São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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Irritada, esquerda do PT rebate críticas de Lula ao partido

Presidente pediu mais unidade e que legenda pare de "dar tiro no próprio pé" em vez de mirar nos inimigos políticos

Diretório Nacional do PT abre reunião em Salvador repercutindo declarações do presidente; governadora do Pará diz que Lula foi infeliz

DOS ENVIADOS A SALVADOR

A abertura de encontro do Diretório Nacional do PT, ontem pela manhã, em Salvador (BA), se transformou em um ato de repúdio de correntes à esquerda do partido ao "pito" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou nos petistas na noite anterior, também na capital baiana.
Em jantar para comemorar os 27 anos de aniversário do partido, Lula fez duro discurso em que condenou a "luta interna" e disse que os petistas muitas vezes são mais contundentes nas críticas à sua gestão e a seus colegas do que as próprias CPIs que devassaram seu primeiro mandato.
Integrantes do partido concordaram que é preciso unidade, mas afirmaram que o discurso desagradou. A fala acertou em cheio o grupo que ontem lançou o texto "Mensagem ao Partido", um manifesto pela reformulação da sigla e pela implosão do Campo Majoritário, corrente da qual fazem parte o próprio Lula e o presidente da legenda, Ricardo Berzoini.
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, da corrente Democracia Socialista, afirmou que Lula foi "infeliz em alguns momentos" e que suas declarações podem "criar obstáculos" para o Congresso Nacional da sigla, a ser realizado em julho.
Para o deputado José Eduardo Cardozo, que assina a "Mensagem", "trocar idéias não é dar tiros, não é matar, não é aniquilar". Ele se referia a um trecho do discurso do presidente.
Mesmo petistas mais alinhados ao governo ficaram desconfortáveis com o discurso. Eles identificaram recados duros ao ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) e Berzoini.
Após o jantar, a piada entre os petistas era que o sermão transformara o evento na "Escolinha do Professor Lula". Com a voz embargada e gesticulando muito, Lula, por quase meia hora, pregou a união do partido e pediu um combate aos "inimigos" externos.
"Vejo na imprensa uma disputa no PT e eu me pergunto, Ricardo [Berzoini, presidente do partido], por que a gente não sabe levantar um pouco a metralhadora para atingir os inimigos e atiramos tanto nos nossos pés. A impressão que eu tenho é que nós não gostamos dos pés, que nós gostamos é de nos triturar, porque, se a gente levanta a metralhadora na altura do peito, a gente vai acertar um adversário", disse Lula.
Ao dizer ao PT que é preciso obter maioria no Congresso, porque não pode governar por "decreto supremo", Lula afirmou: "O exercício da democracia é complicado, mas é melhor". "Não me peçam para que o governo entre na disputa do PT, na briga do PT. Não vamos entrar. Embora no meu sangue corra o sangue do PT, não me peçam para deixar de governar o país para pensar nos problemas do nosso partido", disse.
Para Lula, o PT deve identificar "quem são os inimigos na Câmara e no Senado" e se esforçar para ajudá-lo a "construir maioria" no Congresso. Ele pediu empenho na aprovação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e disse que não poderia pensar nas "pendengas internas" da sigla.
O ministro Tarso Genro participou do lançamento da "Mensagem", que teve a sua assinatura. Ele tentou minimizar o impacto do discurso de Lula sobre as correntes que pregam a renovação do PT e fazem a crítica no âmbito da ética.
"O presidente fez questão de dizer que não tomava partido. A fala do presidente estimula o debate", disse Tarso.

José Dirceu
O ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado José Dirceu, cujo projeto de anistia vem causando polêmica dentro do PT, acompanhou o discurso de Lula em uma mesa a poucos metros do palco, mandou um beijo para a primeira-dama, Marisa Letícia, que retribuiu.
"Lula fez certo, está pensando na sua missão que é governar o Brasil", disse o ex-ministro, cassado pela Câmara na esteira do mensalão. Durante o discurso, o presidente citou a presença de Dirceu no evento.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, CONRADO CORSALETTE E KENNEDY ALENCAR)

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