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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PÉ NO FREIO
Após encontro com Lula, Renan derruba sessão na qual investigação seria estendida
Planalto e aliados agem para evitar que CPI seja prorrogada
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma articulação patrocinada
pelo Palácio do Planalto e pela base de sustentação de Luiz Inácio
Lula da Silva no Congresso resultou ontem em pelo menos duas
interferências nos trabalhos da
CPI dos Correios.
Em uma delas, PSDB e PT fecharam acordo para atenuar investigações na comissão (leia texto nesta página). Em outra, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), retardou uma
ação que resultaria na prorrogação da CPI até abril, o que o Palácio do Planalto pretende impedir.
Tanto Renan como o presidente
da CPI, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), se encontraram ontem com Lula. Em entrevista na
segunda-feira ao programa "Roda Viva", o presidente disse não
haver "nenhuma ingerência do
governo para criar qualquer problema para a CPI".
Já pela manhã, após o encontro
com Lula, Renan deu uma força
para o governo ao derrubar uma
sessão do Congresso na qual seria
lido o requerimento de prorrogação da CPI dos Correios. A manobra foi para que o Planalto tivesse
mais tempo para tentar convencer deputados e senadores a retirar assinaturas do documento.
A decisão de Renan foi tomada
com o argumento de que seria necessário conferir as assinaturas do
requerimento antes de lê-lo. O
documento, ao ser lido, prorroga
automaticamente a CPI até a metade de abril de 2006. Sem a prorrogação, a investigação fica extinta em 15 de dezembro.
As assinaturas da Câmara já estavam todas conferidas quando
Renan derrubou a sessão do Congresso. Faltava conferir os nomes
dos senadores, mas isso poderia
ser feito durante a própria sessão.
Ao todo, a oposição dizia ter 222
deputados e 30 senadores apoiando a extensão do prazo de funcionamento da CPI. Depois de feita a
conferência dos nomes, o número
de deputados caiu para 205.
Para ser prorrogada, uma comissão mista (como é o caso da
dos Correios) precisa do apoio de
um terço dos parlamentares de
cada Casa do Congresso. O mínimo, portanto, é de 171 deputados
(do total de 513) e de 27 senadores
(do total de 81).
Ao longo do dia, conforme a Folha apurou, o Planalto se mobilizou para retirar os nomes da lista.
A idéia inicial era fazer esse investimento tanto na Câmara como
no Senado. Com apenas quatro
defecções de senadores já estaria
inviabilizada a prorrogação.
No meio da tarde, o deputado
Francisco Dornelles (PP-RJ)
anunciou à direção do partido
que iria retirar seu nome da lista.
Esse foi um sinal de como andava
a operação governista. O PP está
para receber novos cargos no governo. Um na Petrobras e outro
no Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Hoje está marcada uma sessão
do Congresso na qual, em tese,
poderá ser lido o requerimento de
prorrogação da CPI se houver
quórum suficiente. Renan fez um
acordo com congressistas de oposição e governistas para não adiar
mais a leitura do requerimento.
Até lá, o governo poderá trabalhar
pela retirada de assinaturas.
Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ontem à noite que
seu governo "não faz carnaval"
quando encontra irregularidades
em prefeituras.
Lula falava das investigações da
Controladoria Geral da União em
mais de 800 prefeituras, quando
disse que "o objetivo não é punir,
não é fazer carnaval com aquilo
que encontramos, e encontramos
muita coisa errada".
O presidente disse que não faz
carnaval porque é melhor preparar o prefeito, "para que ele faça
correto da próxima vez". Quando
"o resultado é adverso ao prefeito", Lula afirmou que seu governo
prefere "mandar ao Ministério
Público ao invés de ficar acusando os prefeitos".
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