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Boom de sites de campanha não explora interatividade
Número de páginas de candidatos cresce 317%, mas políticos ignoram recursos da rede
Dados são de pesquisa da UNB; para especialistas,
experiências de Obama nos EUA e Gabeira no Rio podem estimular campanha on-line
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A internet, terreno em que as
campanhas de Barack Obama e
Fernando Gabeira fizeram sucesso neste ano, é ocupada cada
vez mais por candidatos, mas
poucos sabem explorá-la.
Segundo pesquisa da UnB
(Universidade de Brasília),
houve crescimento de 317% no
número de sites de candidatos
no Brasil, em comparação com
as últimas eleições municipais.
Mas o boom não foi acompanhado da interatividade, como
fizeram o presidente eleito dos
EUA e o candidato derrotado à
Prefeitura do Rio.
Os dois mobilizaram jovens
para suas campanhas, criando
"pontos de encontro" de adeptos em seus sites. As páginas tinham espaços em que voluntários organizavam ações sem a
tutela dos candidatos, mas em
favor deles. Eleitores de Gabeira, por exemplo, fizeram uma
doação de sangue em massa,
imagem que depois foi usada na
campanha oficial.
O mesmo não ocorreu com
os demais candidatos. Segundo
estudo de Francisco Brandão,
pesquisador da UnB, 9.254 candidatos a prefeito e vereador
criaram sites de campanha,
contra 2.218 em 2004. Mas a
maioria ignorou recursos interativos, usando as páginas como "folders eletrônicos" -com
fotos, textos e vídeos apenas.
A falta de legislação clara sobre propaganda na internet e o
receio em descentralizar a
campanha frearam, segundo
especialistas, a interatividade.
Neste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) adotou para a
internet as regras na campanha
de TV e rádio, o que gerou dúvidas entre candidatos.
"Muitas vezes o candidato
tem insegurança de fazer determinado evento e depois ser
questionado pela Justiça Eleitoral", diz Brandão.
Sem milagres
Especialistas afirmam que as
experiências de Obama e Gabeira vão obrigar os demais a
ampliar o uso de ferramentas
digitais. Mas não crêem no surgimento de um fenômeno eleitoral só a partir da rede.
"Se um candidato de pouquíssima relevância usa a internet muito bem, isso não vai necessariamente alçá-lo a uma
posição melhor", diz o cientista
político Francisco Paulo Jamil,
da UFMG.
A pesquisa de Brandão indica
justamente que a internet serviu, até agora, a candidatos com
forte estrutura de campanha. A
proporção de candidatos "conectados" é maior nos principais partidos e entre políticos
que já exercem mandato.
"É preocupante, porque a internet pode apenas repetir distorções que existem no nosso
sistema eleitoral e político. Mas
mostra a força desse meio, porque os atores mais influentes já
estão interessados nele", diz.
A campanha de Obama afirma ter recebido doações de 3,1
milhões de pessoas na internet.
Gabeira tentou arrecadar pela
rede, mas não conseguiu autorização do TSE, que promete
regulamentar esse tipo de doação para a próxima eleição.
O avanço sobre a rede tem
como alvo uma fatia de 34% da
população que acessa a internet, segundo o Comitê Gestor
da Internet. O percentual chega a 60% entre os jovens.
Para Jamil, os candidatos
com eleitorado jovem têm mais
chance de "lucrar" com a internet, mas devem adequar o site.
"Se o candidato defende propostas para os jovens, e esse
eleitor entra no site e só há uma
foto e um texto chato que está
desatualizado, esse vínculo é
quebrado."
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