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NO AR
Nuvens sobre o palácio
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Os técnicos do FMI chegaram ontem ao Brasil. E
a Globo anunciou "nuvens pesadas sobre o Palácio do Planalto".
Não é o FMI que traz as nuvens. Pelo menos não na forma
de crítica. Como registrou o Jornal Nacional, o Fundo elogiou
fartamente -como era de esperar- o aumento da meta de superávit.
As nuvens sobre o palácio de
Lula são brasileiras, à esquerda
e à direita.
Lula pode ter aberto a reunião
ministerial de ontem lembrando como foram produtivos seus
primeiros 40 dias.
Pode ter sublinhado a "prioridade absoluta" à área social, livre do corte bilionário que
anunciou.
Pode também ter anunciado
14 medidas, da desapropriação
de terras ao leite subvencionado, para apresentar mais do que
más notícias.
Pode, por fim, ter jogado a
maior parte da culpa pelas más
notícias nas costas de FHC e sua
"subestimação de despesas" no
Orçamento.
Mas nuvens de fumaça não escondem o sumiço de R$ 14 bilhões, em cortes no Orçamento.
E a "nuvem pesada" de críticas
se formou.
À direita, dois tucanos tripudiaram os cortes no JN. E um pefelista apareceu para reclamar
do sacrifício das emendas dos
parlamentares. À esquerda, um
dos quatro radicais petistas surgiu na mesma Globo para fazer
mais ameaças.
Ainda na Globo, o presidente
do PT, José Genoino, pelo menos
não evitou a palavra: o nome é
"arrocho".
Nem ele nem Alexandre Garcia, que ecoava a repercussão no
exterior de que "este governo
não é produto de uma esquerda
arcaica, que ignora o mercado: é
o iniciador da política econômica mais ortodoxa que o Brasil já
conheceu".
Soou como elogio.
A Fox News incorporou o alerta de ataque terrorista de Bush.
Está na tela, sem parar, um
alarmante selo laranja dizendo
que o risco é alto.
A histeria da Fox News, que
ajuda a tornar a guerra um fato
inevitável, contrasta com a
CNN da primeira Guerra do
Golfo, que tinha um correspondente em Bagdá e era acusada
de "traição".
Ted Turner, criador da CNN e
afastado da direção da AOL Time Warner, corporação que
comprou o canal, lamentava
ontem a venda e se debatia contra a guerra.
Diz que agora, se perdeu o
pouco poder que tinha na corporação, ganhou "o poder da
língua":
- Eu posso falar.
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