São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / DEBATE

Lula se cala sobre cartilhas; Alckmin ignora Nossa Caixa

Confrontados com questões polêmicas, candidatos preferem falar de outros temas

Com o passar dos blocos, os dois foram abandonando a formalidade no tratamento; o petista, porém, não foi chamado de "presidente"


RODRIGO RÖTZSCH
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

No primeiro debate entre os dois na TV, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin foram incisivos na hora de atacar um ao outro, mas evasivos no momento de se explicarem sobre questões espinhosas colocadas pelo adversário.
O presidente Lula começou deixando sem resposta a questão que abriu o confronto, feita pelo mediador, Ricardo Boechat, que quis saber, especificamente, quais gastos o governo cortaria para evitar uma reforma da Previdência.
Lula, segundo a responder, atacou Alckmin, dizendo que ele usava chavões e citou números positivos da sua administração -mas não disse onde deixaria de gastar.
A primeira questão feita por Alckmin, e repetida à exaustão pelo tucano durante o debate, também não teve resposta conclusiva do petista. Alckmin quis saber de onde veio o dinheiro para a compra de um dossiê contra tucanos por petistas. "Sou presidente, não sou policial", disse Lula para justificar que não tinha a resposta.
O presidente também não respondeu se abriria o sigilo dos cartões corporativos da Presidência -preferiu chamar Alckmin de "leviano"- e o destino de R$ 11 milhões de gastos não-comprovados para a confecção de cartilhas do governo.
Alckmin, por sua vez, também fugiu da resposta na primeira vez em que foi questionado pelo adversário.
Lula quis saber se o tucano, ao nomear como presidente da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, sabia das "transações obscuras" na qual Barjas estaria envolvido. "Não meça as pessoas pela sua régua. Nunca tive ministro condenado", defendeu-se o tucano. Barjas é acusado de ter beneficiado a máfia dos sanguessugas quando foi ministro, em 2002.
O tucano também não respondeu por que não resolveu o problema das rebeliões da Febem -disse apenas que ele não era fácil e atribuiu a culpa ao governo federal por falta de investimentos -e ignorou uma menção de Lula ao favorecimento na distribuição de publicidade a aliados pelo banco estatal paulista Nossa Caixa.
O presidente disse em uma réplica que, para mostrar que o tucano entendia de publicidade, bastava investigar o banco. Na tréplica, Alckmin não se pronunciou sobre o assunto.
Embora tenha feito questão de tachar de "mentira política" a "boataria" de que ele acabaria com o Bolsa Família, questionado sobre que políticas sociais adotaria em um governo seu, Alckmin preferiu se referir à "leviandade" de Lula ao não citar que foi o governo Fernando Henrique Cardoso quem começou programas como Bolsa Escola e Bolsa Alimentação, fundidos no Bolsa Família.
O investimento com o social foi a justificativa de Lula para dizer que seu governo "gasta bem" e não responder a pergunta de Alckmin sobre os gastos feitos neste ano com inclusão digital, segurança pública e reaparelhamento das Forças Armadas -que seriam muito pequenos, segundo o tucano.

Tratamento
Único dos dois em exercício de um mandato, Lula não ouviu de Alckmin nenhuma vez o tratamento "presidente". Foi chamado de "candidato", "candidato Lula" ou só "Lula".
O tucano só "lembrou" de mencionar o cargo que o petista ocupa quando o criticou, chamando-o de "presidente fraco" no combate à violência.
Já o petista começou tratando o adversário como "governador" -cargo que o tucano ocupou em São Paulo até março deste ano- e chegou a chamá-lo de "vossa Excelência", antes de optar por "Alckmin" e até escorregar em alguns "vocês" mais para o fim.
Nos dois casos, a formalidade no tratamento foi diminuindo com o passar dos blocos. Assim como os "elogios" contra o adversário foram disparados com maior freqüência nos últimos blocos do programa.
Na troca de gentilezas entre os dois, Lula recomendou, por quatro vezes seguidas, que seu adversário não fosse leviano em seus comentários.
Já Alckmin ora chamava o petista de "arrogante", ora insinuava que seu concorrente mentia. Afirmou que Lula "não fala a verdade", é "mal informado", "se omite" e, no último bloco, chamou-o de "mentiroso". O tucano acusou o petista até de "roubar" os aplausos de Kofi Annan na ONU, em referência a um truque de edição usado pelo programa de TV do PT.


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