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CAMPO MINADO
Em uma semana, duas áreas foram invadidas pelo MST no norte mineiro; locais são alvo de disputa judicial
Invasões ameaçam MG com "novo Pontal"
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizou a segunda invasão em uma semana na região norte de Minas
Gerais. A disputa por 1,015 milhão
de hectares já coloca a região como candidata a "novo Pontal" para o governo petista de Lula.
A referência à área conflituosa
em São Paulo, o Pontal do Paranapanema, se dá tanto pelas alegações de posse de terra entre fazendeiros e militantes do MST como pelo risco de conflitos e a retórica beligerante de lado a lado.
A nova invasão ocorreu anteontem, quando os sem-terra entraram numa área de 9.000 hectares,
em Barreirinho, distrito de Unaí.
A área, desapropriada há 15
anos para fins de reforma agrária,
é objeto de uma disputa judicial
entre o Iter (Instituto de Terras de
Minas Gerais) e cinco fazendeiros
ligados ao Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais,
uma dissidência da Confederação
Nacional da Agricultura).
No município de São Francisco,
a fazenda Catinga, reivindicada
pelo grupo Pontal Empreendimentos, já estava invadida desde
segunda-feira da semana passada
por 170 famílias sem terra.
O diretor-geral do Iter, Marcelo
Resende, 33, disse que a fazenda
Catinga é uma das 36 que o governo mineiro reivindica na Justiça
por falta de documentação.
Os sem-terra são acusados pelo
presidente do Sinapro, Narciso
Rocha Clara, 47, de colocarem fogo em três casas e em outros dois
galpões da propriedade. Rocha
Clara afirma ainda que animais
estão sendo mortos, indiscriminadamente, pelos sem-terrra.
"É um vandalismo guerrilheiro,
que mostra uma violência nunca
antes praticada pelo movimento.
Já incendiaram na Bahia, na fazenda Jacarandá, e agora trazem
sua guerrilha para a Catinga",
afirmou o presidente do Sinapro.
O sindicalista está desde o final
de semana na região, recrutando
fazendeiros para cercar a propriedade. "Só iremos sair da fazenda
depois que a decisão de reintegração de posse for cumprida", disse.
Clédson Mendes, 30, coordenador do MST em Buritis, nega que
o movimento tenha incendiado
casas e matado animais. "Nós colocamos abaixo duas guaritas de
segurança e expulsamos 12 homens que faziam o trabalho de jagunço na área. Foi uma reação à
ameaça de queimarem 100 hectares em lavouras dos sem-terra."
Mendes, que foi um dos coordenadores da invasão da fazenda
dos filhos do presidente Fernando
Henrique Cardoso, em abril em
Buritis, disse que o MST irá enfrentar qualquer tentativa de desocupação por parte dos fazendeiros. "Estaremos preparado para eles", disse Mendes.
Além do conflito entre fazendeiros e o MST, a fazenda Catinga é
também motivo para um conflito
de competência judicial. O juiz de
São Francisco, Richardson Xavier
Brant, determinou reintegração
de posse e notificou o juiz Cássio
Salomé, da Vara de Conflitos
Agrários, de sua decisão.
A PM de Minas Gerais, por determinação do governador Itamar Franco (sem partido), só
cumpre mandados de reintegração determinados por Salomé,
que centraliza as ações sobre conflitos agrários em Minas.
Resende, do Iter, disse que uma
solução negociada para o caso vai
depender da presença do juiz Salomé em São Francisco. "No governo Itamar aconteceram 182
ocupações. Nenhuma precisou a
PM cumprir reintegração. O juiz
da vara de Conflitos Agrários tem
resolvido com soluções negociadas, no próprio local dos conflitos
e essa não vai ser diferente.". O
juiz estava incomunicável ontem.
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