São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / DEBATE

Candidatos distorcem dados em duelo

Lula exagera número de empregos criados; proposta de Alckmin de vender o AeroLula para criar cinco hospitais não se sustenta

Ambos inflam números e forçam comparações para louvar o crescimento do país e de São Paulo em suas respectivas administrações


GUSTAVO PATU
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) recorreram a dados errados no debate de anteontem, durante o qual os auto-elogios exagerados do petista se depararam com a primeira promessa mirabolante feita pelo tucano nesta campanha: a venda do AeroLula para custear a construção de hospitais.
Para falar de crescimento econômico, um dos pontos fracos de sua administração, o presidente teve de fazer um remendo em seu mais tradicional bordão, o "nunca antes na história deste país" aplicado a qualquer tema político, econômico ou social. "Fizemos o país crescer como em nenhum momento de sua história nos últimos 20 anos", disse, no debate na TV Bandeirantes.
Mesmo com a restrição da história nacional a um período tão curto, a afirmação não se sustenta. Os governos José Sarney (1985-1990) e Itamar Franco (1992-1994) registraram taxas médias de crescimento bem superiores aos 2,7% anuais do mandato de Lula -considerando, no cálculo, a previsão de 3% neste ano.
Lula omitiu que os mencionados 20 anos compõem o período de crescimento mais baixo desde, ao menos, os anos 50. Não há estatísticas confiáveis para décadas anteriores.
Já Alckmin, que insistiu no discurso de choque de gestão e rigor fiscal, apresentou como proposta mais marcante uma medida que contraria princípios básicos do gasto público fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal. "Vou vender esse AeroLula. Vou vender e vou fazer cinco hospitais com esse dinheiro", prometeu, referindo-se ao avião oficial do Planalto, adquirido pelo atual governo.
Se levada a sério, a idéia significa, na prática, criar uma despesa permanente com base em uma receita transitória. Ainda que a venda do avião, que custou aos cofres públicos cerca de R$ 125 milhões, seja suficiente para as obras (um hospital inaugurado em agosto em Juiz de Fora custou R$ 37 milhões, mas há opções mais baratas), faltariam recursos para manter posteriormente os hospitais em funcionamento.
Além disso, os deslocamentos presidenciais poderiam ficar mais caros, a longo prazo. Segundo dados da Aeronáutica, o aluguel de um avião privado para o transporte do presidente no governo FHC custava US$ 12 mil por hora voada, contra US$ 2.100 no uso do AeroLula.
Ainda no figurino de administrador eficiente, Alckmin fez, a exemplo de Lula, propaganda enganosa do crescimento econômico obtido em São Paulo -segundo ele, superior ao desempenho nacional.
De 2001, quando Alckmin assumiu o Estado com a morte de Mario Covas, a 2004, São Paulo cresceu a uma taxa média de apenas 2,4% ao ano. Seu melhor resultado, que evitou uma média ainda pior, foram os 7,6% de 2004, sob Lula.
O presidente, que na campanha de 2002 falou em gerar 10 milhões de empregos, alegou durante o debate ter criado 7 milhões, uma número de procedência duvidosa.
Não há uma estatística oficial para a criação de empregos no país. O levantamento que mais se aproxima disso é a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE, que constatou, de 2002 a 2005, um aumento de 6,4 milhões do número de pessoas ocupadas.
Os gastos em saneamento também foram superestimados por Lula. Mesmo considerado empréstimos contratados, mas ainda não desembolsados, com dinheiro do FGTS, os investimentos ficaram longe dos R$ 10 bilhões mencionados. O custo com servidores contratados sem concurso foi superestimado por Alckmin. A conta só alcança os R$ 8 bi citados se contabilizadas as gratificações pagas a funcionários de carreira.


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