São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Renan afasta assessor, mas diz que não sai

Criticado por não ter demitido Francisco Escórcio, pivô do novo escândalo, presidente do Senado diz que não pode prejulgar

"Não pedi, não ordenei, não autorizei, não deleguei, não encomendei nenhuma atrocidade como essa", disse Renan sobre a espionagem

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após ouvir apelos de senadores para deixar a presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse ao plenário da Casa que não recuará, culpou a imprensa pelas novas denúncias contra ele, e anunciou o afastamento do seu assessor especial, Francisco Escórcio, pivô do caso de espionagem.
Ele foi cobrado por ter apenas "afastado temporariamente" e não exonerado Escórcio enquanto durar a sindicância para apurar o caso na Casa. "É o que eu poderia fazer, não posso prejulgar", declarou o senador.
Renan discursou da tribuna, por cerca de 20 minutos, até ser interrompido por opositores. Falou em "linchamento", "infâmia" e avisou: "Sei que poderei responder a outras [acusações] na próxima semana. Não se surpreendam se surgir outra invencionice, outra maluquice qualquer. São esquizofrenias da política à procura de um autor", disse para em vários momentos atacar a imprensa.
"No Brasil, nosso jornalismo já não informa de maneira isenta e de maneira imparcial. Ele, infelizmente, persegue objetivos políticos", afirmou.
"Chegamos a um ponto em que o experiente jornalista Paulo Henrique Amorim batizou de "Partido da Imprensa'", discursou. "Todas as mentiras desta cooperativa da calúnia contra mim até aqui foram derrubadas pela força da verdade."
Diante de um plenário disposto a questioná-lo duramente, também apelou, diversas vezes, para o tom emocional. "Ouvi falar aqui de devassa, de plantação, e eu pensava comigo o que eu sofri, o que a minha família sofreu com relação a essas indignidades. Não desejo e não faria o mesmo a ninguém, absolutamente a ninguém."
Renan atribuiu o agravamento da crise no Senado a uma "campanha" de "setores da imprensa". "Quando as velhas denúncias vão ficando frágeis, vão caducando por inverídicas, busca-se uma nova trama para envenenar o ambiente aqui do Senado e indispor-me contra os senhores, alimentar artificialmente essa crise", afirmou.
Disse ter ligado aos senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO) para negar que tenha sido mandatário do esquema de arapongagem contra eles. "Repito que é mentira, não pedi, não ordenei, não autorizei, não deleguei, não encomendei nenhuma atrocidade como essa."
Depois dirigiu-se à Casa sobre os rumores de que mandou levantar supostas notas frias usadas por senadores para justificar verbas indenizatórias. "Não fiz e não farei nenhuma espécie de levantamento sobre a vida pessoal ou política de nenhum senador. Bisbilhotar a vida alheia não é uma prática que eu aprove, muito menos que incentive, autorize ou concorde."
Quando encerrava seu pronunciamento, ouviu pedidos para que concedesse apartes. Relutou, mas acabou cedendo o primeiro deles, a Marconi Perillo (PSDB-GO). Ouviu o primeiro questionamento de por que não demitiu o assessor.
Na seqüência, foi a vez de Pedro Simon (PMDB-RS). Renan ouviu impaciente e, em seguida, tentou negar o aparte a Aloizio Mercadante (PT-SP). "Não quero conceder apartes justamente porque não quero fazer o debate sobre esse assunto."
O petista insistiu: "Não quero fazer um debate, mas queria expressar o meu sentimento mais profundo de tudo isso [...] É uma situação institucional inaceitável". Renan retrucou: "Inaceitável do ponto de vista da denúncia. Vossa Excelência me conhece muito bem e sabe que abomino essa prática [renúncia]. A minha formação política não autorizaria que isso jamais acontecesse."
Mercadante continuou falando e Renan abandonou a tribuna. Voltou para a cadeira da presidência e pediu que o senador Papaléo Paes (PSDB-AP), que presidia a sessão, cortasse a palavra do petista. Mercadante voltou a falar depois.


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