São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Gravação na tribuna constrange Renan

Em áudio divulgado por Demóstenes, advogado diz que assessor do presidente do Senado queria fotografar senadores da oposição

Peemedebista disse que a gravação não é prova e que objetivo do colega do DEM é transformar o Senado em uma "delegacia de polícia"

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O confronto entre Demóstenes Torres (DEM-GO) e Renan Calheiros (PMDB-AL) foi o momento mais tenso da sessão de ontem no Senado. Alvo de suposta tentativa de espionagem planejada por um assessor de Renan, Demóstenes reproduziu gravação de entrevista concedida à Folha pelo advogado Heli Dourado, na qual ele citava a intenção do assessor.
Renan disse que a gravação não é prova e que Demóstenes queria transformar o Senado "numa delegacia de polícia".
Também negou a Demóstenes mais tempo além dos cinco minutos previstos pelo regimento, obrigando-o a encerrar o discurso e deixar a tribuna.
Francisco Escórcio, assessor especial de Renan na Presidência do Senado, esteve em Goiânia (GO) no dia 24 do mês passado. Ele tentou levantar informações contra Demóstenes e o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), segundo afirmou o senador do DEM.
Do escritório de Dourado, Escórcio ligou para o ex-deputado e empresário Pedro Abrão, dono de hangar e da empresa Voar Aviação, em Goiânia. Abrão encontrou-se com Escórcio no escritório do advogado. Dourado presenciou a conversa. Amigo de Demóstenes, Abrão contou tudo ao senador. Disse que Escórcio queria fotografar e filmar Demóstenes e Perillo embarcando em aviões de empresário. O motivo seria montar um dossiê contra os dois, para obrigá-los a votar a favor de Renan nas representações que o presidente do Senado enfrenta no conselho.
Na sexta-feira da semana passada, Escórcio confirmou à Folha que estivera com Abrão no escritório de Dourado. Admitiu que fez perguntas sobre os senadores, mas que eram questões sobre a política local e planos dos dois para as próximas eleições. Escórcio, no entanto, negou ter falado com Abrão sobre espionar ou fotografar os congressistas goianos. No sábado, a Folha fez uma entrevista por telefone, gravada, com Dourado. Ele confirmou parcialmente a versão de Escórcio, porém divergindo num ponto crucial. Confirmou que o assessor de Renan e Abrão trataram, sim, de fotografar os dois senadores no hangar do empresário.
"Eles falaram, falaram, falaram, falaram, aí entrou nessa discussão [...]. O Pedrinho fez uma pergunta, falou: o Renan estava muito preocupado, mas a primeira votação já passou e tal. E aí [...] o Pedrinho Abrão disse o seguinte: que o senador Marconi Perillo sempre saía do hangar dele e que, se [Escórcio] quisesse, seria a coisa mais fácil do mundo fotografar ele [Perillo] saindo ali e entrando no hangar", contou Dourado.
Na segunda-feira, Dourado contestou que havia dado a declaração. No mesmo dia, Demóstenes solicitou à Folha a gravação. Depois de apontar contradições nas versões dos envolvidos no episódio, ontem ele reproduziu o áudio aos demais senadores no plenário do Senado.
Assim como Demóstenes, vários senadores pediram, diante da prova, que Renan se licenciasse do cargo.
"A conversa existiu, temos de concordar. Essa é uma das provas", disse Demóstenes.
"Citaram meu nome [na gravação], mas sem me envolver nesse assunto repugnante. Só uma campanha poderia levar isso adiante. Lamento ver isso daqui, da Presidência", disse o presidente do Senado.


Colaboraram SILVIO NAVARRO, ANDREZA MATAIS e MARIA LUIZA RABELLO, da Sucursal de Brasília

Ouça a entrevista concedida por Heli Dourado à Folha


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