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JANIO DE FREITAS
Dejetos a granel
A determinação do governo Lula de não incomodar os do governo passado, a
ponto de não dar satisfações aos
cidadãos sobre o estado em que
encontrou o país, de nada
adiantou, porque os dejetos estão saindo pelo ladrão (com ou
sem trocadilho).
E saindo de um modo que, em
pelo menos um caso, atingiu o
PT e o governo. É o conjunto de
transcrições de conversas telefônicas em que o peemedebista
Geddel Vieira Lima trata desabridamente, com o senador Renan Calheiros e outros, de tomação de dinheiro por intermédio de ministérios do governo
anterior; interfere em contratações de obras, como lobista de
empreiteiras, e trata de arrancar verbas dos cofres públicos
para interesses muito privados.
Foi por esse Geddel Vieira Lima que os petistas, há menos de
uma semana, reviraram a eleição da Mesa da Câmara, até fazê-lo primeiro-secretário, cargo
incumbido de lidar com o cofre
da Casa. E agora, o que fará o
PT? O caso é, sem qualquer dúvida, de improbidade extrema e,
portanto, justificadora de cassação do mandato.
O relatório atribuído à Polícia
Federal na "IstoÉ", sobre a remessa para o exterior de US$ 56
milhões, ou mais, não é menos
grave, mas é menos inquietante.
O acusado da remessa, Ricardo
Sérgio, não é conhecido só como
coletor de dinheiro em campanhas de Fernando Henrique e
José Serra. Ou não só como o então diretor do Banco do Brasil
incumbido de montar o esquema que predeterminou o resultado na privatização da Vale.
Ricardo Sérgio é conhecido também como merecedor de gentilezas muito especiais na Polícia
Federal, durante o governo passado, para manter em marcha
lenta, quando não em parada
compulsória, os inquéritos em
que é réu.
O que não inquieta, neste caso, é o novo Ministério da Justiça: se o relatório da PF estava
engavetado há seis meses, como
diz "IstoÉ", com o ministro
Márcio Thomaz Bastos será investigado tudo o que deva sê-lo.
Tenha paciência
No encontro com petistas, sexta-feira, Lula lhes ofereceu, sobre a política econômica do seu
governo, deu explicações que satisfazem aos que querem ficar
satisfeitos. Coisas assim:
"Se tivéssemos escolhido um
economista petista para o Banco Central, talvez o mercado
reagisse mal e o dólar explodisse, para R$ 5, R$ 6".
Mas ninguém imagina, ou
propõe, que a alternativa seja
um economista petista ou um
presidente de banco americano.
Na mesma linha, Lula recomenda aos críticos da política
Malan/Palocci: "Um pouco de
paciência não faz mal a ninguém".
Por que, então, a sua falta de
paciência com a fome? Começar
o redirecionamento da política
econômica seria mais eficaz dos
projetos contra a fome e contra
todos os demais males sociais.
Ou, nas palavras do candidato
Lula: "Mudar a política econômica é a tarefa já no primeiro
dia de governo". Que impaciente candidato foi o paciente presidente.
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