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Chávez propõe sociedade a Lula na "Petroamazônia"
Venezuelano diz que descoberta da Petrobras pode levar Brasil a entrar na Opep
O assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia afirma que descoberta de petróleo não fará o Brasil abandonar política de biocombustíveis
RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, disse ontem ao
seu colega Luiz Inácio Lula da
Silva que as descobertas de novas reservas no Brasil o transformaram em um "magnata petroleiro" e propôs a criação de
uma "Petroamazônia" unindo
as petroleiras de ambos países.
As declarações foram feitas
na 17ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e Governo, em Santiago do Chile,
que acaba hoje. Lula não respondeu aos comentários, porque, por falta de tempo, não fez
o discurso que tinha previsto.
Em seu discurso de pouco
mais de 20 minutos, Chávez
abordou quatro vezes a descoberta da Petrobras. A primeira
foi quando falava do tema da
cúpula -coesão social: "Podia
haver um caminho muito coeso
[para a Ibero-América], de terra, de asfalto e desse petróleo
que o Brasil acaba de conseguir,
tomara que seja verdade. Que
pode permitir ao Brasil entrar
na Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo]".
Depois disse que a Venezuela
está formando a "Petroamérica" com países da região, e agregou: "Com o Lula, agora que
tem tanto petróleo, podemos
fazer uma Petroamazônia".
Em seguida, afirmou que
"Lula está muito feliz" porque o
"petróleo agora está a US$ 100
[o barril]". Por fim, propôs que
Brasil e Venezuela vendessem
petróleo mais barato a países
necessitados: "Lula, agora que
você é um magnata petroleiro,
temos que nos unir para ajudar
aos países que não têm tanto
petróleo, vender mais barato".
O presidente brasileiro riu das
brincadeiras do venezuelano.
A insistência de Chávez com
o tema mostrou um certo tom
de preocupação com a concorrência do Brasil no campo
energético, maior trunfo do venezuelano para exercer sua liderança sobre países da região.
Sem inveja
O assessor especial para Assuntos Internacionais de Lula,
Marco Aurélio Garcia, negou
que as declarações de Chávez
mostrem despeito pela descoberta brasileira. "Como Chávez
vai ter inveja se a Venezuela é o
único grande produtor petroleiro na região?", questionou.
"Eu conversei com o Chávez
há pouco e ele disse: "Isso para
nós é ótimo. Nós vamos dar
muito mais força à América do
Sul". E ainda brincou: "Eu vou
propor na semana que vem, na
próxima reunião da Opep na
Arábia Saudita, o ingresso do
Brasil". É bobagem, porque nós
antes vamos ter que extrair esse petróleo", afirmou.
Marco Aurélio disse que a
proposta da Petroamazônia
não significa a criação de uma
só empresa unindo a Petrobras
e a venezuelana Pdvsa. "Antes
disso já havia uma outra proposta, que associava a Enarsa
(Argentina), Petrobras e a
Pdvsa na chamada Petrosur. A
idéia não é formar uma só companhia, de maneira nenhuma.
Em realidade não precisaria
propor uma Petroamazônia,
até porque o petróleo não é na
Amazônia. A Petrosur é muito
mais uma espécie de acordo petroleiro entre os três países."
Sobre a venda de petróleo
mais barato à região, disse que
isso "não está em discussão".
Segundo Marco Aurélio, o novo
petróleo encontrado é importante não só pela sua quantidade, mas pela qualidade. "Nós
vamos ter um petróleo de altíssima qualidade. Um petróleo tipo Arábia Saudita, tipo Líbia.
Evidentemente é um trunfo
econômico muito grande."
Marco Aurélio afirmou que a
descoberta de mais petróleo
não fará o Brasil abandonar o
desenvolvimento de biocombustíveis. "Não vamos abandonar nosso programa de biocombustíveis, muito pelo contrário, vamos aprofundá-lo.
Posso contar uma piada. O
Chávez me disse: "Agora vamos
produzir biocombustíveis na
Venezuela, se vocês estão produzindo tanto petróleo"."
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