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QUESTÃO AGRÁRIA
Superintendente do órgão no Estado é acusado de usar verba para transportar a Folha a assentamentos
Entidade move ação contra Incra do Paraná
DA AGÊNCIA FOLHA
O Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo
ingressou ontem na Procuradoria
da República, em Curitiba, com
representação contra o superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) no Paraná, José Carlos
Araújo Vieira, por supostos desvios de verbas do órgão.
Vieira é acusado de usar recursos do Incra no Paraná para pagamento de combustível e de ceder
veículo e motorista para que a Folha produzisse reportagem sobre
os assentamentos.
Em 14 de maio, o jornal revelou
que o MST desviou dinheiro do
projeto de reforma agrária ao recolher "pedágio financeiro" de
3% dos recursos enviados aos assentamentos controlados pelo
movimento. Os assentados têm à
disposição recursos que só são liberados -por pessoas indicadas
pelo MST- com a comprovação
do pagamento do pedágio.
O diretor da Sucursal de Brasília
Josias de Souza e o repórter-fotográfico Alan Marques estiveram
na sede do Incra, em Curitiba, para obter informações sobre assentamentos do Estado.
Ao saber que os repórteres planejavam visitar assentamentos, a
então superintendente-adjunta,
Maria Rozalina Arend, disse que
seria mais seguro se fossem em
carro do Incra, acompanhados de
motorista do órgão.
A Folha disse a Rozalina Arend
que pagaria as despesas relativas
ao deslocamento do carro e do
motorista da repartição. E, durante a viagem, custeou alimentação
e hospedagem do profissional.
Quanto às demais despesas, como
gasolina, a superintendente disse
que não poderia receber o pagamento do jornal, alegando dificuldades contábeis. A Folha possui
gravação em que ela reafirma o
que havia declarado em maio.
Na representação enviada à
Procuradoria da República, as 24
entidades que formam o Fórum
anexaram documentos sobre o
pagamento de diárias e uso de
carro do órgão com a presença de
jornalistas da Folha.
Ontem, às 14h, em coletiva à imprensa na sede da CPT (Comissão
Pastoral da Terra), em Curitiba, a
advogada Teresa Cofré, da Renaap (Rede Nacional Autônoma
de Advogados Populares), Darci
Frigo, da CPT, e José Damasceno
de Oliveira, da direção nacional
do MST, afirmaram que o "desvio
de recursos públicos para profissionais de uma empresa privada
faz parte de uma ação orquestrada para a criminalização do movimento sem-terra".
José Damasceno Oliveira, do
MST, disse que "uma prova dessa
orquestração foi que, após a publicação da reportagem, o Incra
demitiu 55 profissionais que trabalhavam nos assentamentos no
Paraná e iniciou o processo de criminalização do movimento".
Segundo ele, os demitidos seriam técnicos do projeto Lumiar
que faziam vistorias e preparavam documentação para liberação de verbas ao MST, além de pedagogas e assistentes sociais que
trabalhavam em assentamentos.
Os técnicos do projeto Lumiar
foram apontados, na reportagem,
como participantes do processo
de cobrança de 3% do crédito liberado aos assentados, como forma de "pedágio" para o MST.
A advogada Cofré afirmou que
na representação é solicitada ainda investigações sobre se "houve
gasto de dinheiro público para
transportar o diretor da Folha e o
fotógrafo de Brasília a Curitiba".
A representação contra o superintendente local deverá seguir a
um cartório que direciona a mesma para o procurador responsável, no Estado, pela área de defesa
do patrimônio público. A partir
daí, o procurador solicita esclarecimentos ao Incra. Depois do retorno do ofício, ele pode decidir
pelo arquivamento da representação ou pela abertura de um inquérito. Não existe prazo para nenhuma das fases desse processo.
Incra
O presidente do Incra, Orlando
Muniz, disse ontem que o órgão
proporcionou transporte à Folha
porque "é dever do poder público
dar publicidade de seus atos",
conforme o art. 37 da Constituição. O artigo diz que a administração pública direta e indireta de
qualquer dos poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e
dos municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. "A Constituição é
imperativa: o governo tem de ser
aberto", disse Orlando Muniz.
Segundo ele, o Incra tem como
praxe viabilizar a realização de reportagens em assentamentos,
mesmo que elas contenham denúncias contra o órgão. Ele disse
que o Incra coloca transporte e
técnicos à disposição de qualquer
jornalista que quiser fazer reportagens em seus projetos: "Muitas
vezes, os repórteres não sabem
como chegar aos assentamentos e
precisam de explicações técnicas.
Quando reportagens são publicadas, elas não têm cor", declarou.
Muniz lembrou que as reportagens levantadas pelo jornal "possibilitaram a colocação de 1.300
técnicos do projeto Lumiar (de
assistência técnica) para fora dos
assentamentos". A medida, disse
ele, "não nos confortou administrativamente, mas foi necessária".
Para Muniz, "a transparência do
governo deve servir, inclusive, para ajudar a corrigir falhas.
No começo da noite, o Ministério do Desenvolvimento Agrário
distribuiu nota à imprensa em
que afirma que "atende igualmente a todos os jornalistas interessados na cobertura da questão
agrária, independentemente do
enfoque que eles venham a dar a
seu trabalho ou da opinião que
venham a formar em função dos
fatos e esclarecimentos".
Nota da Redação - O comportamento do diretor da Sucursal de Brasília, Josias de Souza, e
do repórter-fotográfico Alan
Marques foi absolutamente correto. A "denúncia" alardeada
ontem é uma tentativa desesperada de confundir a opinião pública. Quem está se apropriando
de recursos públicos e achacando assentados, conforme revelou a reportagem, é o MST. Não é
de agora que esse grupo pratica
atos ilegais. A novidade é que
passou a adotar métodos mafiosos, cobrando propinas em troca
de "proteção".
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