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RUMO A 2002
Apoio do colega paulista leva governador do Ceará a enfrentar os aliados que apóiam Serra à Presidência
Candidato de Covas, Tasso reage ao PMDB
ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DO PAINEL
Abençoado pelo governador de
São Paulo, Mário Covas, que o alçou na quarta-feira à condição de
nome ideal do tucanato para concorrer à sucessão do presidente
Fernando Henrique Cardoso, o
governador do Ceará, Tasso Jereissati, 51, está disposto a enfrentar politicamente o comando nacional do PMDB.
Atuando há cerca de um mês
nos bastidores de Brasília, depois
de um longo período de hibernação no Ceará -pelo qual foi criticado no PSDB justamente por ter
se afastado do centro do poder-,
Tasso engajou-se de vez na disputa pessoal de Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) para impedir
Jader Barbalho (PMDB-PA) de
chegar à presidência do Senado.
Mais do que isso. Com o acesso
privilegiado que tem a FHC, tem
sugerido em conversas reservadas
que o ministro dos Transportes,
Eliseu Padilha (PMDB-RS), deveria ser sacrificado na reforma ministerial que se espera para depois
das eleições às presidências das
duas Casas do Congresso.
O jogo de Tasso hoje é esse, embora saiba que Padilha seja um
dos grandes operadores da base
política de FHC, em processo de
crise interna e desarranjo.
A disposição de Tasso não recua
nem sob a hipótese de ter mais
adiante apenas PSDB e PFL como
base de apoio à sua eventual candidatura. O governador julga que
o preço mais alto seria ter o
PMDB submetido a esse grupo no
futuro governo, caso ganhe a eleição, do que caminhar sem o apoio
dele na campanha de 2002.
Personalizada nas figuras dos
senadores Jader e Renan Calheiros (AL), do presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e do líder
Geddel Vieira Lima (BA), além de
Padilha, a cúpula que hoje controla nacionalmente o PMDB tem no
ministro José Serra (Saúde) sua
maior opção à Presidência.
A candidatura Serra, porém, sofreu um duro revés com a declaração de apoio de Covas a Tasso. O
mesmo Covas que, há pouco tempo, no programa "Roda Viva", da
TV Cultura, defendeu o fim da
aliança com o PFL no pós-FHC,
joga agora decisivamente para
fortalecer a candidatura tucana
que mais agrada ao PFL.
O jogo cruzado das alianças parece incoerente, mas a lógica da
política raramente é linear. Menos ainda agora, que Covas enfrenta um momento pessoal tão
delicado. Tentou-se explicar o
gesto do governador paulista como uma maneira de esvaziar, ou
neutralizar, a candidatura de Ciro
Gomes (PPS). Com Tasso no páreo, Ciro, seu afilhado político, ficaria impedido ou, no mínimo,
constrangida de levar adiante sua
candidatura.
A avaliação é correta, não há dúvida. Mas há, sobretudo, no gesto
de Covas uma reação à precipitação com que Serra, segundo a
avaliação do governador, começou a articular sua candidatura
presidencial, procurando cacifar-se dentro do PSDB como se Covas
já fosse carta fora do baralho sucessório. Está, sim, excluído como
candidato, mas o estrago que provocou nas pretensões do ministro
da Saúde com uma simples declaração mostra bem o tamanho de
sua força atual.
Covas
O governador de São Paulo é
muito grato à maneira solidária
com que Tasso agiu até que a recidiva de seu câncer lhe desse certeza de que está impedido de concorrer à sucessão. Para Covas,
neste momento, a questão das
alianças tornou-se menor diante
da dívida que julga ter com Tasso.
Cauteloso, o cearense ainda evita dar sinais explícitos de que deseja ser candidato a presidente.
Costuma dizer entre amigos que
Serra planejou toda a sua vida política e dirige todas as energias para esse fim, enquanto ele, um empresário, talvez fosse mais feliz se
permanecesse no Ceará. Mas, em
silêncio, age no sentido de viabilizar a candidatura.
Depois do infarto que sofreu há
quatro meses, Tasso parou de fumar e está submetido a uma dieta
rigorosa. Em todo o Palácio do
Cambeba, em Fortaleza, onde fica
sede do governo, mandou proibir
o cigarro. Orientação médica para
evitar que a fumaça circule pelo ar
condicionado central. Tasso diz a
amigos que o enfarte lhe deu um
grande susto e o fez relembrar de
que é um homem safenado. Em
86, com 38 anos de idade, o governador havia sido submetido a
uma cirurgia cardíaca para implantação de duas mamárias e
uma safena.
