São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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Foco

No Ceará, moradores do campo chegam a pagar R$ 35 para os carros-pipa

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARIDADE (CE)

Na casa onde Antônia Maria Menezes Sampaio, 45, vive com sua família, na zona rural de Caridade (a 100 km de Fortaleza), não há torneiras nem qualquer serviço público de abastecimento de água. Para conseguir água para beber, ela tem de pagar R$ 35 para um carro-pipa encher um reservatório de 4.000 litros -que têm de durar, para as seis pessoas da casa, pelo menos 15 dias.
O dinheiro para comprar essa água é tirado dos R$ 80 que ela recebe todo mês do programa Bolsa Família. Quando acaba a água e o dinheiro, o jeito é apelar para a água tirada, no lombo de um jumento, de um açude. "Se não fosse esse problema da falta d'água, esse lugar seria perfeito. Gosto muito de viver aqui, é calmo, mas sempre é esse sofrimento para ter o que beber", diz. Na cidade há locais atendidos por carros-pipa do Exército, que fornecem água de graça.
Para ter acesso a essa água, José Claneilson Silva de Abreu, 20, e Aldenísio Sampaio, 17, escavavam anteontem um buraco para construir uma cisterna -que deverá atender oito famílias que vivem próximas ao local. Enquanto isso, a água consumida vem dum "cacimbão".
Em outra comunidade de Caridade já foram instalados os canos de abastecimento. O problema é que, em uma semana, saiu água da torneira só um dia. No local, um galão de 200 litros custa R$ 4, se água for boa, ou R$ 2, se for imprópria para consumo humano. "Água de açude não é boa para beber, mas, quando não tenho dinheiro, o jeito é comprar essa mesmo", diz Francisco Lopes, 67.


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