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Mensalão do DEM pagava até churrascos de Arruda
R$ 7 mi desviados de estatal serviram para bancar gastos de casa usada por governador
Assessoria de Arruda disse que o governador declarou os gastos eleitorais à Justiça e que não conhece servidor que atuava como "caseiro"
HUDSON CORRÊA
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos entregues à Polícia Federal pelo pivô do mensalão do DEM, Durval Barbosa,
indicam que dinheiro público
bancou despesas de uma casa
usada pelo governador José
Roberto Arruda (DEM-DF) na
campanha eleitoral de 2006 e
durante a transição de governo.
Um funcionário do governo
do Distrito Federal, que atuava
como uma mistura de caseiro e
gerente da casa, cobria os gastos -que incluíam churrasqueiro, linguiça e coxinha de
frango. Segundo Barbosa, até
R$ 7 milhões de dinheiro desviado da estatal do DF que presidia, a Codeplan, foram parar
na casa. Cerca de R$ 400 mil estão discriminados em recibos e
notas fiscais datadas de outubro a dezembro daquele ano.
Barbosa guardou os documentos, que foram assinados
pelo "caseiro" Tales Souza Ferreira. Ele ocupava cargo de confiança na Codeplan, então dirigida por Barbosa -que deixou
Arruda na berlinda com um vídeo mostrando o então candidato recebendo dinheiro vivo.
Ferreira segue na estatal e
não quis dar entrevistas. Após a
revelação do mensalão, há duas
semanas, pediu licença e só volta a trabalhar daqui a dez dias.
A Folha apurou que ele entrou na estatal como motorista.
Depois, ganhou cargo de confiança de assessor com o segundo melhor salário da Codeplan:
R$ 6.996. Hoje vive numa área
de Brasília em que as casas não
custam menos de R$ 600 mil.
Ferreira, conforme registro
em cartório, comprou o terreno oficialmente por R$ 90,9
mil no início de 2004. Naquele
ano, segundo Barbosa, começou a ser montado o esquema
para financiar a campanha do
então deputado federal Arruda.
Quando assinava recibos ou
pegava notas fiscais, ele dava o
endereço do QG de campanha
de Arruda no Lago Sul. Como o
"Painel" da Folha revelou na
semana passada, Barbosa disse
que o local era chamado de "casa dos artistas", por abrigar as
gravações eleitorais de Arruda.
Casa é de deputado
A casa pertence ao deputado
Osório Adriano (DEM-DF).
São seis quartos com quatro
ambientes cada um (sala, closet, varanda e dormitório), três
deles com banheira. Há uma
cascata na sala, além de piscina
e churrasqueira. Após Arruda
vencer a eleição no primeiro
turno, o local passou a ser usado para transição de governo.
Segundo Barbosa, a Codeplan cobria gastos variados, da
gravação dos programas de TV
do DEM até festinha de fim de
ano para funcionários da casa.
Em 22 de dezembro de 2006,
Ferreira pagou, conforme recibos, R$ 80 pelos serviços de um
churrasqueiro. No dia seguinte
já havia liberado mais R$ 500
para "despesas de confraternização de empregados da casa".
No supermercado, comprou
quatro quilos de coxinha e três
quilos de linguiça toscana. Há
ainda recibos de compras de rosas, vassouras e verduras.
Em outro caso documentando, a despesa com alimentação
referente ao mês de novembro
de 2006 atingiu R$ 64.520. O
"caseiro" também pagava vale-transporte a nove funcionários
do local, o que custou R$ 1.074
na primeira quinzena de dezembro de 2006. Os gastos
maiores eram com segurança
(R$ 54 mil em um recibo) e com
pagamento de cerca de R$ 200
mil com a AB Produções, produtora de vídeo que trabalhou
na campanha de Arruda.
A assessoria de Arruda informou que declarou os gastos
eleitorais à Justiça e não conhece Tales Ferreira. A AB Produções não ligou de volta.
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