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CASO TRT
Apesar de defesa e governo negarem acerto, entendimento tratou da versão que ex-juiz daria sobre ex-assessor de presidente
Acordo prevê que Nicolau preserve EJ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O acordo entre o governo e Nicolau dos Santos Neto para que
ele se entregasse à Polícia Federal
prevê que o ex-juiz preserve
Eduardo Jorge, ex-secretário-geral da Presidência, em seus depoimentos à Justiça.
A negociação foi feita pelo ministro da Justiça, José Gregori,
com o advogado de Nicolau, Alberto Zacharias Toron. A Folha
apurou que os detalhes finais do
entendimento tiveram o conhecimento do presidente Fernando
Henrique Cardoso.
FHC, Gregori e Toron negam o
acerto. Pegaria mal para o governo admitir que está preocupado
com o renascimento do caso EJ e
que negociou com um suspeito
foragido da Justiça durante 227
dias. A prisão preventiva foi decretada em 25 de abril.
O governo, no entanto, aceitou
todas as exigências que Nicolau
fez para se apresentar à PF. As
principais foram não tirar foto algemado e não ser submetido à
imprensa após a sua prisão.
A defesa do ex-juiz, preocupada
com sua execração pública, considerou o acerto uma vitória. Agora, Nicolau deverá ter uma estratégia de defesa concentrada apenas em pedir que se provem as
acusações contra ele, evitando
comprometer outros nomes de
envolvimento no desvio de R$
169,5 milhões da obra superfaturada do TRT-SP.
O governo temia que, uma vez
preso e maltratado, Nicolau decidisse retaliar em seus depoimentos. Feita a prisão, limitará o assunto a uma questão de Justiça e
evitará faturar politicamente.
As principais preocupações são,
pela ordem, com EJ, suspeito de
ter usado sua influência na Secretaria Geral da Presidência para
ajudar Nicolau a liberar recursos
públicos para a obra do TRT-SP, e
com o senador cassado Luiz Estevão, suspeito de ter se beneficiado
de parte do desvio dessas verbas.
O governo avalia que Estevão já
estaria comprometido pelas provas obtidas pelo Ministério Público e que uma revelação incômoda
da parte de Nicolau a seu respeito
pudesse levá-lo a tentar envolver
EJ. Estevão e EJ se dizem amigos e
tinham boa relação quando possuíam cargos públicos.
Em relação a EJ, há ainda o temor de que o ex-juiz pudesse tentar mostrar que tinha uma relação
além da normal entre duas autoridades e que isso pudesse reacender o caso de suspeita de corrupção que mais preocupou FHC em
seus seis anos de governo.
Pelo acerto, as versões iniciais
de Nicolau deverão preservar o
governo. A própria defesa dele
não tem interesse, a princípio, em
envolver EJ e Estevão, pois avalia
que uma atitude agressiva do ex-juiz tenderia mais a prejudicá-lo.
Toron vai se concentrar, obviamente, em tentar tirar seu cliente
da cadeia o mais rápido possível e
em tentar diminuir a eventual
condenação que deve receber.
A defesa usou o trunfo do que
Nicolau sabe para garantir o melhor tratamento possível nas
atuais circunstâncias.
Gregori tem o discurso de que
está cumprindo rigorosamente a
lei -o ex-juiz tem direito a cela
especial, por exemplo- mas o
advogado de Nicolau temia que a
PF o deixasse à mercê da imprensa por alguns momentos.
Toron argumentou que a polícia permitiu que os jornalistas
massacrassem, na sua avaliação, o
ex-senador Luiz Estevão quando
ele foi preso. Queria evitar que isso ocorresse com seu cliente. Alegou que alguns policiais federais
exerceram pressão psicológica indevida sobre as filhas do ex-juiz.
A defesa de Nicolau, que tem insistido que a imprensa e a polícia
estariam extrapolando no tratamento de Nicolau, transformando-o numa espécie de inimigo
número um do país, exigiu que o
ex-juiz se apresentasse ao delegado Roberto Precioso Júnior.
Precioso teria demonstrado, na
visão da defesa de Nicolau, um
comportamento mais profissional. Parte das equipes de busca
PF, contrariada por não ter conseguido prender o ex-juiz, poderia
exibi-lo como um troféu.
O ministro da Justiça comandou durante a sexta-feira os detalhes da entrega, a fim de cumprir
rigorosamente o acerto. A entrega
poderia ter acontecido um ou
dois dias antes, mas Nicolau hesitou, temendo que o acordo pudesse ser quebrado.
Gregori articulou para que a
operação ocorresse antes de viajar
para a Itália, na noite de anteontem. Naquele país, ele participará
de uma conferência e tentará informalmente tratar da eventual
extradição de Salvatore Alberto
Cacciola (caso Marka), foragido
há 143 dias.
Gregori, Agílio e Precioso transportaram o ex-juiz de Bagé (RS) à
carceragem da PF no bairro de
Higienópolis, em São Paulo, sem
expô-lo à imprensa. Exemplo: a
superintendência da PF em São
Paulo despistou a imprensa, colocando o cobertor sobre o corpo de
um policial, que se passou pelo
juiz para entrar no carro. Nicolau
foi levado em um Santana comum, sem cobertor. Se tivesse interesse em faturar politicamente
com a prisão, a PF o teria transportado de carro, sem cobertor.
O ex-juiz também convenceu a
PF a não levá-lo imediatamente
para Brasília, como chegou a planejar o superintendente da PF,
Agílio Monteiro. Nicolau gostaria
de permanecer em São Paulo o
maior tempo que puder para receber a visita da família.
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