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Governo quer doar aeronaves a vizinhos na América Latina
Presidente utiliza equipamentos que devem sair de linha para
fazer diplomacia com regimes da esquerda latino-americana
Lula enviou ao Congresso
pedido de autorização para
transferência; Ministério
da Defesa argumenta que
doações "estreitam laços"
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula encaminhou
nesta semana ao Congresso
Nacional pedido que, se atendido, resultará na autorização da
doação em todo o seu mandato
de pelo menos 27 aeronaves a
outros países, em especial Bolívia, Equador e Paraguai.
Lula enviou na quarta-feira
dois projetos de lei em que manifesta intenção de transmitir
gratuitamente quatro helicópteros e um avião da Força Aérea
Brasileira à Bolívia e ao Equador, pedido que se soma a outro, feito em maio, que pretende beneficiar o Paraguai com
três aviões de ataque.
Bolívia e Equador, que estão
entre os principais destinatários das doações, fazem parte
da Alba, a aliança regional de
esquerda liderada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que cedeu aviões ao governo do boliviano Evo Morales.
Há alguns dias, Chavez fechou
acordos de cooperação com o
Equador, de Rafael Correa.
As doações pretendidas pelo
governo foram defendidas pelo
ministro da Defesa, Nelson Jobim, sob o argumento, entre
outros, de que os atos reforçarão o bom relacionamento com
os países beneficiados, "estreitando ainda mais os laços de
cooperação mútua".
No documento assinado por
ele, e que acompanha os projetos, Jobim argumenta que a
FAB possui exemplares mais
modernos e econômicos e que a
medida evitará gastos de manutenção, já que as aeronaves
que serão doadas estão desativadas ou serão substituídas.
Antes de Lula, a Folha localizou nos registros da Câmara
dos Deputados doação só nos
governos de Itamar Franco
(1992-1994) e de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974),
quando o Congresso autorizou
a cessão de monomotores à Bolívia e ao Paraguai.
A primeira doação do governo Lula foi autorizada com a
aprovação de lei em 2004 para
o Senegal (veja quadro).
Os três projetos que tramitam no Congresso preveem a
doação de três aviões de treinamento e ataque para o Paraguai, quatro helicópteros para
a Bolívia e um avião de transporte de tropas ao Equador.
A doação para o Paraguai já
foi aprovada por unanimidade
por três comissões do Congresso. "A iniciativa se coaduna
com os princípios constitucionais que norteiam as relações
internacionais do Brasil", escreveu em seu relatório o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), da Comissão de Relações
Exteriores da Câmara.
Procurada ontem pela manhã, a assessoria do Ministério
da Defesa informou à noite que
não conseguiria responder a
tempo aos questionamentos.
O brigadeiro José Carlos Pereira, ex-presidente da Infraero, afirmou que todas as doações autorizadas pelo Congresso foram efetivadas: "Essas
doações têm um certo caráter
imperialista. Eu me lembro
que um dos primeiros aviões
que usei foi um F-80 doado pelos EUA, vindo da Guerra da
Coreia [1950-53], todo furado
de bala. Mas os que nós doamos
não, foram todos revisados, estavam em perfeita condição".
Brasil finaliza agora processo
de aquisição de 36 caças. Na
disputa, estão modelos da
França, da Suécia e dos EUA.
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