São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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PF quer retirar dados da Folha de inquérito

Após pedir quebra de sigilo telefônico, Polícia Federal recua; retirada das informações dependerá de decisão da Justiça

Em nota, órgão diz que não teve intenção de investigar o jornal e que não pôde "identificar previamente a titularidade dos telefones"


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal pedirá à Justiça Federal em Mato Grosso a retirada, do inquérito que investiga o dossiê contra políticos tucanos, de todas as informações relativas à quebra do sigilo de um número de telefone utilizado pela Folha no comitê de imprensa da Câmara dos Deputados e de um celular utilizado por uma repórter do jornal. A PF não informou quando fará o pedido.
Os dois números tiveram o sigilo quebrado, juntamente com outros 167, graças a um pedido feito pela PF à 2ª Vara da Justiça Federal em Mato Grosso, no dia 24 de setembro.
O pedido fez parte das investigações, comandadas pelo delegado Diógenes Curado, sobre o dossiê negociado por emissários petistas com o objetivo de envolver políticos tucanos com a máfia dos sanguessugas.
Concedida a autorização judicial, a Brasil Telecom enviou à PF uma planilha que lista 1.218 ligações feitas e recebidas pela linha fixa utilizada pela Folha. As informações foram utilizadas posteriormente, em um relatório elaborado pelo setor de inteligência da PF, que registrou o nome "Folha da Manhã", referência à Empresa Folha da Manhã S.A. (que edita a Folha), no documento incluído no inquérito policial e enviado à CPI dos Sanguessugas.
Neste mesmo relatório de inteligência há registro, sem identificação, do telefone celular de um repórter do jornal "O Globo" e de um telefone do jornal "O Estado de S.Paulo", mas nenhum dos dois foi identificado nem teve o pedido de quebra de sigilo feito pela PF.
Tecnicamente, a PF pedirá à Justiça para "desentranhar" dos volumes que compõem o inquérito as informações sobre o sigilo telefônico e qualquer referência feita à Folha.
Os números do jornal apareceram no relatório pericial elaborado com base na análise do aparelho celular de Gedimar Passos, que foi preso no dia 15 de setembro, juntamente com Valdebran Padilha, em um hotel em São Paulo, com um R$ 1,75 milhão em dólares e reais. O dinheiro seria usado para pagar o dossiê, produzido pelos empresários Darci e Luiz Antonio Vedoin, que comandavam a máfia dos sanguessugas.
O superintendente da PF em Mato Grosso, delegado Daniel Lorenz, afirmou que, apesar de não fazer parte da investigação, a Folha teve seus dados e a razão social registrados em documentos do inquérito por uma questão de "transparência".
Leia a seguir íntegra de nota divulgada ontem pela PF.

 

"Em razão de diversas notícias veiculadas na mídia nacional no dia de hoje [ontem], 9 de novembro, o Departamento de Polícia Federal vem a público para esclarecer que:
O Departamento de Polícia Federal jamais trabalhou com a intenção de investigar a Folha de S.Paulo ou qualquer outro veículo de comunicação, seus profissionais ou ainda atentar contra sigilo de fonte ou a a liberdade de imprensa, a PF nunca solicitou ao Juízo pedidos contra a empresa Folha da Manhã S.A.; a inclusão de números de propriedade da Folha de S.Paulo dentre as solicitações de quebra de sigilo telefônico é exclusivamente fruto da impossibilidade de verificar previamente a propriedade dos terminais telefônicos e da celeridade que a sociedade brasileira e que a boa doutrina policial demandam em investigações tão graves e com tais características.
A Polícia Federal entende da maior importância o primado das liberdades de imprensa e expressão na vigência do Estado Democrático de Direito. A PF julga ainda que o bom conceito de que goza junto à opinião pública é resultado do livre exercício das liberdades que assistem os profissionais de jornalismo.
A PF não possuía na data em que solicitou as quebras de sigilo ao juiz do caso, 24 de setembro, meios de identificar previamente a titularidade dos telefones, e aproveita ainda a oportunidade para esclarecer que não requisitou as quebras dos telefones que interagiam com os números de Folha, pois este não era o objetivo dos investigadores que, sob determinação da Justiça Federal e vigilância do Ministério Público Federal, continuam a buscar o total esclarecimento do caso.


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