Tasso não demonstra ter sido
pego de surpresa pelo apoio que
recebeu de Covas na semana passada. Ao contrário, nos dias que
antecederam a declaração do governador paulista, dava vários sinais de estar muito próximo do
Palácio dos Bandeirantes.
Nas conversas com FHC, Tasso
já vinha sendo estimulado pelo
presidente a ser candidato. Mas,
até que ponto FHC esteve diretamente envolvido com a "operação Covas", que esfria a candidatura José Serra, é um mistério ainda a ser desvendado.
Ao ministro da Saúde, FHC teria dado a entender que a atitude
de Covas o surpreendeu. O presidente e Serra haviam almoçado,
com a presença da primeira-dama, Ruth Cardoso, na terça-feira.
Na quinta, depois do rebuliço
causado por Covas, FHC e Serra
encontraram-se de novo. Dessa
vez, o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio
(PSDB-AM), os acompanhava.
Conversaram sobre a Zona
Franca de Manaus, mas falaram
também sobre sucessão. A conclusão da conversa teria sido na
direção de que o ministro deve ficar calado, na expectativa de que
novos fatos venham a alterar o
quadro hoje favorável a Tasso.
Qualquer sinal do Planalto em
direção a Tasso fecharia a questão, para o bem ou para o mal,
uma vez que uma candidatura definida tanto tempo antes da eleição pode desgastar o candidato.
Raciocínio, aliás, que o próprio
Tasso não se cansa de repetir. O
grande prejudicado por uma antecipação da escolha, entretanto,
seria o próprio FHC, que veria
minguar seu governo a dois anos
do final do mandato.
Por isso, Fernando Henrique e
Serra têm pelo menos um interesse em comum: adiar a definição
do candidato do PSDB. Além do
mais, ao presidente interessa
manter Serra no páreo, mesmo
que no final venha a optar por
Tasso.
Malan
A possibilidade de uma terceira
candidatura -a de Pedro Malan- é hoje considerada remota.
Tanto Serra como Tasso acreditam, reservadamente, que o ministro da Fazenda já cogitou de
ser candidato e que seria o nome
do coração de FHC. Por uma razão: cria do Real, ele é o único que
representaria uma continuidade
do projeto de FHC no poder. Seria
quase um herdeiro natural da era
fernandista.
A doença de Covas, porém, inviabilizou Malan. Não é filiado ao
PSDB e teria muitas dificuldades
para vencer as resistências internas do partido depois que o governador manifestou com todas
as letras um veto a seu nome, mas
não a Serra.
Para este, o tempo é decisivo.
Quanto mais tarde se der a definição, melhor. A incerteza quanto à
evolução da saúde de Covas não
permite saber que influência de
fato exercerá quando o partido
vier a tomar a decisão final.
Do ponto de vista programático, a diferença entre as plataformas de Tasso e Serra resume-se
ao problema regional. Ambos são
favoráveis a mudanças importantes na direção econômica do país.
Críticos de Malan e da política
econômica de FHC, pregam posições tidas genericamente por desenvolvimentistas, como a adoção de uma política industrial e
uma inserção menos submissa do
Brasil aos organismos financeiros
internacionais.
Distingue, porém, o governador
do ministro a ênfase que o primeiro dá à questão nordestina. Tasso
costuma comentar com políticos
próximos que, para Serra, o desenvolvimento do Brasil resolve-se a partir de São Paulo.
O empresário cearense, dono de
um dos maiores grupos econômicos do Estado, por sua vez, é favorável a uma estratégia de desenvolvimento planejado do nordeste. Acredita que o problema da
desigualdade brasileira não se resolverá sem a correção drástica
dos desequilíbrios regionais.
A Folha apurou que Serra, por
sua vez, costuma dizer, em conversas restritas, que Tasso ainda
está apegado a um modelo antigo
de crescimento regional, ancorado em fortes subsídios federais.
São diferenças que, mais adiante, podem ter relevância na escolha do candidato tucano. Por ora,
estão encobertas pela disputa pessoal que Covas deflagrou.
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