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Irritada, esquerda do PT rebate críticas de Lula ao partido
Presidente pediu mais unidade e que legenda pare de "dar tiro no próprio pé" em vez de mirar nos inimigos políticos
Diretório Nacional do PT abre reunião em Salvador repercutindo declarações do presidente; governadora do Pará diz que Lula foi infeliz
DOS ENVIADOS A SALVADOR
A abertura de encontro do
Diretório Nacional do PT, ontem pela manhã, em Salvador
(BA), se transformou em um
ato de repúdio de correntes à
esquerda do partido ao "pito"
que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva passou nos petistas na noite anterior, também
na capital baiana.
Em jantar para comemorar
os 27 anos de aniversário do
partido, Lula fez duro discurso
em que condenou a "luta interna" e disse que os petistas muitas vezes são mais contundentes nas críticas à sua gestão e a
seus colegas do que as próprias
CPIs que devassaram seu primeiro mandato.
Integrantes do partido concordaram que é preciso unidade, mas afirmaram que o discurso desagradou. A fala acertou em cheio o grupo que ontem lançou o texto "Mensagem
ao Partido", um manifesto pela
reformulação da sigla e pela implosão do Campo Majoritário,
corrente da qual fazem parte o
próprio Lula e o presidente da
legenda, Ricardo Berzoini.
A governadora do Pará, Ana
Júlia Carepa, da corrente Democracia Socialista, afirmou
que Lula foi "infeliz em alguns
momentos" e que suas declarações podem "criar obstáculos"
para o Congresso Nacional da
sigla, a ser realizado em julho.
Para o deputado José Eduardo Cardozo, que assina a "Mensagem", "trocar idéias não é dar
tiros, não é matar, não é aniquilar". Ele se referia a um trecho
do discurso do presidente.
Mesmo petistas mais alinhados ao governo ficaram desconfortáveis com o discurso. Eles
identificaram recados duros ao
ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) e Berzoini.
Após o jantar, a piada entre
os petistas era que o sermão
transformara o evento na "Escolinha do Professor Lula".
Com a voz embargada e gesticulando muito, Lula, por quase
meia hora, pregou a união do
partido e pediu um combate
aos "inimigos" externos.
"Vejo na imprensa uma disputa no PT e eu me pergunto,
Ricardo [Berzoini, presidente
do partido], por que a gente não
sabe levantar um pouco a metralhadora para atingir os inimigos e atiramos tanto nos
nossos pés. A impressão que eu
tenho é que nós não gostamos
dos pés, que nós gostamos é de
nos triturar, porque, se a gente
levanta a metralhadora na altura do peito, a gente vai acertar
um adversário", disse Lula.
Ao dizer ao PT que é preciso
obter maioria no Congresso,
porque não pode governar por
"decreto supremo", Lula afirmou: "O exercício da democracia é complicado, mas é melhor". "Não me peçam para que
o governo entre na disputa do
PT, na briga do PT. Não vamos
entrar. Embora no meu sangue
corra o sangue do PT, não me
peçam para deixar de governar
o país para pensar nos problemas do nosso partido", disse.
Para Lula, o PT deve identificar "quem são os inimigos na
Câmara e no Senado" e se esforçar para ajudá-lo a "construir maioria" no Congresso.
Ele pediu empenho na aprovação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e disse
que não poderia pensar nas
"pendengas internas" da sigla.
O ministro Tarso Genro participou do lançamento da
"Mensagem", que teve a sua assinatura. Ele tentou minimizar
o impacto do discurso de Lula
sobre as correntes que pregam
a renovação do PT e fazem a
crítica no âmbito da ética.
"O presidente fez questão de
dizer que não tomava partido.
A fala do presidente estimula o
debate", disse Tarso.
José Dirceu
O ex-ministro da Casa Civil e
ex-deputado José Dirceu, cujo
projeto de anistia vem causando polêmica dentro do PT,
acompanhou o discurso de Lula em uma mesa a poucos metros do palco, mandou um beijo
para a primeira-dama, Marisa
Letícia, que retribuiu.
"Lula fez certo, está pensando na sua missão que é governar o Brasil", disse o ex-ministro, cassado pela Câmara na esteira do mensalão. Durante o
discurso, o presidente citou a
presença de Dirceu no evento.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, CONRADO CORSALETTE E KENNEDY ALENCAR)
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