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Pilotos do Legacy são recebidos com festa
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A RONKONKOMA
Foi em clima de cinema, daqueles filmes em que heróis
americanos são recebidos com
festa, crianças de colo, bexigas e
cartazes depois de voltarem da
guerra, a recepção aos pilotos
Joe Lepore, 42, e Jan Paul Paladino, 34, ontem nos EUA. Na
recepção, críticas ao controle
de tráfego aéreo brasileiro e ao
governo pela "detenção ilegal".
O Legacy-600, modelo igual
ao jato pilotado pelos dois que
colidiu no ar com o Boeing-737
da Gol em 29 de setembro e deixou 154 mortos, pousou pontualmente ao meio-dia (15h em
Brasília) no hangar da ExcelAire no aeroporto MacArthur, em
Ronkonkoma, Long Island, Estado de Nova York. A viagem
durou 23 horas e meia, com
uma pausa em Fort Lauderdale
(Flórida) para abastecimento.
Sob aplausos de cerca de 200
pessoas (familiares, amigos,
funcionários da empresa e políticos), Lepore e Paladino desceram num tapete vermelho.
Abraçaram pais, mulheres e
filhos, posaram para fotos e depois ouviram discursos, em cerimônia realizada no hangar.
Por orientação dos advogados,
não deram declarações.
"Só acredito quando o vir, aí
ficarei muito feliz", dizia o pai
de Lepore, Antonio, pouco antes da chegada do jato. Após a
recepção, foi realizado um almoço fechado para convidados.
O retorno dos pilotos foi saudado em discurso pelo deputado republicano Peter King.
"Não há hipótese de que os pilotos vão voltar ao Brasil [eles
riem]. O governo dos Estados
Unidos vai fazer de tudo para
que as acusações sejam derrubadas. Vamos pedir explicações
ao Estado brasileiro pela detenção de 70 dias. O Brasil não
tinha o direito de mantê-los reféns. Não havia respaldo na lei
local, na lei americana, na lei
internacional nem nas regras
da aviação. A ação foi totalmente ilegal. Não há nada na Constituição brasileira que garantisse isso", disse King.
Robert Torricella, advogado
de Lepore e Paladino nos EUA,
disse que "não há indicativos de
que os pilotos tenham de voltar
ao Brasil, e no momento não
vão voltar". "Estou surpreso
com o indiciamento pela Polícia Federal. A decisão de indiciá-los antes de sequer ouvi-los
é inacreditavelmente absurda."
Em nota, a Excel Aire afirmou que "a Polícia Federal brasileira disse ao mundo que
quaisquer pilotos que voem sobre o Brasil podem ser acusados de crimes apenas por cumprirem a determinação do controle de tráfego aéreo e as regras internacionais da aviação".
"Isso é um precedente alarmante para a comunidade internacional", disse a empresa.
"Está na hora de o governo
brasileiro, a Polícia Federal e
promotores conduzirem a investigação de maneira profissional, justa e transparente",
discursou Bob Sherry, dono da
Excel, para os pilotos e a platéia
de 200 convidados.
"Tornar o acidente um crime
está errado. Isso cria um precedente inaceitável e pode levar a
tripulação a não querer cooperar no futuro", avaliou Kenneth
Quinn, conselheiro da Flight
Safety Foundation, uma agência de segurança de vôo.
Segundo informação do
"Jornal Nacional", da TV Globo, a Polícia Federal afirmou
que só começou a investigar o
acidente por determinação da
Justiça Federal. Além disso,
disse que o indiciamento dos
pilotos é uma decisão do delegado que preside o inquérito.
Na única referência ao acidente com o Boeing-737 da Gol,
Sherry, dono da Excel, pediu
um minuto de silêncio em respeito às vítimas. A pausa durou
15 segundos.
A volta dos pilotos foi manchete na maioria dos jornais
populares do Estado de Nova
York. O "Newsday" destacou:
"A volta para casa". O "New
York Post" colocou no título:
"Censura da morte x pilotos".
Os dois pilotos americanos
permaneceram no Brasil após o
acidente por determinação da
Justiça, que apreendeu os passaportes. Na sexta, eles foram
indiciados pela PF sob a acusação de "expor a perigo embarcação ou aeronave, na modalidade culposa, agravado pelo resultado morte". A pena prevista
é de 1 a 3 anos de prisão.
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