise de formato, não de conteúdo. Vi coisas nesta campanha que fariam o malufismo corar.

FOLHA - Por exemplo?
PACHECO
- As acusações de compra de delegados [por kassabistas] antes da convenção do PSDB. Isso na cidade mais avançada do país.

FOLHA - O sr. está fora?
PACHECO
- Decidi sair depois de conversar com o Geraldo e com o Edson, para o bem do candidato. Quando você insiste numa tese, passa a atrapalhar o processo. Mas ponho a maior fé na campanha, no Raul Cruz Lima, que vai assumir, e na vitória. Depois de três meses, estou louco para ver meus netos.


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