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Acesso a água esbarra em vontade política
Relatório da ONU afirma que má gestão é o outro obstáculo para enfrentar escassez do líquido em países em desenvolvimento
Documento sustenta que os pobres são forçados a pagar preço mais alto pela água por serem obrigados a lidar com prestadores de serviço
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
A maior barreira para resolver o problema de acesso a água
e saneamento em países em desenvolvimento é a falta de vontade política aliada à má gestão.
É o que sustenta o Relatório de
Desenvolvimento Humano
2006, apresentado pelas Nações Unidas sob o título "Além
da escassez: poder, pobreza e a
crise mundial da água".
Segundo especialistas, o
mundo já dispõe de tecnologia,
meios financeiros e capacidade
para acabar com o déficit, que
não é pequeno. Segundo o relatório, em pleno século 21, um
em cada cinco habitantes de
países em desenvolvimento
não tem acesso a água potável.
Isso representa cerca de 1,1 bilhão de pessoas. Quase a metade da população desses países
-2,6 bilhões- não dispõe de
saneamento básico.
O reflexo é que 1,8 milhão de
crianças morrem de diarréia
por ano -segundo lugar nas
causas de mortalidade infantil,
atrás de Aids e conflitos. Além
disso, doenças parasitárias
atrasam a aprendizagem de 150
milhões de crianças, população
superior à do Japão.
A falta de vontade estaria ligada ao fato de os mais afetados
serem pobres. Mais de 660 milhões de pessoas sem saneamento vivem com até US$ 2 (ou
R$ 4,40) ao dia. "Tal como a fome, é uma urgência silenciosa
suportada por pessoas carentes
e tolerada por aqueles que dispõem de recursos, tecnologia e
poder político para acabar com
ela", diz o texto.
Diante desse quadro, o relatório aponta a necessidade "urgente" de um Plano de Ação
Global, sob liderança do G8
-grupo dos sete países mais ricos e a Rússia.
O documento exemplifica
que seriam necessários mais
US$ 10 bilhões anuais (R$ 22
bilhões) para que os países
cumpram até 2015 os Objetivos
do Milênio ligados à área.
Mantida a tendência atual,
55 países não cumprirão até
2015 a meta de reduzir pela metade a proporção da população
sem água, e 74 não atingirão para saneamento. A carência desse serviço também é um dos fatores que ajudam a explicar estatísticas de falta às aulas. Isso
porque o aluno fica constantemente doente ou utiliza seu
tempo em busca de água.
Segundo o documento, pessoas carentes são forçadas a pagar um preço mais alto pela
água potável, por terem de lidar
com um leque de prestadores
de serviço para obter o produto.
Resultado: em Nairóbi, capital
do Quênia, moradores de bairros pobres chegam a pagar até
dez vezes mais pelo litro de
água do que os com nível de
renda maior. Cerca de um terço
da população da cidade depende de vendedores ambulantes.
O relatório diz que o antigo
debate entre o controle público
e privado do setor de abastecimento de água e coleta de esgoto tem "desviado a atenção do
desempenho inadequado dos
fornecedores" na resolução do
déficit global. Cita a necessidade de uma "nova abordagem"
do problema, que coloque as
pessoas carentes no centro do
debate e busque soluções.
(LUCIANA CONSTANTINO E ANTÔNIO GOIS)
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