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Agências de turismo agora aliciam trabalhador rural
Nova versão do "gato" vende pacotes para interessados em atuar em frentes de trabalho
Manobra mantém oculto o recrutamento irregular; aliciados são submetidos
a condições degradantes para pagar as passagens
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Figura típica do trabalho
análogo à escravidão, o "gato"
(agenciador de mão-de-obra)
ganhou uma nova versão. Agora, são agências de turismo comuns que têm aliciado trabalhadores, vendido para eles
"pacotes" e os levado até frentes de trabalho rural em outros
Estados, onde, por vezes, se
submetem a condições degradantes para pagar a passagem.
Segundo o Ministério Público do Trabalho, a participação
das empresas na cadeia escravagista é uma conseqüência do
aumento da fiscalização, que
reprimiu o aliciamento, crime
punido com até três anos de detenção, e levou o típico "gato"
-pessoa que recruta trabalhadores- a entrar em extinção.
A idéia é dificultar a configuração do recrutamento irregular, já que, uma vez travestido
de turista, o "passageiro" não
precisa apresentar documento
de registro profissional, no caso
de o ônibus sofrer uma blitz.
Empresas de turismo não podem se destinar a outro fim, sob
pena de multa e até da suspensão das atividades.
Algumas operadoras já sabem em que épocas e regiões
haverá colheita, quando as vagas aumentam. Em algumas
culturas, como a da cana, elas
chegam a se comunicar com os
fazendeiros, para saber quantas pessoas serão necessárias.
Para recrutar a mão-de-obra,
as empresas focam os anúncios
em cidades do interior de Estados nordestinos, como Maranhão e Piauí, onde há oferta.
A prática foi verificada há
cerca de duas semanas em uma
propriedade de Tapurah (MT),
arrendada pelo grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, primo do
governador de Mato Grosso,
Blairo Maggi (PR), onde foi flagrado trabalho degradante.
Boa parte dos 41 libertados
saiu da região de Presidente
Dutra (MA), em ônibus da empresa Brasil Turismo, que atua
tanto na cidade maranhense
quanto em Sorriso (MT), onde
os trabalhadores foram deixados antes de seguir à fazenda.
Na fazenda arrendada por
Eraí, os trabalhadores ouviram,
em suas cidades, promessas de
vagas em carros com alto-falantes e propagandas nas rádios. Pela viagem, disseram ter
gasto valores entre R$ 200 e R$
350. Não sabiam o que iriam fazer nem em que propriedade.
Nenhum contrato foi assinado.
Aos que não tinham o dinheiro, a Brasil Turismo permitiu
que pagassem após conseguir
vaga. José Pedro dos Reis, procurador-chefe do Ministério
Público do Trabalho em Mato
Grosso, diz que a dívida era quitada com a dona de uma pousada de Sorriso, que os acolhia.
Segundo o auditor-fiscal Valdinei Arruda, da Superintendência Regional do Trabalho de
Mato Grosso, a atuação de
agências para aliciar trabalhadores é "rotineira". "Os veículos são registrados como sendo
de turismo, e fica difícil fazer o
vínculo [da ilegalidade]."
Regisvan Soares de Andrade,
chefe da divisão de combate ao
crime da Polícia Rodoviária Federal, afirma que a prática é
uma "evolução" do "gato".
"Quando a gente aperta de um
lado, a criminalidade evolui."
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