São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Lula ataca imprensa e diz que "povo não é marionete"

Para presidente, mídia não deu chance para prefeitos "mostrarem que não são ladrões"

Ao discursar para plateia de cerca de 4.000 prefeitos, petista afirma que corta "até batom de dona Dilma", mas não suspende obras do PAC


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante de uma plateia de cerca de 4.000 dos 5.564 prefeitos do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a imprensa ao rejeitar o tom eleitoral do encontro organizado pelo governo federal, mas fez promessas típicas de campanha, sobretudo ao dizer que pode cortar de tudo no governo, "até o batom" da ministra Dilma Rousseff, menos obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Lula foi aplaudido no evento, mas o "pacote de bondades" anunciado frustrou parte dos presentes. "Os prefeitos queriam medidas que aumentassem a arrecadação e dessem maior flexibilidade para enfrentar a crise. Mas o governo quer empurrar programas que podem desequilibrar ainda mais as contas", afirmou, ao final, Paulo Ziulkoski, presidente da CNM (Confederação Nacional de Municípios).
As seis medidas desse "pacote de bondades", nem todas inéditas, foram associadas na véspera pela imprensa à possível candidatura da ministra Dilma à Presidência em 2010, o que irritou Lula. "Fiquei triste como leitor porque estão abusando de minha inteligência. Tem gente que pensa que o povo é marionete, é vaca de presépio. Disseram que este ato eu ia fazer o pacote da bondade e que o presidente vai dar dinheiro para prefeito bandido. Como é fácil julgar as pessoas. Não deram nem sequer a oportunidade para vocês [prefeitos] mostrarem que não são os ladrões que escrevem que vocês são."
Lula prosseguiu: "Não é possível que a gente possa se calar diante de tamanha ofensa. Disseram que é um ato para promover dona Dilma Rousseff. São pessoas pequenas. Eu, graças a Deus na minha vida, nunca tive favor de ser eleito porque a imprensa me ajudou".
Apesar de negar o tom eleitoral no discurso de 50 minutos, Lula fez referências positivas à ministra e atacou indiretamente o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) pelo índice de analfabetismo em São Paulo.
Em uma série de autoelogios, o presidente afirmou que "nunca antes na história deste país" os prefeitos tiveram tantas políticas sociais e obras públicas viabilizadas pela União. A frase foi a introdução para falar do PAC, carro-chefe da pré-campanha de Dilma. Apesar da ênfase dada por Lula ao principal programa do seu segundo mandato, o PAC gastou até agora só 40% de seu orçamento original.
Entre os seis atos assinados por Lula está a medida provisória que possibilita o parcelamento de débitos com o INSS em 20 anos, solução adotada quatro vezes nos últimos 12 anos e que ainda não resolveu o problema -a dívida só cresce.
Os prefeitos, porém, esperavam mais, ao se deslocarem até Brasília para ouvir Lula. "Para mim o governo só reassume o compromisso de que os programas vão chegar. O PAC na minha região, o Jequitinhonha, ainda não é realidade", disse o prefeito de Francisco Badaró (MG), José Oliveira (PDT), lembrando-se de que já recusou o programa Caminho da Escola. "Esse não é de agora."
Um dos principais argumentos do Planalto para realizar o evento foi o de que ele seria uma forma de "apresentar" os diferentes programas do Executivo aos recém-empossados. Cerca de 40% dos prefeitos foram reeleitos em 2008.
No discurso, Lula reclamou da burocracia na relação entre União e municípios e citou as enchentes em Santa Catarina como exemplo da dificuldade de repassar recursos, mesmo em meio a catástrofes.
O evento, organizado pelo governo, se sobrepõe à tradicional marcha dos prefeitos, que ocorria todos os anos. Ontem, no palco, o clima foi de elogios ao Planalto, exceto no discurso de Ziulkoski. "Não dá mais para que Brasília tome a decisão e os prefeitos tenham que assumir. Vamos fazer enfrentamento contra o INSS para que pare de abocanhar a parte dos municípios", disse. Ele foi aplaudido de pé pelos prefeitos. (SIMONE IGLESIAS, LETÍCIA SANDER E FERNANDA ODILLA)


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