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ELEIÇÕES 2006 / DEBATE
Lula se cala sobre cartilhas; Alckmin ignora Nossa Caixa
Confrontados com questões polêmicas, candidatos preferem falar de outros temas
Com o passar dos blocos, os dois foram abandonando a formalidade no tratamento; o petista, porém, não foi chamado de "presidente"
RODRIGO RÖTZSCH
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO
No primeiro debate entre os
dois na TV, Luiz Inácio Lula da
Silva e Geraldo Alckmin foram
incisivos na hora de atacar um
ao outro, mas evasivos no momento de se explicarem sobre
questões espinhosas colocadas
pelo adversário.
O presidente Lula começou
deixando sem resposta a questão que abriu o confronto, feita
pelo mediador, Ricardo Boechat, que quis saber, especificamente, quais gastos o governo
cortaria para evitar uma reforma da Previdência.
Lula, segundo a responder,
atacou Alckmin, dizendo que
ele usava chavões e citou números positivos da sua administração -mas não disse onde
deixaria de gastar.
A primeira questão feita por
Alckmin, e repetida à exaustão
pelo tucano durante o debate,
também não teve resposta conclusiva do petista. Alckmin quis
saber de onde veio o dinheiro
para a compra de um dossiê
contra tucanos por petistas.
"Sou presidente, não sou policial", disse Lula para justificar
que não tinha a resposta.
O presidente também não
respondeu se abriria o sigilo
dos cartões corporativos da
Presidência -preferiu chamar
Alckmin de "leviano"- e o destino de R$ 11 milhões de gastos
não-comprovados para a confecção de cartilhas do governo.
Alckmin, por sua vez, também fugiu da resposta na primeira vez em que foi questionado pelo adversário.
Lula quis saber se o tucano,
ao nomear como presidente da
CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) o ex-ministro da Saúde
Barjas Negri, sabia das "transações obscuras" na qual Barjas
estaria envolvido. "Não meça as
pessoas pela sua régua. Nunca
tive ministro condenado", defendeu-se o tucano. Barjas é
acusado de ter beneficiado a
máfia dos sanguessugas quando foi ministro, em 2002.
O tucano também não respondeu por que não resolveu o
problema das rebeliões da Febem -disse apenas que ele não
era fácil e atribuiu a culpa ao
governo federal por falta de investimentos -e ignorou uma
menção de Lula ao favorecimento na distribuição de publicidade a aliados pelo banco estatal paulista Nossa Caixa.
O presidente disse em uma
réplica que, para mostrar que o
tucano entendia de publicidade, bastava investigar o banco.
Na tréplica, Alckmin não se
pronunciou sobre o assunto.
Embora tenha feito questão
de tachar de "mentira política"
a "boataria" de que ele acabaria
com o Bolsa Família, questionado sobre que políticas sociais
adotaria em um governo seu,
Alckmin preferiu se referir à
"leviandade" de Lula ao não citar que foi o governo Fernando
Henrique Cardoso quem começou programas como Bolsa
Escola e Bolsa Alimentação,
fundidos no Bolsa Família.
O investimento com o social
foi a justificativa de Lula para
dizer que seu governo "gasta
bem" e não responder a pergunta de Alckmin sobre os gastos feitos neste ano com inclusão digital, segurança pública e
reaparelhamento das Forças
Armadas -que seriam muito
pequenos, segundo o tucano.
Tratamento
Único dos dois em exercício
de um mandato, Lula não ouviu
de Alckmin nenhuma vez o tratamento "presidente". Foi chamado de "candidato", "candidato Lula" ou só "Lula".
O tucano só "lembrou" de
mencionar o cargo que o petista ocupa quando o criticou,
chamando-o de "presidente
fraco" no combate à violência.
Já o petista começou tratando o adversário como "governador" -cargo que o tucano
ocupou em São Paulo até março deste ano- e chegou a chamá-lo de "vossa Excelência",
antes de optar por "Alckmin" e
até escorregar em alguns "vocês" mais para o fim.
Nos dois casos, a formalidade
no tratamento foi diminuindo
com o passar dos blocos. Assim
como os "elogios" contra o adversário foram disparados com
maior freqüência nos últimos
blocos do programa.
Na troca de gentilezas entre
os dois, Lula recomendou, por
quatro vezes seguidas, que seu
adversário não fosse leviano
em seus comentários.
Já Alckmin ora chamava o
petista de "arrogante", ora insinuava que seu concorrente
mentia. Afirmou que Lula "não
fala a verdade", é "mal informado", "se omite" e, no último bloco, chamou-o de "mentiroso".
O tucano acusou o petista até
de "roubar" os aplausos de Kofi
Annan na ONU, em referência
a um truque de edição usado
pelo programa de TV do PT.
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