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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Dejetos a granel

A determinação do governo Lula de não incomodar os do governo passado, a ponto de não dar satisfações aos cidadãos sobre o estado em que encontrou o país, de nada adiantou, porque os dejetos estão saindo pelo ladrão (com ou sem trocadilho).
E saindo de um modo que, em pelo menos um caso, atingiu o PT e o governo. É o conjunto de transcrições de conversas telefônicas em que o peemedebista Geddel Vieira Lima trata desabridamente, com o senador Renan Calheiros e outros, de tomação de dinheiro por intermédio de ministérios do governo anterior; interfere em contratações de obras, como lobista de empreiteiras, e trata de arrancar verbas dos cofres públicos para interesses muito privados.
Foi por esse Geddel Vieira Lima que os petistas, há menos de uma semana, reviraram a eleição da Mesa da Câmara, até fazê-lo primeiro-secretário, cargo incumbido de lidar com o cofre da Casa. E agora, o que fará o PT? O caso é, sem qualquer dúvida, de improbidade extrema e, portanto, justificadora de cassação do mandato.
O relatório atribuído à Polícia Federal na "IstoÉ", sobre a remessa para o exterior de US$ 56 milhões, ou mais, não é menos grave, mas é menos inquietante. O acusado da remessa, Ricardo Sérgio, não é conhecido só como coletor de dinheiro em campanhas de Fernando Henrique e José Serra. Ou não só como o então diretor do Banco do Brasil incumbido de montar o esquema que predeterminou o resultado na privatização da Vale. Ricardo Sérgio é conhecido também como merecedor de gentilezas muito especiais na Polícia Federal, durante o governo passado, para manter em marcha lenta, quando não em parada compulsória, os inquéritos em que é réu.
O que não inquieta, neste caso, é o novo Ministério da Justiça: se o relatório da PF estava engavetado há seis meses, como diz "IstoÉ", com o ministro Márcio Thomaz Bastos será investigado tudo o que deva sê-lo.

Tenha paciência
No encontro com petistas, sexta-feira, Lula lhes ofereceu, sobre a política econômica do seu governo, deu explicações que satisfazem aos que querem ficar satisfeitos. Coisas assim:
"Se tivéssemos escolhido um economista petista para o Banco Central, talvez o mercado reagisse mal e o dólar explodisse, para R$ 5, R$ 6".
Mas ninguém imagina, ou propõe, que a alternativa seja um economista petista ou um presidente de banco americano.
Na mesma linha, Lula recomenda aos críticos da política Malan/Palocci: "Um pouco de paciência não faz mal a ninguém".
Por que, então, a sua falta de paciência com a fome? Começar o redirecionamento da política econômica seria mais eficaz dos projetos contra a fome e contra todos os demais males sociais. Ou, nas palavras do candidato Lula: "Mudar a política econômica é a tarefa já no primeiro dia de governo". Que impaciente candidato foi o paciente presidente.


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