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CAPITALIZAÇÃO
Para procuradora, Grupo Silvio Santos fez "apropriação indevida" de US$ 1 bilhão em 11 anos
Parecer vê Tele Sena como "aventura"
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
Em parecer emitido na última
segunda-feira, o Ministério Público Federal acusou a Liderança Capitalização, empresa do Grupo
Silvio Santos, de "apropriação indevida" de US$ 1 bilhão nos últimos 11 anos -R$ 2,3 bilhões em
valores de hoje- dos compradores de cartelas da Tele Sena.
A procuradora regional da República Maria Iraneide O. Santoro Facchini concluiu que a Tele
Sena não funciona como título de
capitalização, objetivo para a qual
foi criada e aprovada oficialmente
pelo governo em 1991, mas como
jogo de azar comum.
Segundo o texto do parecer, a
Tele Sena é uma aventura que
descapitaliza a população carente
e enriquece o Grupo Silvio Santos.
A legislação federal não permite
exploração de loterias pela iniciativa privada -a ação é exclusiva
do poder público, encarregado de
repassar um percentual da arrecadação para programas sociais.
"É sabido que -como a publicidade maciça e enganosa iludia
os incautos "investidores", mas interessados no aspecto do jogo de
azar, pressurosos de, num passe
de mágica, obter prosperidade-
certamente [os compradores" jogavam fora a cartela, sem reclamar a devolução da metade "capitalizada'", diz o parecer.
O que ocorre com a Tele Sena,
segundo a procuradora, é o mesmo que foi registrado no caso do
Papa-Tudo, suposto título de capitalização do especulador Arthur
Falk, que sofreu intervenção da
Susep (Superintendência de Seguros Privados e Capitalização).
No caso do Papa-Tudo, divulgado pela TV Globo, cerca de 40%
dos "investidores" não resgatavam os títulos, pois, a exemplo da
Tele Sena, achavam que estavam
participando apenas de um jogo.
Estimativa
O cálculo sobre a apropriação
indevida por parte do Grupo Sílvio Santos foi feito nessa mesma
base, de acordo com o Ministério
Público. O faturamento total da
Tele Sena desde 91 foi de R$ 5,75
bilhões, segundo informou a Liderança Capitalização à Justiça.
Se pelo menos 40% dos compradores não recuperaram seus
títulos, a empresa ficou com R$
2,3 bilhões, o que é irregular. O dinheiro não resgatado deveria ser
transferido a algum fundo público que beneficiasse a população.
Segundo especialistas, essa estimativa (40%) é tímida. Avalia-se
que, por causa do valor insignificante dos resgates, 95% dos compradores das cartelas acabam não
recuperando os recursos.
"Como a legislação não permite
loteria de propriedade privada,
criou-se essa desculpa para legalizar o jogo de azar", diz o advogado Luiz Nogueira, que representa
o ex-deputado estadual Antonio
Carlos Tonin (PMDB), autor da
ação que resultou no processo
contra a Tele Sena.
Pelas regras aprovadas pelo governo, ao final de um ano o comprador tem direito a resgatar 50%
do que gastou, com juros (0,01%)
e correção monetária. A cartela
custa R$ 5, o que garante a recuperação de cerca de R$ 2,60.
O processo tramita desde 92.
Em 97, o juiz federal João Batista
Gonçalves, da 6ª Vara, condenou
a Liderança, anulando a autorização do governo para o suposto título de capitalização.
Segundo a sentença, a Tele Sena
não passa de jogo de azar travestido de título de capitalização. Os
réus recorreram da decisão. O caso deve ser julgado pelo TRF, em
São Paulo, nos próximos dias.
O Ministério Público emitiu o
seu parecer por causa de embargos infringentes (contestações a
partes do processo) que foram feitos pelo autor da ação. Embora tenha condenado a Tele Sena em
primeira instância, a Justiça tem
entendido como legal o contrato,
para venda de cartelas, do grupo
Sílvio Santos com a ECT (Empresa Brasileira de Correios).
No seu parecer, a procuradora
afirma que o contrato é lesivo.
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