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ELEIÇÕES 2006 / DEBATE
Candidatos distorcem dados em duelo
Lula exagera número de empregos criados; proposta de Alckmin de vender o AeroLula para criar cinco hospitais não se sustenta
Ambos inflam números e forçam comparações para louvar o crescimento do país e de São Paulo em suas respectivas administrações
GUSTAVO PATU
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo
Alckmin (PSDB) recorreram a
dados errados no debate de anteontem, durante o qual os auto-elogios exagerados do petista se depararam com a primeira
promessa mirabolante feita pelo tucano nesta campanha: a
venda do AeroLula para custear a construção de hospitais.
Para falar de crescimento
econômico, um dos pontos fracos de sua administração, o
presidente teve de fazer um remendo em seu mais tradicional
bordão, o "nunca antes na história deste país" aplicado a
qualquer tema político, econômico ou social. "Fizemos o país
crescer como em nenhum momento de sua história nos últimos 20 anos", disse, no debate
na TV Bandeirantes.
Mesmo com a restrição da
história nacional a um período
tão curto, a afirmação não se
sustenta. Os governos José Sarney (1985-1990) e Itamar Franco (1992-1994) registraram taxas médias de crescimento
bem superiores aos 2,7%
anuais do mandato de Lula
-considerando, no cálculo, a
previsão de 3% neste ano.
Lula omitiu que os mencionados 20 anos compõem o período de crescimento mais baixo desde, ao menos, os anos 50.
Não há estatísticas confiáveis
para décadas anteriores.
Já Alckmin, que insistiu no
discurso de choque de gestão e
rigor fiscal, apresentou como
proposta mais marcante uma
medida que contraria princípios básicos do gasto público fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal. "Vou vender esse
AeroLula. Vou vender e vou fazer cinco hospitais com esse dinheiro", prometeu, referindo-se ao avião oficial do Planalto,
adquirido pelo atual governo.
Se levada a sério, a idéia significa, na prática, criar uma
despesa permanente com base
em uma receita transitória.
Ainda que a venda do avião, que
custou aos cofres públicos cerca de R$ 125 milhões, seja suficiente para as obras (um hospital inaugurado em agosto em
Juiz de Fora custou R$ 37 milhões, mas há opções mais baratas), faltariam recursos para
manter posteriormente os hospitais em funcionamento.
Além disso, os deslocamentos presidenciais poderiam ficar mais caros, a longo prazo.
Segundo dados da Aeronáutica,
o aluguel de um avião privado
para o transporte do presidente
no governo FHC custava US$
12 mil por hora voada, contra
US$ 2.100 no uso do AeroLula.
Ainda no figurino de administrador eficiente, Alckmin
fez, a exemplo de Lula, propaganda enganosa do crescimento econômico obtido em São
Paulo -segundo ele, superior
ao desempenho nacional.
De 2001, quando Alckmin assumiu o Estado com a morte de
Mario Covas, a 2004, São Paulo
cresceu a uma taxa média de
apenas 2,4% ao ano. Seu melhor resultado, que evitou uma
média ainda pior, foram os
7,6% de 2004, sob Lula.
O presidente, que na campanha de 2002 falou em gerar 10
milhões de empregos, alegou
durante o debate ter criado 7
milhões, uma número de procedência duvidosa.
Não há uma estatística oficial
para a criação de empregos no
país. O levantamento que mais
se aproxima disso é a Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE, que
constatou, de 2002 a 2005, um
aumento de 6,4 milhões do número de pessoas ocupadas.
Os gastos em saneamento
também foram superestimados
por Lula. Mesmo considerado
empréstimos contratados, mas
ainda não desembolsados, com
dinheiro do FGTS, os investimentos ficaram longe dos R$ 10
bilhões mencionados. O custo
com servidores contratados
sem concurso foi superestimado por Alckmin. A conta só alcança os R$ 8 bi citados se contabilizadas as gratificações pagas a funcionários de carreira.
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