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Lula ataca imprensa e diz que "povo não é marionete"
Para presidente, mídia não deu chance para prefeitos "mostrarem que não são ladrões"
Ao discursar para plateia de cerca de 4.000 prefeitos, petista afirma que corta "até batom de dona Dilma", mas não suspende obras do PAC
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante de uma plateia de cerca de 4.000 dos 5.564 prefeitos
do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem
a imprensa ao rejeitar o tom
eleitoral do encontro organizado pelo governo federal, mas
fez promessas típicas de campanha, sobretudo ao dizer que
pode cortar de tudo no governo, "até o batom" da ministra
Dilma Rousseff, menos obras
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Lula foi aplaudido no evento,
mas o "pacote de bondades"
anunciado frustrou parte dos
presentes. "Os prefeitos queriam medidas que aumentassem a arrecadação e dessem
maior flexibilidade para enfrentar a crise. Mas o governo
quer empurrar programas que
podem desequilibrar ainda
mais as contas", afirmou, ao final, Paulo Ziulkoski, presidente da CNM (Confederação Nacional de Municípios).
As seis medidas desse "pacote de bondades", nem todas
inéditas, foram associadas na
véspera pela imprensa à possível candidatura da ministra
Dilma à Presidência em 2010, o
que irritou Lula. "Fiquei triste
como leitor porque estão abusando de minha inteligência.
Tem gente que pensa que o povo é marionete, é vaca de presépio. Disseram que este ato eu ia
fazer o pacote da bondade e que
o presidente vai dar dinheiro
para prefeito bandido. Como é
fácil julgar as pessoas. Não deram nem sequer a oportunidade para vocês [prefeitos] mostrarem que não são os ladrões
que escrevem que vocês são."
Lula prosseguiu: "Não é possível que a gente possa se calar
diante de tamanha ofensa. Disseram que é um ato para promover dona Dilma Rousseff.
São pessoas pequenas. Eu, graças a Deus na minha vida, nunca tive favor de ser eleito porque a imprensa me ajudou".
Apesar de negar o tom eleitoral no discurso de 50 minutos,
Lula fez referências positivas à
ministra e atacou indiretamente o governador José Serra
(PSDB) e o prefeito Gilberto
Kassab (DEM) pelo índice de
analfabetismo em São Paulo.
Em uma série de autoelogios,
o presidente afirmou que "nunca antes na história deste país"
os prefeitos tiveram tantas políticas sociais e obras públicas
viabilizadas pela União. A frase
foi a introdução para falar do
PAC, carro-chefe da pré-campanha de Dilma. Apesar da ênfase dada por Lula ao principal
programa do seu segundo mandato, o PAC gastou até agora só
40% de seu orçamento original.
Entre os seis atos assinados
por Lula está a medida provisória que possibilita o parcelamento de débitos com o INSS
em 20 anos, solução adotada
quatro vezes nos últimos 12
anos e que ainda não resolveu o
problema -a dívida só cresce.
Os prefeitos, porém, esperavam mais, ao se deslocarem até
Brasília para ouvir Lula. "Para
mim o governo só reassume o
compromisso de que os programas vão chegar. O PAC na minha região, o Jequitinhonha,
ainda não é realidade", disse o
prefeito de Francisco Badaró
(MG), José Oliveira (PDT),
lembrando-se de que já recusou o programa Caminho da
Escola. "Esse não é de agora."
Um dos principais argumentos do Planalto para realizar o
evento foi o de que ele seria
uma forma de "apresentar" os
diferentes programas do Executivo aos recém-empossados.
Cerca de 40% dos prefeitos foram reeleitos em 2008.
No discurso, Lula reclamou
da burocracia na relação entre
União e municípios e citou as
enchentes em Santa Catarina
como exemplo da dificuldade
de repassar recursos, mesmo
em meio a catástrofes.
O evento, organizado pelo
governo, se sobrepõe à tradicional marcha dos prefeitos,
que ocorria todos os anos. Ontem, no palco, o clima foi de elogios ao Planalto, exceto no discurso de Ziulkoski. "Não dá
mais para que Brasília tome a
decisão e os prefeitos tenham
que assumir. Vamos fazer enfrentamento contra o INSS para que pare de abocanhar a parte dos municípios", disse. Ele
foi aplaudido de pé pelos prefeitos.
(SIMONE IGLESIAS, LETÍCIA SANDER E FERNANDA ODILLA)
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