São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2006

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Pilotos do Legacy são recebidos com festa

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A RONKONKOMA

Foi em clima de cinema, daqueles filmes em que heróis americanos são recebidos com festa, crianças de colo, bexigas e cartazes depois de voltarem da guerra, a recepção aos pilotos Joe Lepore, 42, e Jan Paul Paladino, 34, ontem nos EUA. Na recepção, críticas ao controle de tráfego aéreo brasileiro e ao governo pela "detenção ilegal".
O Legacy-600, modelo igual ao jato pilotado pelos dois que colidiu no ar com o Boeing-737 da Gol em 29 de setembro e deixou 154 mortos, pousou pontualmente ao meio-dia (15h em Brasília) no hangar da ExcelAire no aeroporto MacArthur, em Ronkonkoma, Long Island, Estado de Nova York. A viagem durou 23 horas e meia, com uma pausa em Fort Lauderdale (Flórida) para abastecimento.
Sob aplausos de cerca de 200 pessoas (familiares, amigos, funcionários da empresa e políticos), Lepore e Paladino desceram num tapete vermelho.
Abraçaram pais, mulheres e filhos, posaram para fotos e depois ouviram discursos, em cerimônia realizada no hangar. Por orientação dos advogados, não deram declarações.
"Só acredito quando o vir, aí ficarei muito feliz", dizia o pai de Lepore, Antonio, pouco antes da chegada do jato. Após a recepção, foi realizado um almoço fechado para convidados.
O retorno dos pilotos foi saudado em discurso pelo deputado republicano Peter King. "Não há hipótese de que os pilotos vão voltar ao Brasil [eles riem]. O governo dos Estados Unidos vai fazer de tudo para que as acusações sejam derrubadas. Vamos pedir explicações ao Estado brasileiro pela detenção de 70 dias. O Brasil não tinha o direito de mantê-los reféns. Não havia respaldo na lei local, na lei americana, na lei internacional nem nas regras da aviação. A ação foi totalmente ilegal. Não há nada na Constituição brasileira que garantisse isso", disse King.
Robert Torricella, advogado de Lepore e Paladino nos EUA, disse que "não há indicativos de que os pilotos tenham de voltar ao Brasil, e no momento não vão voltar". "Estou surpreso com o indiciamento pela Polícia Federal. A decisão de indiciá-los antes de sequer ouvi-los é inacreditavelmente absurda."
Em nota, a Excel Aire afirmou que "a Polícia Federal brasileira disse ao mundo que quaisquer pilotos que voem sobre o Brasil podem ser acusados de crimes apenas por cumprirem a determinação do controle de tráfego aéreo e as regras internacionais da aviação". "Isso é um precedente alarmante para a comunidade internacional", disse a empresa.
"Está na hora de o governo brasileiro, a Polícia Federal e promotores conduzirem a investigação de maneira profissional, justa e transparente", discursou Bob Sherry, dono da Excel, para os pilotos e a platéia de 200 convidados.
"Tornar o acidente um crime está errado. Isso cria um precedente inaceitável e pode levar a tripulação a não querer cooperar no futuro", avaliou Kenneth Quinn, conselheiro da Flight Safety Foundation, uma agência de segurança de vôo.
Segundo informação do "Jornal Nacional", da TV Globo, a Polícia Federal afirmou que só começou a investigar o acidente por determinação da Justiça Federal. Além disso, disse que o indiciamento dos pilotos é uma decisão do delegado que preside o inquérito.
Na única referência ao acidente com o Boeing-737 da Gol, Sherry, dono da Excel, pediu um minuto de silêncio em respeito às vítimas. A pausa durou 15 segundos.
A volta dos pilotos foi manchete na maioria dos jornais populares do Estado de Nova York. O "Newsday" destacou: "A volta para casa". O "New York Post" colocou no título: "Censura da morte x pilotos".
Os dois pilotos americanos permaneceram no Brasil após o acidente por determinação da Justiça, que apreendeu os passaportes. Na sexta, eles foram indiciados pela PF sob a acusação de "expor a perigo embarcação ou aeronave, na modalidade culposa, agravado pelo resultado morte". A pena prevista é de 1 a 3 anos de prisão.


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