São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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NO IMPÉRIO

Em discurso hoje na ONU, presidente vai defender cadeira no Conselho de Segurança para combater melhor o terrorismo

FHC insiste em vaga no conselho da ONU

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente durante visita a museu de Nova York, onde está a exposição "Brasil, corpo e alma"


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O presidente Fernando Henrique Cardoso insistirá na entrada do Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em seu discurso de hoje na abertura da Assembléia Geral, em Nova York.
A aceitação seria uma maneira de o país poder participar mais efetivamente na luta mundial contra o terrorismo, dirá FHC.
"Temos necessidade de ter uma participação mais ativa, não só o Brasil, mas os países emergentes", disse o presidente brasileiro ontem, durante visita realizada à exposição "Brazil: Body and Soul" (Brasil: Corpo e Alma), no Museu Guggenheim. "São necessárias algumas modificações nas Nações Unidas", disse.
O Conselho de Segurança da ONU tem atualmente cinco membros permanentes: EUA, Rússia, China, Reino Unido e França. Concretamente, discute-se a entrada ou não da Alemanha, mas Brasil e Argentina são rivais na disputa por uma cadeira.
Apenas os membros permanentes têm poder de veto sobre as deliberações.
Anteontem, durante encontro na Casa Branca com o presidente George W. Bush, FHC já havia tocado no assunto. "Disse a ele [Bush" a importância, para nós brasileiros, de que houvesse uma participação maior nossa, inclusive nos organismos formais, como no Conselho de Segurança."
O pleito não recebe acolhida unânime nem na própria ONU. "É uma vaidade que não se justifica", disse à Folha um ex-oficial da entidade que pede para não ser identificado. "A última vez que o Conselho discutiu um tema relacionado, nem sequer ao país, mas à América Latina, foi há 20 anos, na Guerra das Malvinas."
Como é tradição desde a criação da ONU, o Brasil fala hoje após o secretário-geral, Kofi Annan, e antes de George W. Bush. Em 2000, na edição batizada de "Cúpula do Milênio", o discurso de abertura foi feito pelo então chanceler Luiz Felipe Lampreia.
A 56ª edição da Assembléia Geral foi adiada por dois meses (deveria ter acontecido logo após o ataque terrorista aos EUA) e ganha importância extraordinária justamente devido aos acontecimentos dos últimos tempos no mundo. O terrorismo foi assunto também do encontro que FHC teve ontem de manhã com o presidente do Peru, Alejandro Toledo, na sede da Missão do Brasil. Na saída, o peruano disse que os dois países preparam uma ação conjunta. "A nossa posição não dá espaço a ambiguidade", disse.
Segundo Toledo, o terrorismo é "algo muito nítido, já que o nosso país perdeu 25 mil pessoas e gastou US$ 30 milhões devido a ações de grupos terroristas". O dirigente peruano também defende uma participação maior dos países latinos em órgãos de decisão internacionais.

Visita às ruínas
Hoje, após o discurso na Assembléia e algumas atividades relacionadas ao evento, FHC visita as ruínas do World Trade Center. Irá com os presidentes Fernando de la Rúa, da Argentina, e o chileno Ricardo Lagos.
A primeira-dama brasileira, Ruth Cardoso, chegou a ser convidada, mas recusou. "Nós todos nos sentimos atingidos pelo que aconteceu em Nova York", disse FHC. "Não só pelo número de brasileiros que morreram, que é pequeno, mas pela destruição".
Mesmo sem ter estado no local, o presidente imagina que a sensação deverá ser comparável a quando entrou no campo de concentração nazista de Treblinka, na então Tcheco-Eslováquia.


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