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Gravação na tribuna constrange Renan
Em áudio divulgado por Demóstenes, advogado diz que assessor do presidente do Senado queria fotografar senadores da oposição
Peemedebista disse que a gravação não é prova e que objetivo do colega do DEM é transformar o Senado em uma "delegacia de polícia"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O confronto entre Demóstenes Torres (DEM-GO) e Renan
Calheiros (PMDB-AL) foi o
momento mais tenso da sessão
de ontem no Senado. Alvo de
suposta tentativa de espionagem planejada por um assessor
de Renan, Demóstenes reproduziu gravação de entrevista
concedida à Folha pelo advogado Heli Dourado, na qual ele
citava a intenção do assessor.
Renan disse que a gravação
não é prova e que Demóstenes
queria transformar o Senado
"numa delegacia de polícia".
Também negou a Demóstenes mais tempo além dos cinco
minutos previstos pelo regimento, obrigando-o a encerrar
o discurso e deixar a tribuna.
Francisco Escórcio, assessor
especial de Renan na Presidência do Senado, esteve em Goiânia (GO) no dia 24 do mês passado. Ele tentou levantar informações contra Demóstenes e o
senador Marconi Perillo
(PSDB-GO), segundo afirmou
o senador do DEM.
Do escritório de Dourado,
Escórcio ligou para o ex-deputado e empresário Pedro
Abrão, dono de hangar e da empresa Voar Aviação, em Goiânia. Abrão encontrou-se com
Escórcio no escritório do advogado. Dourado presenciou a
conversa. Amigo de Demóstenes, Abrão contou tudo ao senador. Disse que Escórcio queria fotografar e filmar Demóstenes e Perillo embarcando em
aviões de empresário. O motivo
seria montar um dossiê contra
os dois, para obrigá-los a votar
a favor de Renan nas representações que o presidente do Senado enfrenta no conselho.
Na sexta-feira da semana
passada, Escórcio confirmou à
Folha que estivera com Abrão
no escritório de Dourado. Admitiu que fez perguntas sobre
os senadores, mas que eram
questões sobre a política local e
planos dos dois para as próximas eleições. Escórcio, no entanto, negou ter falado com
Abrão sobre espionar ou fotografar os congressistas goianos.
No sábado, a Folha fez uma
entrevista por telefone, gravada, com Dourado. Ele confirmou parcialmente a versão de
Escórcio, porém divergindo
num ponto crucial. Confirmou
que o assessor de Renan e
Abrão trataram, sim, de fotografar os dois senadores no
hangar do empresário.
"Eles falaram, falaram, falaram, falaram, aí entrou nessa
discussão [...]. O Pedrinho fez
uma pergunta, falou: o Renan
estava muito preocupado, mas
a primeira votação já passou e
tal. E aí [...] o Pedrinho Abrão
disse o seguinte: que o senador
Marconi Perillo sempre saía do
hangar dele e que, se [Escórcio]
quisesse, seria a coisa mais fácil
do mundo fotografar ele [Perillo] saindo ali e entrando no
hangar", contou Dourado.
Na segunda-feira, Dourado
contestou que havia dado a declaração. No mesmo dia, Demóstenes solicitou à Folha a
gravação. Depois de apontar
contradições nas versões dos
envolvidos no episódio, ontem
ele reproduziu o áudio aos demais senadores no plenário do
Senado.
Assim como Demóstenes,
vários senadores pediram,
diante da prova, que Renan se
licenciasse do cargo.
"A conversa existiu, temos de
concordar. Essa é uma das provas", disse Demóstenes.
"Citaram meu nome [na gravação], mas sem me envolver
nesse assunto repugnante. Só
uma campanha poderia levar
isso adiante. Lamento ver isso
daqui, da Presidência", disse o
presidente do Senado.
Colaboraram SILVIO NAVARRO, ANDREZA MATAIS e MARIA LUIZA RABELLO, da Sucursal de Brasília
Ouça a entrevista concedida por Heli Dourado à Folha
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