São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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Acesso a água esbarra em vontade política

Relatório da ONU afirma que má gestão é o outro obstáculo para enfrentar escassez do líquido em países em desenvolvimento

Documento sustenta que os pobres são forçados a pagar preço mais alto pela água por serem obrigados a lidar com prestadores de serviço


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO

A maior barreira para resolver o problema de acesso a água e saneamento em países em desenvolvimento é a falta de vontade política aliada à má gestão. É o que sustenta o Relatório de Desenvolvimento Humano 2006, apresentado pelas Nações Unidas sob o título "Além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água".
Segundo especialistas, o mundo já dispõe de tecnologia, meios financeiros e capacidade para acabar com o déficit, que não é pequeno. Segundo o relatório, em pleno século 21, um em cada cinco habitantes de países em desenvolvimento não tem acesso a água potável. Isso representa cerca de 1,1 bilhão de pessoas. Quase a metade da população desses países -2,6 bilhões- não dispõe de saneamento básico.
O reflexo é que 1,8 milhão de crianças morrem de diarréia por ano -segundo lugar nas causas de mortalidade infantil, atrás de Aids e conflitos. Além disso, doenças parasitárias atrasam a aprendizagem de 150 milhões de crianças, população superior à do Japão.
A falta de vontade estaria ligada ao fato de os mais afetados serem pobres. Mais de 660 milhões de pessoas sem saneamento vivem com até US$ 2 (ou R$ 4,40) ao dia. "Tal como a fome, é uma urgência silenciosa suportada por pessoas carentes e tolerada por aqueles que dispõem de recursos, tecnologia e poder político para acabar com ela", diz o texto.
Diante desse quadro, o relatório aponta a necessidade "urgente" de um Plano de Ação Global, sob liderança do G8 -grupo dos sete países mais ricos e a Rússia.
O documento exemplifica que seriam necessários mais US$ 10 bilhões anuais (R$ 22 bilhões) para que os países cumpram até 2015 os Objetivos do Milênio ligados à área.
Mantida a tendência atual, 55 países não cumprirão até 2015 a meta de reduzir pela metade a proporção da população sem água, e 74 não atingirão para saneamento. A carência desse serviço também é um dos fatores que ajudam a explicar estatísticas de falta às aulas. Isso porque o aluno fica constantemente doente ou utiliza seu tempo em busca de água.
Segundo o documento, pessoas carentes são forçadas a pagar um preço mais alto pela água potável, por terem de lidar com um leque de prestadores de serviço para obter o produto. Resultado: em Nairóbi, capital do Quênia, moradores de bairros pobres chegam a pagar até dez vezes mais pelo litro de água do que os com nível de renda maior. Cerca de um terço da população da cidade depende de vendedores ambulantes.
O relatório diz que o antigo debate entre o controle público e privado do setor de abastecimento de água e coleta de esgoto tem "desviado a atenção do desempenho inadequado dos fornecedores" na resolução do déficit global. Cita a necessidade de uma "nova abordagem" do problema, que coloque as pessoas carentes no centro do debate e busque soluções. (LUCIANA CONSTANTINO E ANTÔNIO GOIS)

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