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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Ministro se queixa com Lula de ataque econômico no momento em que acusações de corrupção o fragilizam e reclama de "cansaço"
Palocci critica Dilma e diz que crise pode levá-lo a deixar cargo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversa ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) reclamou de críticas da
colega Dilma Rousseff (Casa Civil) e disse que as sucessivas acusações de corrupção contra ele
podem levá-lo a deixar o governo.
Palocci se disse "cansado". Reclamou que faz "jornada dupla"
(gerenciar a economia e a crise) e
ainda tem de ouvir críticas numa
hora de fragilidade. Lula pediu
calma. Afastou hipótese de saída e
prometeu falar com Dilma.
O próprio Palocci conversou
com a ministra da Casa Civil ontem de manhã no Palácio do Planalto. No encontro, disse que ela
agravara a crise política e a sua situação específica ao desautorizá-lo em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". As críticas, disse
Palocci, vieram numa hora em
que ele sofre duros ataques da
oposição e na qual negociou ida a
comissão temática do Congresso
para evitar depor numa CPI.
A continuar as acusações, Palocci acha que poderá chegar à situação de José Dirceu, que deixou
a Casa Civil em junho, quando se
avolumaram suspeitas de sua participação no "mensalão". Ele fez
essa observação ao próprio Lula,
segundo apurou a Folha.
O presidente não gostou das críticas de Dilma. Crê que elas minam Palocci num momento difícil. Lula acha que, se o ministro da
Fazenda tiver de sair, seu governo
acaba. Sua posição é mantê-lo até
o limite, que imagina ainda distante. É Palocci que acha que essa
saída pode acabar ocorrendo se
continuar sob fogo cerrado.
Na entrevista, Dilma classificou
de "rudimentar" a proposta de
ajuste fiscal de longo prazo capitaneada pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento) com o
apoio de Palocci. E disse que o
país deveria reduzir os juros "para
sair do atoleiro". Afirmou que a
política monetária de juros altos
minimiza o efeito da política fiscal
(corte de gastos) e "enxuga gelo",
pois não diminui significativamente a dívida pública.
Em outros momentos em que
foi atacado pelo que chama de
"fogo amigo" (críticas de membros do próprio governo), Palocci
ameaçou deixar o posto para
pressionar Lula. Sempre teve êxito. A diferença agora, avalia Palocci, é que ele está se enfraquecendo politicamente semana após
semana em face de acusações a
respeito de sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto (SP) e como captador de recursos da campanha de Lula em 2002.
De fato, Palocci atuou como arrecadador de recursos na função
de coordenador do programa de
governo, mas fazia, segundo relato dele a membros da cúpula do
governo, contatos com grandes
empresários e não operações como o suposto caso Cuba.
Ou seja, tratou de finanças com
grandes empresários ao se reunir
com eles para falar do programa
de governo, mas não teria endossado a operação de transporte de
dólares de Cuba em caixas de bebida (conforme reportagem da
revista "Veja").
Dilma recua
Na conversa com Palocci, Dilma
recuou. Disse que o "rudimentar"
tinha sentido de "incipiente", ao
falar da discussão sobre ajuste fiscal de longo prazo. E falou, depois, com Paulo Bernardo, que estava contrariado com a entrevista.
Na semana passada, Dilma já
havia dito, em conversa com a Folha, que via um "conservadorismo intrínseco" na política econômica que exigia superávit primário alto, pois isso tornava mais difícil a liberação de recursos para
investimentos.
A ministra assumiu no governo
o contraponto que Dirceu fazia a
Palocci quando era ministro.
Palocci se queixa também dos
promotores de Ribeirão. Acusa-os, em conversas reservadas, de
fazer o jogo do PSDB paulista em
geral e do secretário da Segurança
Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, em particular.
Também reclama de Rogério Buratti, ex-assessor em Ribeirão que
fez acordo com os promotores.
Diz que ele faz acusações para
tentar obter uma proteção política impossível de ser dada (evitar,
por exemplo, que seja condenado
por acusação de corrupção).
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