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Foco
No Ceará, moradores do campo chegam a pagar R$ 35 para os carros-pipa
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARIDADE (CE)
Na casa onde Antônia Maria Menezes Sampaio, 45, vive com sua família, na zona
rural de Caridade (a 100 km
de Fortaleza), não há torneiras nem qualquer serviço
público de abastecimento de
água. Para conseguir água
para beber, ela tem de pagar
R$ 35 para um carro-pipa
encher um reservatório de
4.000 litros -que têm de durar, para as seis pessoas da
casa, pelo menos 15 dias.
O dinheiro para comprar
essa água é tirado dos R$ 80
que ela recebe todo mês do
programa Bolsa Família.
Quando acaba a água e o dinheiro, o jeito é apelar para a
água tirada, no lombo de um
jumento, de um açude. "Se
não fosse esse problema da
falta d'água, esse lugar seria
perfeito. Gosto muito de viver aqui, é calmo, mas sempre é esse sofrimento para
ter o que beber", diz. Na cidade há locais atendidos por
carros-pipa do Exército, que
fornecem água de graça.
Para ter acesso a essa água,
José Claneilson Silva de
Abreu, 20, e Aldenísio Sampaio, 17, escavavam anteontem um buraco para construir uma cisterna -que deverá atender oito famílias
que vivem próximas ao local.
Enquanto isso, a água consumida vem dum "cacimbão".
Em outra comunidade de
Caridade já foram instalados
os canos de abastecimento.
O problema é que, em uma
semana, saiu água da torneira só um dia. No local, um galão de 200 litros custa R$ 4,
se água for boa, ou R$ 2, se
for imprópria para consumo
humano. "Água de açude não
é boa para beber, mas, quando não tenho dinheiro, o jeito é comprar essa mesmo",
diz Francisco Lopes, 67.
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