São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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Jarbas Vasconcelos quer formar dissidência para "expelir" Itamar

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), 59, defende a formação de uma dissidência com mais de 50% do partido para inviabilizar qualquer possibilidade de candidatura do governador Itamar Franco (PMDB-MG) à Presidência da República.
"Defendo uma dissidência para não votar em Itamar, para expeli-lo, para tirá-lo dessa candidatura", afirmou Jarbas, em entrevista à Agência Folha na noite de anteontem. Itamar foi procurado ontem, por intermédio de sua assessoria, mas não comentou as declarações de Jarbas.
O governador pernambucano afirmou ainda que uma vitória do deputado Michel Temer (SP) nas prévias do partido reconduziria o PMDB à mesa de negociações para manutenção da aliança governista, apesar da decisão anterior pela candidatura própria.
A seguir, trechos da entrevista.

 

Agência Folha - Por que o senhor desistiu de disputar as prévias?
Jarbas Vasconcelos -
Eu nunca tive a intenção de disputar prévias ou de ser candidato a presidente. Sempre defendi uma tese: só teremos chances na eleição se mantivermos a base partidária.

Agência Folha - Que análise o senhor faz da entrada do deputado federal e presidente do PMDB, Michel Temer, nas prévias?
Jarbas -
Até segunda-feira ele se define para enfrentar Itamar [Franco". Itamar deveria procurar um partido de oposição. Procurou o PMDB, partido com que tem pouca identidade, e quer postular uma candidatura oposicionista, levando o partido a um constrangimento.
O PMDB tem sido governista, e a opinião pública não vai tolerar: o governo foi bom e prestou até ontem, hoje não presta porque vai ter uma candidatura de oposição.

Agência Folha - O senhor defende o esvaziamento das prévias, caso o governador seja candidato único?
Jarbas -
Defendo outra tese: ou a candidatura própria -não tenho muita simpatia por essa opção- com Michel Temer, para a gente ganhar como ganhou a convenção, ou então formar uma dissidência que seja maior que o candidato, ou seja, uma dissidência com mais de 50% do partido.

Agência Folha - Uma dissidência para atuar em que momento?
Jarbas -
Uma dissidência para não votar em Itamar, para expeli-lo, para tirá-lo dessa candidatura.

Agência Folha - Na possibilidade de Itamar ser o candidato, qual seria a opção dos governistas?
Jarbas -
Acho que o PMDB deve ter disposição de sentar à mesa para discutir com os outros partidos, PSDB, PFL. Coisa que o Itamar Franco não cogita, não aceita.

Agência Folha - E se Michel Temer vencer?
Jarbas -
Pode ser o candidato e terá flexibilidade para discutir isso que acabei de colocar.

Agência Folha - O senhor acha que ele retomaria as conversações para manter o PMDB na aliança?
Jarbas -
Acho. Senão ele já teria comandado a retirada do partido do governo.

Agência Folha - Poderia então haver uma revisão da decisão do partido de ter candidato próprio?
Jarbas -
Não, não é isso. Ele seria candidato, mas ninguém se elege sozinho. O que eu quero dizer é que Michel vai procurar apoio, e quem vai buscar apoio, se encontrar alguém com potencial maior, pode ceder. Isso não é improvável. Política é força, é jogo democrático de discussão.

Agência Folha - Itamar disse que a traição pode existir em homens acoplados ao Palácio do Planalto...
Jarbas -
Isso é um disco virado. Ele só sabe dizer isso.

Agência Folha - E o seu futuro?
Jarbas -
Só decidirei em março. Mas, com toda a certeza, candidato à Presidência não serei.


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